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Carioca cria festival de gastronomia virtual em meio à pandemia

Festival gastronômico Banho Maria virtual reúne chefes e anima quarentena - Reprodução/Instagram
Festival gastronômico Banho Maria virtual reúne chefes e anima quarentena Imagem: Reprodução/Instagram

Luciana Quaresma de Lisboa para a Rádio França Internacional

06/07/2020 09h57

Trocar receitas, histórias e afetos, unindo as pessoas por meio da comida neste momento de paralisação da indústria gastronômica ficou parada por conta da pandemia de Covid-19. Com restaurantes fechados, eventos cancelados e chefs em casa, o @FestivalBanhoMaria, criado pela curadora gastronômica Jack Marini, acontece nos moldes dos festivais de música nas redes sociais.

"Eu estava como todo mundo, tentando entender o que acontecia. Em uma conversa com a família, eu comentei que é um momento estranho esse: sem ferver mas não podendo esfriar. Foi quando tive o insight desse festival, baseada nessa que é uma técnica de cozinha milenar: o banho-maria", explica.

"O festival vai muito além da receitas: vamos trocar inspirações. Vi que tinham muitas lives musicais acontecendo no mundo virtual e por que não criar alguma coisa que nos una através do alimento, receitas que nos encham de afeto?", afirmou a curadora.

Jack Marini é carioca mas trocou o Rio de Janeiro por Lisboa há dois anos. Unir, ainda mais Brasil e Portugal através do @FestivaBanhoMaria, foi um processo natural para ela. "Este intercâmbio entre Brasil e Portugal pela gastronomia já é uma conversa antiga, mas tem sido com muita comida boa e muitas histórias pra contar, sobre as nossas similaridades. Desde 2017, eu tenho mantido este intercâmbio e reduzido esta distância além-mar", comenta.

Todos os dias, chefs brasileiros, portugueses e até franceses partilham receitas diretamente da sua cozinha. Um dos chefs portugueses mais renomados e admirador incondicional da gastronomia brasileira, Vítor Sobral, apoia o @FestivalBanhoMaria desde o início do projeto. "É uma iniciativa que, no tempo em que estamos, faz as pessoas acreditarem no futuro", disse o cozinheiro.

O chef francês Frederic Monnier, que mora no Brasil, diz que fazer parte do grupo é uma grande alegria, nestes tempos difíceis de pandemia. "É uma integração quase mundial e uma amostra da cooperação entre os chefs. É muito gostoso ver todo mundo feliz de fazer uma receita", comenta.

A chef mineira Monica Rangel também já partilhou receitas na página do Festival @BanhoMaria. "É muito legal. São receitas interessantes de chefs maravilhosos. Minha grande motivação foi passar receitas simples, fáceis para as pessoas, durante este momento de reclusão, poderem fazer com sua família e acalentar o coração de todos."

União pela comida

Segundo a criadora deste movimento gastronômico em língua portuguesa, não existe uma única receita de sucesso no festival, mas sim receitas que tem levado uma sensação de acolhimento e conforto aos participantes. "O que eu tenho visto é que a simplicidade tem permanecido. São receitas, ideias, dicas e truques para serem feitos em casa com amor. A comida é a melhor forma de unir as pessoas", comenta.

Jack Marini não tinha ideia de como o público iria reagir, mas em poucos meses percebeu que "se transformou num movimento de conexão". Todos os dias, novas receitas são publicadas para as pessoas que estão em casa.

Ingrediente principal: amor

Para Vítor, o momento atual pede um ingrediente principal: "Amor, muito amor porque, na verdade, não existe distanciamento social, existe distanciamento físico. Quem puder cozinhar com uma boa companhia e, ao mesmo tempo, dar muito amor e carinho e poder fazer uma refeição que deixa a pessoa feliz é a melhor receita".

O chef então engata numa sugestão tipicamente portuguesa: bacalhau confitado. "Colocamos o bacalhau em um tabuleiro para ir ao forno com alho, azeite, manjericão fresco, um pouco de vinho do porto seco, amêndoas e, claro, muito amor. Tapamos e levamos ao forno à 150 graus, durante 25 minutos. Temos um bacalhau fantástico, lascado. Bom proveito!", explica o cozinheiro.