Do barato ao premiado: onde os diplomatas matam saudade da comida de casa

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A história do comer fora é tão antiga quanto o Império Romano. Pompeia, em 79 d. C já tinha hotéis, bares e restaurantes, tornando-se o polo cultural do império. Foi lá, inclusive, que a hospitalidade se tornou uma regra de conquista.
Essa máxima segue viva. Não à toa São Paulo conquista pela excelência do serviço e é também a cidade com maior oferta de restaurantes no país.
A nossa "Pompeia moderna" soma mais de 31 mil restaurantes, segundo dados da Abrasel, com 81 culinárias típicas — 16 delas de outros estados e 65 de outros países, segundo dados de 2023 do Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo, SPTuris.
Para saber se a hospitalidade anda em alta por aqui, perguntamos a diferentes autoridades diplomáticas onde comem, e o que comem, quando querem se sentir em casa no Brasil.
Japão secreto

Hoje, existem mais de mil restaurantes japoneses em São Paulo, indica Teiji Hayashi, embaixador do Japão no Brasil desde 2021. Mas quando o assunto é saudades de casa, Hayashi indica o "escondidinho" mais popular nas redes sociais em São Paulo.
No Washoi (@washoibr), localizado próximo à Avenida Paulista, o embaixador conta que aproveita a comida japonesa na companhia do filho pequeno.

O restaurante oferece uma variedade de pratos japoneses populares, como lamen e okonomiyaki (panqueca de repolho), sempre em porções generosas, o que o tornou um dos favoritos do meu filho em fase de crescimento, além de ter preços acessíveis, indica o embaixador.

Hayashi também fala do restaurante Ajissai (@restaurante_ajissai), na Vila Mariana, casa japonesa especializada em empanados. "Sei que eles servem o misso katsu, um prato típico da província de Aichi, terra natal dos meus pais", diz ele que explica o preparo do prato: "Trata-se, essencialmente, de carne suína à milanesa coberta com molho de missô."
Por um bife a parmegiana

Alessandro Cortese, embaixador da Itália no Brasil desde 2022, já visitou mais de 20 estados brasileiros. "Até no Amapá e em Roraima havia uma comunidade italiana", conta o diplomata que faz questão de dizer que se sente em casa no país. "Encontrei no Brasil uma cozinha muito interessante, gosto de feijoada e de rodízio — um sistema muito simpático."
Para se sentir em casa, porém, não precisa ir longe. Um chef italiano está à disposição na embaixada. Mesmo assim, o embaixador me conta que gosta de cozinhar:
Em São Paulo, você encontra qualquer coisa (ingredientes) para cozinhar um prato italiano. Aos fins de semana, eu cozinho e faço muita pasta com tomate, bem mais leve que a encontrada no Brasil, com poucos ingredientes, ensina.
Seus preparos preferidos são spaghetti com zucchini (abobrinha), orecchiette con broccoli, ou um clássico carbonara — "mas sem creme de leite", clama Cortese.
Ao insistir para que indicasse um restaurante — pedido que Cortese achou pouco diplomático —, o embaixador contou que foi no Brasil que descobriu o bife à parmegiana, que para muitos brasileiros parece um prato típico italiano, mas, na verdade, não existe na Itália.

Assim como a polenta brustolada, que igualmente não existe na Itália, o parmegiana, na Itália, é feito com legumes, como a berinjela, explica o embaixador.
Essa história, no entanto, ganhou um episódio curioso: "Estava no Restaurante Piselli (@restaurantepiselli), em Brasília - um restaurante que também existe em São Paulo -, e pedi um parmegiana, pensando se tratar de berinjela empanada e frita. Mas chegou um prato com carne", diz Cortese.
Achei estranho, mas muito bom. Desde então, peço sempre.
México em Pinheiros

Claudia Velasco, cônsul geral do México em São Paulo, tomou posse em setembro, mas já morou em Brasília, onde adquiriu o hábito de tomar café com pão de queijo.
Em São Paulo, diz ela, há muitos restaurantes mexicanos, mas para se sentir em casa, ela indica um espaço que mistura o Brasil com o México na mesa.

O Metzi (@metzirestaurant), localizado em Pinheiros, foi fundado em 2020 pelos chefs Luana Sabino (brasileira) e Eduardo Ortiz (mexicano), combinando técnicas e tradições dos dois países. Inventivo, o restaurante figura na seleta seleção brasileira de recomendados do Guia Michelin no Brasil.
Mesmo tendo ganhado vários prêmios, [o restaurante] faz os mexicanos se sentirem em casa com sua 'tlayuda de chorizo' (grande e fina tortilha de milho) e encanta os brasileiros com sua criatividade, com os churros com doce de leite e cumaru, diz a cônsul geral.
Tradição coreana em São Paulo

O K-pop está para os jovens como o churrasco coreano para os foodies. E um dos responsáveis pela difusão da cultura sul-coreana no país é o jovem diplomata Cheul Hong Kim, que há dois anos é representante do Ministério da Cultura e Turismo da Coreia do Sul, e comanda o Centro Cultural Coreano no Brasil (CCCB), com sede em São Paulo.
A autoridade diplomática que escolheu o Brasil, em detrimento da Rússia e da Suíça, já disse gostar muito das carnes e legumes brasileiros. Mas para se sentir em casa, ele volta à culinária de origem servida no restaurante Dare (@restaurante_dare, que há 20 anos está localizado no Bom Retiro, um bairro moldado pela cultura de múltiplos imigrantes — primeiro a italiana e espanhola e, mais recentemente, a cultura oriental.

O Dare serve um concorrido — e tipicamente brasileiro — quilo no térreo, com receitas japonesas e brasileiras. Mas basta subir ao piso superior para conhecer o cardápio sul-coreano raiz (e apimentado) da casa.
Recomendo o ojingeo bokkeum (lula refogada picante) e o jeyuk bokkeum (carne de porco refogada picante). São pratos um pouco apimentados, mas muito saborosos.
Espanha na figueira

Embaixadora com passagem por países como Ucrânia, China, Marrocos e Cuba, María del Mar Fernández-Palacios há dois anos vive no Brasil. Talvez por sua formação em geografia e história, a embaixadora faça a sua indicação de restaurante para se sentir em casa pensando na história do estabelecimento.
O A Figueira Rubaiyat (@afigueirarubaiyat) — assim nomeado graças à figueira-de-bengala preservada no interior do restaurante — mantém viva no seu pátio uma árvore do século 19, assim como a história da transformação de São Paulo de burgo de outros tempos, em centro gastronômico moderno do país.

Embora não seja um restaurante estritamente espanhol, o cardápio do Rubayat reflete a influência da família Iglesias, presente no Brasil desde os anos 50, e as suas raízes espanholas.


























