'Vô Vadio': aos 72, ele foi ao Alasca em motorhome e quer voltar de moto

Aventureiro por natureza: é assim que o aposentado Cláudio Amaral, 73, se define. "Quando criança, queria ser cobrador de ônibus para trabalhar viajando", conta a Nossa. Ele já foi piloto desportivo, saltou de paraquedas, fez mergulho, pulou de bungee jump.

Desde a juventude, o Vô Vadio, como é conhecido, gosta de viajar. Sua primeira aventura foi aos 18 anos, para visitar um tio no Rio Grande do Sul, que morava em uma cidade gêmea entre o Brasil e o Uruguai. Foi a primeira vez que ele cruzou uma fronteira.

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Três anos depois, já com a CNH, ele pegou ainda mais gosto pelas estradas.

Cláudio já pisou em 85 países
Cláudio já pisou em 85 países Imagem: Arquivo pessoal

Com 21 anos, no auge da minha experiência de seis meses habilitado, peguei meu fusca e fui para Buenos Aires. Uma época que não existia celular ou GPS, era só mapa em papel.
Cláudio Amaral

Depois de se aposentar, viajar virou hobby

Nascido em Estrela do Sul (MG), Cláudio se mudou para Brasília nesta mesma época, onde fez a vida e teve dois filhos. Ele trabalhou na área de TI para uma empresa norte-americana e precisava viajar por causa disso. Foi assim que ele conheceu os Estados Unidos, o Canadá e o México. Mas, depois que se aposentou, viajar virou hobby.

"Faço todo o meu planejamento sozinho, não uso empresa de turismo. Eu mesmo vou atrás de hotel, de voo, dos passeios. Assim, entro mais em contato com a cultura local", completa. Segundo ele, tudo mudou quando tinha 10 anos e assistiu a uma adaptação de Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne, no cinema.

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Foram mais de três meses dirigindo até atingir seu objetivo
Foram mais de três meses dirigindo até atingir seu objetivo Imagem: Arquivo pessoal

Mais de 50 anos depois, foi a vez de ele fazer sua primeira volta ao mundo. Foi em 2014, logo após se aposentar. Uma viagem relativamente curta, de 45 dias. E ele não parou: até a pandemia chegar, Cláudio fazia de duas a três viagens ao ano para explorar novas terras.

Quando foi decretada a pandemia, inclusive, ele estava no Equador. "Saí de Brasília, fui para Lima e cheguei em Quito. A ideia era descer explorando, de ônibus, o Equador e o norte do Peru. Fiquei 15 dias retido lá, até o governo brasileiro enviar um avião para repatriar."

Forçado a ficar em casa, ele se dedicou a montar um motorhome para viajar quando a crise sanitária melhorasse. Sua primeira viagem a bordo da casa móvel, que apelidou de Maricota em homenagem à mãe, foi para o interior de Minas Gerais, por meio da Estrada Real —rota turística que refaz o caminho do ouro. A ideia era apenas conhecer o novo veículo e entender como funcionaria.

Em 2022, ele se desafiou a ir para o Ushuaia, cidade argentina no extremo sul da América do Sul. "A ideia era ir até lá e depois subir até a Colômbia, mas minha filha me ligou avisando que meu neto ia nascer. Voltei para Brasília, esperei nascer e retomei o caminho. Peguei o norte da Argentina e fui até o Equador." Segundo Cláudio, a viagem acabou mais cedo porque ele começou a se sentir sozinho.

Cláudio em Ushuaia
Cláudio em Ushuaia Imagem: Arquivo pessoal
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Mas isso não foi suficiente para fazê-lo parar de viajar. Pelo contrário, ele voltou para casa e organizou a ida de motorhome até o Alasca. O sonho dessa viagem sempre existiu. Em maio de 2024, ele saiu de Brasília sem data de retorno.

Cláudio saiu do Brasil pelo Acre, atravessou a Cordilheira dos Andes e chegou a Cusco, no Peru. Seguiu para Lima, atravessou o Equador e chegou à Colômbia. Em Cartagena, despachou o veículo no navio e pegou um avião até o Panamá.

Na sequência, atravessou Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e Belize. Cláudio parou em algumas cidades pelo caminho, adotou rotas alternativas e deu de cara com outros brasileiros que também faziam a travessia.

No México, ele ficou dois dias em Playa del Carmen curtindo a faixa litorânea do país. De lá, pegou estrada até os Estados Unidos. "A minha ideia era explorar bastante, mas dei azar porque na época teve muito incêndio florestal e o acesso aos parques estava fechado", lembra ele. A decisão foi, então, seguir viagem.

Caminho percorrido por Cláudio de Brasília até o Alasca
Caminho percorrido por Cláudio de Brasília até o Alasca Imagem: Arquivo pessoal
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No Canadá, ele entrou por Alberta, seguiu por British Columbia e chegou ao território de Yukon. "É muito longe. Você pega 500 quilômetros de nada. Sem sinal de internet, sem cidade, sem povoado. De vez em quando, tinha um posto de combustível."

Chegar ao Alasca foi uma sensação de êxtase, por ter atingido o objetivo. Fiquei muito comovido e caí na real. Cadê meus amigos? Cadê minha família? O que eu estava fazendo lá sozinho? Eu queria tomar cerveja em um boteco.
Cláudio Amaral

Cláudio até tinha planos de ir um pouco mais além e tentar ver a aurora boreal, mas a solidão que bateu forte o fez pegar o caminho de volta. Ele acredita que dois fatores pesaram bastante: o fato de não ter encontrado mais brasileiros e a comida da região.

Na volta, ele parou no Yellowstone National Park, nos Estados Unidos, que queria muito conhecer, e subiu para Toronto, no Canadá, onde reencontrou velhos amigos. "Queria passar uns três dias, porque fazia mais de 30 anos que não os via. Mas me seguraram uma semana."

Na volta, ele conheceu alguns parques nos Estados Unidos
Na volta, ele conheceu alguns parques nos Estados Unidos Imagem: Arquivo pessoal

"O contato com amigos e outros brasileiros foi muito importante para recarregar as energias", completou Cláudio. Depois de cerca de dez dias, ele seguiu até Miami, onde despachou o motorhome para o Uruguai e pegou um voo de volta para Brasília.

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Depois de mais ou menos um mês, em outubro, ele viajou até o Uruguai para pegar o veículo. "Aí eu vim passeando de volta. Já tinha visto minha família, tomado uma cerveja com os amigos. Peguei regiões do Rio Grande do Sul que ainda não conhecia e a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina."

'O que tenho para fazer é vadiar'

Cláudio já foi casado duas vezes, tem três filhos e quatro netos. Segundo ele, sua descendência adora seu espírito aventureiro e o incentiva. "E o que eu tenho para fazer agora é vadiar mesmo", brinca. Ao todo, ele já pisou em 85 países, além do Brasil.

Cláudio em lago no Canadá
Cláudio em lago no Canadá Imagem: Arquivo pessoal

Em alguns destinos, pretende voltar para explorar mais regiões. É o caso da Tailândia, Filipinas, China, Laos, Camboja e Vietnã. No Brasil, o único estado que ele ainda não conhece é Roraima —mas pretende ir.

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Para as próximas aventuras, tem três planos em mente. Um deles é refazer o caminho até o Alasca, mas a bordo de uma motocicleta. Outro é conhecer a região do Azerbaijão e Cazaquistão —além dos outros países terminados em "ão" que estão por ali. O último consiste em viajar pela Europa em quatro rodas.

Eu acho que a gente tem de viver, né? Não quero viver muito tempo, mas viver muito o tempo que ainda tenho.
Cláudio Amaral

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