Ração ou alimentação natural? Os prós e contras na dieta de cães e gatos

A alimentação dos pets é um tema que levanta muitas dúvidas entre tutores: afinal, o que é mais saudável: ração, alimentação natural ou uma combinação das duas?

Segundo a veterinária Viktória Imparato, especializada em medicina veterinária integrativa, o mais importante é compreender como cada modelo funciona, quais suas exigências e como ele se adapta à rotina da família e às necessidades específicas do animal.

"A ração é prática para os humanos, mas não é, necessariamente, o alimento mais adequado do ponto de vista biológico para cães e gatos", explica Viktória. Ainda assim, ela afirma que há uma grande variedade no mercado, com níveis muito diferentes de qualidade nutricional — o que pode fazer diferença no bem-estar do animal.

A seguir, confira os principais modelos de alimentação disponíveis, com as vantagens e desvantagens explicadas pela especialista.

Rações comerciais: da standard à super premium

No mercado pet, as rações são classificadas em categorias que vão da standard (mais simples e barata) à super premium (com ingredientes mais selecionados e maior valor nutricional). Também entram nesse grupo as rações medicamentosas, geralmente indicadas em casos específicos, como doenças renais ou alergias alimentares.

"As rações standard usam ingredientes menos selecionados e de menor qualidade. Já as super premium contam com nutrientes mais nobres, mas mesmo assim, muitas ainda são compostas por sobras da indústria alimentícia humana", afirma Viktória.

Um dos principais pontos de atenção é a presença excessiva de grãos como milho, soja e arroz — ingredientes pouco digestíveis para cães e especialmente para gatos. "Os pets não digerem carboidratos como nós. Quando uma ração é carregada de grãos, isso pode comprometer a digestibilidade do alimento", reforça a veterinária.

Alimentação natural crua com ossos

Entre as opções de alimentação natural, a dieta crua com ossos é considerada a mais próxima da alimentação original dos cães — especialmente dos animais jovens e saudáveis. Ela traz benefícios como fortalecimento da musculatura mastigatória, higiene oral e estímulo mental.

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"Essa é a forma mais natural e econômica, porque quando usamos ossos carnosos não precisamos de suplementação. Além disso, o ato de roer traz enriquecimento ambiental, relaxa o animal e ainda ajuda no combate ao tártaro", explica Viktória.

A principal desvantagem está no fator humano: "Muita gente ainda tem resistência em ver o animal comendo carne crua e ossos. Nem todo tutor se sente confortável com isso, além de exigir espaço no freezer", pondera.

Alimentação natural crua sem ossos

Mais prática para animais de pequeno porte ou com dificuldade de mastigação, a alimentação crua sem ossos é uma alternativa viável — especialmente para gatos, que geralmente não roem ossos com facilidade.

"Essa modalidade é ideal para bichos que não aceitam ossos, mas exige suplementação nutricional, já que perdemos os minerais que estariam presentes nos ossos", explica a veterinária. O preparo também exige cuidados com a higiene e conservação da carne.

Alimentação natural cozida

A versão cozida da alimentação natural é indicada principalmente para animais idosos, doentes ou com maior seletividade alimentar. O aroma do alimento, mais acentuado após o cozimento, costuma estimular o apetite de cães e gatos com menor interesse pela comida.

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"Ela é ótima para animais com digestibilidade comprometida ou para aqueles que não aceitam carne crua. Também facilita para tutores que têm dificuldade de lidar com alimentos crus. Mas exige organização, preparo e suplementação, já que parte dos nutrientes se perde no cozimento", alerta Viktória.

Alimentos úmidos: quando usar e por quê

Patês, sachês e latas são classificados como alimentos úmidos e devem ser analisados com cuidado. Alguns são completos e balanceados, ou seja, podem substituir a ração. Outros são apenas petiscos ou complementos.

"Todo animal que come ração deveria ter alguma fonte de alimento úmido na dieta, mesmo que seja carne ou legume cozido para aumentar a ingestão de água. Isso é especialmente importante para gatos, que bebem pouca água naturalmente", destaca.

Mixed feeding: a mistura entre ração e alimento fresco

O chamado mixed feeding — ou alimentação mista — consiste na combinação entre ração e alimentos frescos. É uma opção comum para tutores que não conseguem manter uma dieta 100% natural, mas desejam oferecer uma nutrição mais rica e variada.

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Essa prática, no entanto, exige atenção. "Quando misturamos ração com alimentos como carne, por exemplo, podemos ter tempos de digestão diferentes. Isso pode causar fermentação no sistema gastrointestinal e prejudicar a digestão", explica Viktória.

Diferenças entre cães e gatos

Para além da forma de alimentação, é essencial compreender que cães e gatos têm necessidades nutricionais distintas. Os cães, com o tempo, desenvolveram capacidade de digerir alguns vegetais, tornando-se onívoros. Já os gatos, por sua vez, continuam sendo carnívoros estritos.

"Gatos precisam de uma alimentação com menos carboidrato, mais proteína e gordura de qualidade. Eles também necessitam de taurina, um aminoácido essencial para a saúde felina", afirma a veterinária. Ela ainda reforça que os felinos são mais exigentes e têm maior resistência a mudanças na dieta. "O ideal é oferecer variedade de texturas e sabores ainda na infância. Gato que aprende desde filhote vira um verdadeiro guloso", brinca.

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