Como o monstro Labubu virou desejo de fashionistas e rende bilhões

Você pode não saber o que é, mas provavelmente já viu Labubus arrematando looks de famosas do calibre de Marina Ruy Barbosa, Kim Kardashian, Rihanna, Virginia Fonseca e Dua Lipa. O monstrinho, muito ostentado junto às bolsas das fashionistas, é uma febre da Ásia ao Brasil.

Mas, afinal, o que é Labubu?

Para começo de conversa, Labubu é menina! Sim, a não ser que você se refira ao acessório como "monstro" ou "bichinho" antes, a personagem deve ser tratada no feminino.

A bonequinha é parte de um grupo chamado "The Monsters" (ou "Os Monstros") pelo artista e autor Kasing Lung, de Hong Kong. Sua primeira aparição foi em uma trilogia de livros ilustrados inspirados pela mitologia nórdica em 2015. No entanto, Labubus começaram a se popularizar em 2019, quando a gigante chinesa do mercado de brinquedos Pop Mart passou a transformá-las em "fofurinhas" colecionáveis, seja no formato chaveiro ou em outros.

Marina Ruy Barbosa com sua Labubu na China
Marina Ruy Barbosa com sua Labubu na China Imagem: Reprodução/Instagram

Quem realmente transformou a Labubu em mania foi a cantora Lisa, da banda Blackpink. Apaixonada pela boneca e outras coleções de personagens da Pop Mart, a tailandesa não só já comentou sobre sua coleção em entrevistas, como movimentou um enorme séquito de jovens que se inspiram no seu estilo pessoal com pegada "nerd", como ela define. Isso porque Lisa é a celebridade do movimento K-Pop mais seguida do Instagram hoje, com 106 milhões de seguidores.

No entanto, outro nome poderoso do mercado fashion impulsionou o sucesso da Labubu, especialmente nos EUA: Kim Kardashian. Aos seus 356 milhões de seguidores, a empresária e fundadora da marca de shapewear Skims já exibiu um verdadeiro acervo de Labubus.

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Qual é a história da Labubu?

A Labubu é descrita como uma criatura com ares de elfo, segundo a Pop Mart, que tem uma carinha levada, mas é gentil e sempre quer ajudar. O problema? Ela acaba fazendo o oposto, sem querer. Ela é pequena, assustadora, mas tem boas intenções, de acordo com a marca.

É parte da turma da Labubu outra criatura que se parece com ela, mas tem um rabo: Zimomo, líder dos "Monstros". A dupla não é um casal, porque a Labubu tem um namorado: Tycoco, um esqueleto vegetariano.

Vício

Tanto as Labubus quanto outros personagens comercializados pela Pop Mart são alvo de relançamentos frequentes, com coleções temáticas —algumas frutos de parcerias com grandes marcas como a Coca-Cola.

Mas o que movimenta mesmo os mais entusiastas são as "Blind Boxes", caixas "às cegas" em que o fã não sabe o que tem dentro. A embalagem informa as carinhas de um pequeno grupo de cerca de seis novas versões do personagem em questão e um item "secreto", mais raro de conseguir já que são fabricados menos unidades destes designs.

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Virginia Fonseca, também de Labubu, no Japão
Virginia Fonseca, também de Labubu, no Japão Imagem: Reprodução/Instagram

A aparência do item secreto não é revelada nem mesmo na caixa em algumas coleções. Ou seja, a ideia é que a compra funcione um pouco como uma surpresa do Kinder Ovo ou do McLanche Feliz do McDonald's nos anos 90, antes que os aplicativos tornassem possíveis escolher qual é o brinquedo que vem dentro.

A própria Lisa do Blackpink confessa que costuma comprar coleções inteiras, mas a busca pelo item secreto movimenta até a famosa. É por isso que algumas Labubus se tornam valiosíssimas no mercado paralelo, com modelos mais disputados custando mais de R$ 5.000. Para se ter ideia, as mais básicas saem por cerca de US$ 17 (R$ 100) na Pop Mart.

Apenas a série "The Monsters", da qual a Labubu faz parte, gerou US$ 419 milhões (R$ 2,37 bilhões) em vendas no último ano para a Pop Mart, de acordo com a NBC News. E isto não leva em consideração o enorme mercado paralelo de revendas e até fakes. No Brasil, onde a Pop Mart não tem lojas físicas, apenas faz entregas via seu site, é comum achar leilões, revendas e até fakes em sites de e-commerce como o Mercado Livre.

A influenciadora Amanda Kimberlly, mãe da filha caçula do jogador Neymar, mostrou nos Stories do Instagram na terça-feira duas unidades que teria comprado em um shopping na região do Brás, em São Paulo. Segundo ela, os brinquedos lhe transmitiram uma "energia ruim", mas fãs identificaram as bonequinhas como fakes (veja abaixo).

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Pensei que fosse algo meigo, mas os olhos vermelhos, o rosto estranho e os dentes me causaram uma sensação desagradável, uma energia pesada. Definitivamente não é um boneco simpático. Não pretendo ficar com eles, me transmitiram algo sombrio. Amanda Kimberlly, sobre suas possíveis "lafufus"

Desejo está ligado à ideia de escassez

As Labubus se tornaram indispensáveis pela fashionista não só pelo aspecto divertido da caça ao monstrinho, mas justamente porque nem todo modelo está disponível o tempo todo. A ideia de escassez, de algo que é ilusoriamente único ou raro movimenta o mercado do luxo, que é baseado no princípio da exclusividade —eu tenho aquilo que você não tem.

O editor-chefe da revista de moda Perfect, Bryan Yambao, é conhecido por desfilar diversas Labubus penduradas em suas bolsas Birkin, da grife francesa Hermès —uma peça que pode facilmente atingir R$ 500 mil. Ao jornal especializado WWD, ele explicou que a combinação é ideal, em sua opinião.

O típico entusiasta da Hermès está sempre à caça, sempre faminto daquela emoção indescritível. Estas almas masoquistas e sedentas de sangue florescem na caça e os colecionáveis são suas presas. As bonecas Labubu são deliciosamente acessíveis, mas de alguma forma lançadas em doses tão limitadas que são praticamente impossíveis de rastrear. A ironia? Olhar esses bichinhos de pelúcia modestos e acessíveis em preço pendurados em uma Birkin de couro de crocodilo...O contraste entre as duas é divertido. Uma combinação perfeita do inacessível com o absurdamente raro. É quase delicioso demais.Bryan Yambao

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Visualmente, as bonequinhas ainda apelam para a tendência do caos estilizado, dando um toque divertido a produções sisudas em tempos em que o chamado "quiet luxury", o luxo silencioso que transformou os tons pastel e a alfaiataria em estrelas, começa a demonstrar sinais de cansaço nas vitrines.

Seu estilo ainda é conhecido na moda de rua de países como China e Coreia do Sul como "dark kawaii", aquele fofo e afetuoso com toques sombrios —o que pode explicar o susto de Amanda Kimberlly. Ela está entre a minoria, contudo.

No Reino Unido, a Pop Mart se viu obrigada a suspender a venda presencial das Labubus esta semana por questão de segurança, para evitar aglomerações e empurra-empurra de clientes.

No TikTok, vídeos mostravam fashionistas adultos se acotovelando do lado de fora de um shopping de Birmingham, no Reino Unido, em busca do brinquedo. "Para garantir a segurança e o conforto de todos, suspenderemos temporariamente todas as vendas em lojas físicas e robotizadas dos brinquedos de pelúcia The Monsters até novo aviso", anunciou a Pop Mart nas redes.

O que é o 'Lafufu'?

O fascínio em torno da bonequinha cobiçada é tão grande que há fãs que já se dedicam a investigar nas redes se um modelo exibido por uma celebridade é mesmo original ou se seria um caso de "lafufu" —a tal Labubu fake.

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Existem alguns surpreendentemente convincentes, mas é possível diferenciá-los, segundo um manual elaborado pela rede americana NBC:

Contagem dos dentes: Toda Labubu tem exatamente nove dentes. Nenhum a mais ou a menos;
Detalhes faciais: Olhe de perto nos olhos e no blush das bochechas, já que os modelos fake tendem a ter uma pintura diferente ou acabamento ruim;
Carimbo no pé: Labubus reais têm o logo do Pop Mart e "O Kasing" gravados nas solas dos seus pezinhos;
Costuras: O acabamento dos pontos na testa da Labubu costuma ser preciso; se parece desigual ou desfiado, é fake.

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