Botas fetichistas e acima dos joelhos conquistam galãs de Hollywood

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Os códigos da masculinidade já não são mais seguidos tão à risca. Pelo contrário, estão constantemente sendo revistos. Dois episódios recentes, em contextos diferentes, mas com algo em comum, trouxeram à tona uma peça que, há pouco tempo, era vista como exclusiva do vestuário feminino: a bota over-the-knee.
Alexander Skarsgard, em Cannes, e Pedro Pascal, na estreia da nova temporada da série "The Last of Us", incorporaram o modelo com naturalidade, sem exageros ou provocações óbvias. E, claro, viralizaram nas redes sociais.
Trata-se de um gesto de estilo que se encaixa numa linguagem visual mais "livre" da moda masculina atual, impulsionada pelos galãs dessa geração de Hollywood.
Nas pernas dos galãs
O Festival de Cannes tem seus próprios rituais. O tapete vermelho ali é mais do que um desfile de celebridades, acaba por tornar-se um palco de mensagens estéticas e políticas. Essas últimas, impulsionadas após o novo dresscode impedindo nudez e volumes.
Quando o sueco Alexander apareceu de smoking na première de "O Esquema Fenício", mas com botas longas de couro ultrapassando os joelhos, o que se viu não foi apenas um figurino viral, mas uma imagem com peso simbólico.
A escolha pelos sapatos da Saint Laurent, orientada pelo stylist Harry Lambert — parceiro de longa data do também provocativo cantor Harry Styles, lembrava tanto o estilo de Helmut Newton quanto o pós-punk europeu dos anos 1980.

Pedro Pascal, por sua vez, já vinha construindo uma relação interessante com a moda. Na première da segunda temporada de "The Last of Us", em março deste ano, usou também botas over-the-knee da Saint Laurent, mas com calça justa de couro, suéter azul e blazer xadrez.
Nada parecia exagerado ou teatral. Seu visual refletia uma sequência de escolhas coerentes que ele tem feito nos últimos tempos. Até uma (não tão) simples regata Calvin Klein, mais recentemente, deu o que falar em Cannes.
Dessa forma, Pascal vem desconstruindo, com naturalidade, a imagem do 'homem tradicional' e 'daddy' na moda — e fora dela também.

Homens do fetiche
A aparição dos dois atores com a mesma peça em um curto intervalo de tempo não é exatamente coincidência. É um reflexo de um movimento maior. A questão aqui vai além do acessório: é mais sobre o que ele representa. A bota longa tem um histórico carregado de significados, remetendo ao fetichewear e ao poder.
Mas, nas mãos (ou melhor, nos pés) desses nomes de Hollywood, esses significados indicam uma mudança de lugar. As versões usadas são discretas, com couro fosco, cortes limpos. A sensualidade está ali, mas é contida. Sugerida, mas não é óbvia.
O designer Anthony Vaccarello, à frente da Saint Laurent, é um dos porta-vozes do novo posicionamento da bota masculina. Na coleção de Outono/Inverno 2025, apresentada no Bourse de Commerce, icônico edifício parisiense, praticamente todos os modelos surgiram com botas altíssimas combinadas a casacos estruturados, golas altas e terno e gravata.
O visual era ousado, mas reapresentava a elegância típica da grife francesa. E mais do que isso: propunha uma nova silhueta para o homem contemporâneo. Mais fluida e menos esquematizada.


Outros designers também apostaram no longo comprimento para sapatos.
Rick Owens levou sua versão da over-the-knee para a passarela da coleção masculina de Outono/Inverno 2024, com uma pegada mais gótica e crua. Ludovic de Saint Sernin, por sua vez, incluiu o modelo, um pouco menos extenso, na coleção Primavera 2023, apostando numa estética sensível e provocativa.
Ambos mostraram que a bota já não é mais só um detalhe de styling, tornando-se uma proposta de forma e atitude.


Mais do que uma tendência, a bota over-the-knee virou um statement. O calçado aponta para um desejo crescente de liberdade de experimentar, de deslocar referências, de repensar o que é considerado "masculino". E como toda mudança de linguagem, ela não passa despercebida: provoca e gera conversa.
Provavelmente, um dos seus melhores triunfos. Nas palavras de Nancy Sinatra, em uma das canções mais emblemáticas dos anos 1960, 'essas botas foram feitas para andar, e isso é o que elas farão'.
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