Anvisa proíbe mais duas marcas de azeite; como saber se produto é falso?

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A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a comercialização, distribuição, fabricação, importação, propaganda e uso de mais duas marcas de azeite: Almazara e Escarpas das Oliveiras.
A proibição se soma a outras duas, das marcas Alonso e Quintas D'Oliveira —medida tomada após denúncia feita em outubro do ano passado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, que, durante uma apreensão, identificou a origem desconhecida dos produtos dessas marcas. Existe alguma forma de identificar se o alimento é falsificado?
Dicas para identificar um bom azeite

Sempre compre o produto em lojas e supermercados confiáveis. Dessa forma, é possível reduzir o risco de levar um alimento adulterado.
Desconfie de promoções tentadoras. O óleo de oliva não é um item com baixo custo de produção e encontrar nas prateleiras azeites com valor muito abaixo da média pode ser sinal de fraude.
Cheque o país de origem e de envasamento. O ideal é comprar um azeite produzido e envasilhado no mesmo país, de preferência pelo mesmo produtor (a informação geralmente está na embalagem). Além de possivelmente perder qualidade, um azeite que é feito em um país (ou lugar) e engarrafado em outro tem maior risco de ser fraudado.
Confira os selos de denominação de origem. Eles garantem não só o país de origem do produto, mas também que o óleo de oliva está dentro das regras estabelecidas pelos órgãos responsáveis sobre práticas de cultivo e produção. Os selos mais comuns são o DOP, utilizado pela Espanha, Itália e Portugal, e o PDO, usado pela Grécia.
Prefira os feitos com um tipo só de azeitona. Com mais variedades que o vinho, os azeites também terão características únicas para cada tipo de azeitona usada —os mais conhecidos são arbequina, coratina e galega. Se houver a opção, busque produtos com um tipo só de azeitona.
Prefira garrafas escuras ou opacas. Suscetível à luz solar, o ingrediente se preserva melhor em garrafas que impedem ou minimizam a entrada de luz.
Analise a data do envase ou extração. O frescor do azeite será um dos fatores mais importantes na hora da compra. Por lei, as garrafas devem ter a data de envase. Quanto mais recente for essa data, melhor. Idealmente, deveria-se buscar a data da extração, pois é ela que realmente indica o frescor do azeite. A informação de envase não garante que a extração foi próxima daquela data, pois o óleo pode ter sido extraído antes, estocado e só depois envasado.
E ao abrir a garrafa?

Não é todo mundo que consegue identificar um produto adulterado, mas alguns sinais podem indicar que o azeite foi fraudado, está velho e oxidado ou contém outros óleos. São eles:
- Cheiro rançoso ou de mofo;
- Sabor metalizado;
- Sedimentos escuros no fundo da garrafa.
As principais características sensoriais de um azeite extravirgem de qualidade são:
Não pode ter "cheiro de óleo de cozinha", deve ser bem perfumado. As notas aromáticas devem ser herbáceas, como o cheiro de grama recém-cortada ou couve.
No paladar é preciso sentir elementos frutados, vivos e frescos, picância e amargor. Esse perfil sensorial garante os componentes de saudabilidade natural do produto.
Como preservar seu azeite?

Não importa quantas qualidades sensoriais um azeite tenha, país de origem ou preço —se não houver cuidado, suas propriedades serão perdidas. Para isso não acontecer, faça o seguinte:
Mantenha o produto em local fresco, escuro e muito bem fechado.
Evite o uso de bicos sem tampa que, apesar de práticos, permitem a entrada de oxigênio (que oxida e altera as características dos alimentos).
Prefira manter o óleo de oliva na garrafa original.
Não guarde próximo ao fogão, onde o óleo de oliva ficará exposto à luz e ao calor.
Após aberto, é preciso consumir em até 60 dias.
Vidros menores podem ser uma boa opção para quem mora sozinho e não consegue consumir uma garrafa de meio litro dentro do período de validade. Ao contrário do vinho, o azeite só piora com o tempo. Por isso, mesmo que encontre um bom preço, evite estocar, ou pior, guardar aquela boa garrafa que você ganhou só para uma ocasião especial
Azeite não é tudo igual
Nos mercados, é mais comum encontrarmos dois tipos de azeite:
Extravirgem. Tem uma acidez menor que 0,8%. É extraído mecanicamente, a frio, na primeira prensagem das azeitonas, por isso preserva praticamente todas as propriedades nutricionais e de qualidade do óleo, por ser menos processado. Muitos fabricantes usam um rótulo verde ou com detalhes nessa cor para facilitar a identificação do produto, mas a informação está sempre escrita na embalagem.
Tipo único. Tem um acidez máxima de 1%. Passou por um processo de refinamento químico para remover defeitos de aroma, cor e acidez, e pode ter na mistura o azeite virgem, extravirgem ou óleo de bagaço de oliva. Alguns fabricantes usam um rótulo vermelho ou com detalhes nessa cor para identificar o produto.

O azeite extravirgem é mais saboroso e saudável, mas o tipo único ainda é uma opção muito melhor do que outros óleos de cozinha. O azeite extravirgem também tem uma quantidade maior de biofenóis, elementos que ajudam na prevenção de várias doenças ligadas ao envelhecimento. Quanto maior a qualidade do azeite, maior o teor dos biofenóis ele terá. Por ser mais barato, você pode usar o tipo único em alimentos que são preparados no fogo e deixar o extravirgem para consumir cru, em saladas, ou para finalizar receitas, já que o óleo de oliva (como qualquer alimento) perde um pouco de suas propriedades ao ser aquecido.
E o orgânico, é melhor?
O fato de o produto ser orgânico não impacta diretamente na sua qualidade sensorial (sabor e aroma), apenas define o tipo de produção. O termo indica apenas que as azeitonas foram cultivadas usando somente produtos naturais em sua fertilização e/ou produtos industrializados que não fazem o uso de substâncias químicas. Ou seja, sem os populares agrotóxicos.
E o azeite brasileiro?
O Brasil é o segundo país que mais importa azeite no mundo e a produção nacional fornece apenas 1% do que é consumido por aqui, mas isso não significa que os óleos de oliva nacionais são ruins. Pelo contrário. Há muitos produtos de qualidade feitos no país e premiados internacionalmente.
O problema é que o azeite brasileiro ainda é caro quando comparado com muitos produtos encontrados no mercado. Motivo: como ainda é feito em áreas produtivas pequenas e relativamente novas, o alimento nacional ainda não consegue competir em volume com o importado. Por isso, para garantir o lucro, o foco da produção é na qualidade.
Fontes: Sandro Marques, professor do curso de pós-graduação em cozinha avançada do Senac e autor do livro "Extrafresco: Guia de Azeites do Brasil; Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura); Moacir Batista do Nascimento Filho, engenheiro florestal e presidente da Assoolive (Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira); Pedro Calazans, diretor comercial da Selecionados Uniagro, empresa de distribuição de alimentos.
*Com informação de reportagem de março de 2024.
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