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Salvo de ir a leilão, Palácio Capanema reabre renovado ao público no Rio

Fechado por 10 anos, o Palácio Capanema reabre ao público este mês, no centro do Rio de Janeiro Imagem: Divulgação

Para Nossa, no Rio de Janeiro

10/05/2025 05h30

Obras de arte de Cândido Portinari, Roberto Burle Marx e móveis feitos por Oscar Niemeyer são algumas das peças raras que estarão disponíveis ao público a partir de 20 de maio, com a reinauguração do Palácio Gustavo Capanema, símbolo da arquitetura moderna brasileira, no centro do Rio de Janeiro.

Tombado em 1948, o Palácio tem 27.536 metros quadrados na rua da Imprensa. 60% da área do edifício estará disponível para o público em geral, enquanto os outros 40% serão restritos, onde estarão escritórios do Ministério da Cultura e suas vinculadas. O UOL realizou uma visita guiada ao local nesta semana.

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Os jardins do Palácio Capanema são assinados por Roberto Burle Marx Imagem: Divulgação

O prédio estava fechado há uma década. A restauração começou em 2019, com um hiato entre 2020 e 2021. Ao todo, a recuperação e modernização custou R$ 84,3 milhões do governo federal via Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Mais de 100 trabalhadores estiveram mobilizados nos períodos de maior atividade.

O prédio passou por modernização interna, com recuperação de pisos, móveis, luminárias e persianas, além da recuperação dos jardins, feita pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Também foram refeitas as instalações elétricas, sanitárias, hidráulicas e de combate a incêndio.

Na área externa, painel de Portinari recebciona os visitantes Imagem: Divulgação

"Azul Lucio Costa"

As caixas d'água do Palácio Capanema, localizadas na cobertura, chamam atenção pelo azul intenso. Esse foi o primeiro elemento que a arquiteta Lina Bo Bardi viu ao chegar ao Brasil, fugindo da 2ª Guerra Mundial.

Imigrantes da época descreveram o azul como símbolo de esperança, já que era visível do porto, onde chegavam os navios.

Já a inspiração de Lucio Costa para o azul das paredes internas laterais dos pavimentos-padrão do Capanema veio da torre da igreja setecentista de Santa Luzia, tombada pelo Iphan, além de ser uma cor tradicionalmente associada à representação de Nossa Senhora.

As caixas-d'água ganharam tom de azul tão marcante que virou marca-registrada do edifício Imagem: Divulgação

Antes da década de 1980, quando o edifício Capanema passou por outra restauração, Lucio Costa revisitou a obra já concluída e apontou que o azul aplicado não correspondia à tonalidade original que havia idealizado.

O arquiteto solicitou novas tintas e, pessoalmente, preparou a mistura, combinando diferentes pigmentos até chegar à tonalidade desejada.

Esse tom de azul foi, então, padronizado, e sua fórmula transformada em uma versão industrializada, utilizada nas restaurações subsequentes do edifício. A cor, depois replicada por outros arquitetos, passou a ser conhecida como "Azul Lucio Costa".

Mezanino

O mezanino é o espaço mais visitado do edifício. O salão de exposições sempre foi destinado a mostras temporárias, com fácil acesso do público.

O local é tido como uma "catedral moderna", passando a sensação de monumentalidade por sua escala em relação aos visitantes.

O mezanino, apelidado de 'catedral moderna' Imagem: Divulgação

O Auditório Gilberto Freyre, também localizado no mezanino, foi projetado com piso inclinado. O palco original era muito baixo, e Lucio Costa construiu uma estrutura de madeira sobre o concreto para elevá-lo.

O auditório ainda conserva uma tela retrátil embutida no piso, tecnologia inovadora para a época.

2º andar, o do ministro

O segundo andar do prédio foi o mais alterado ao longo do tempo. O projeto inicial previa um espaço mais compartimentado, representando uma transição da arquitetura tradicional para a moderna.

Ele havia sido projetado para ter divisões internas, enquanto os pisos superiores adotariam espaços mais abertos.

Originalmente ala de escritórios, o segundo andar hoje abriga áreas de expoisção Imagem: Divulgação

Durante as décadas de 1980 e 1990, o andar perdeu grande parte dessas divisões para ser adaptado a salas de reunião. A partir dos anos 2000, passou a abrigar áreas de exposição.

Nele, estão algumas das principais obras do edifício, que saltam os olhos, como o mural "Jogos Infantis" e a conjunção de pinturas "Ciclos Econômicos", de Cândido Portinari. O jardim acessível a partir desse pavimento foi projetado por Roberto Burle Marx.

A grande estrela do segundo andar: mural de Cândido Portinari Imagem: Luís Adorno/UOL

4º andar, móveis feitos por Niemeyer

Na biblioteca localizada no quarto andar, todos os móveis no estilo "pés de palito", de autoria de Oscar Niemeyer, foram restaurados durante a obra.

Pés-palito: móveis desenhados por Oscar Niemeyer foram restaurados Imagem: Divulgação

Nos vidros internos e da fachada, uma leve diferença de cor distingue as peças originais, importadas da Bélgica, das substituídas.

Mobiliário da antiga biblioteca Imagem: Divulgação

O quarto andar foi pensado com divisões internas específicas para organizar o fluxo de pessoas. É o único pavimento que ainda mantém sanitários voltados para o hall social.

Inicialmente, todos os andares tinham essa configuração. Com o restauro, foram criados corredores internos para acomodar áreas técnicas, como os sistemas de ar-condicionado.

Apenas na biblioteca, os banheiros externos foram preservados.

8º andar, pavimento-modelo

O oitavo andar, que em 1945 abrigou o Iphan, então dirigido por Rodrigo Melo Franco de Andrade, passa a ser o pavimento-padrão do Capanema.

O mobiliário original desse pavimento foi preservado e traz um significado simbólico, que busca demonstrar o legado do período modernista no Brasil.

Móveis foram mantidos no oitavo andar: um legado do período modernista Imagem: Divulgação

Figuras como Lucio Costa, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Aloísio Magalhães, que presidiu o Iphan de 1979 a 1983, passaram pelo andar.

Prédio histórico

O Palácio foi construído entre 1937 e 1945, com projeto arquitetônico de Lucio Costa e participação de Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos, e consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier.

À época, o Rio era a capital da república. Getúlio Vargas queria construir na cidade um prédio para o Ministério da Saúde e Educação. Gustavo Capanema, então ministro, lançou um concurso de arquitetura, mas não gostou do vencedor.

Palácio Capanema: um marco no centro do Rio de Janeiro Imagem: Divulgação/Iphan

Le Corbusier recomendou que o prédio fosse de frente para a baía de Guanabara, mas a recomendação não foi seguida. Então, esboçou outro projeto, no centro, onde o morro do Castelo havia sido demolido na década de 1920.

Com 16 pavimentos, o edifício é tido como um dos maiores símbolos da arquitetura moderna do mundo. Além disso, um patrimônio cultural brasileiro.

Em 2021, o então ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a colocar o Capanema na lista de imóveis a serem vendidos em um feirão para a iniciativa privada. Após protestos e repercussão negativa, o governo federal retirou o prédio do "feirão de imóveis".

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