1º motel abriu há 100 anos; como ele ganhou seu nome e a fama no sexo?

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Há um século, uma curiosa invenção da cidade de San Luis Obispo, na Califórnia, inaugurava um novo gênero na hotelaria e uma nova palavra no dicionário: o Milestone Mo-Tel, o primeiro motel do mundo.
Construído em 1925, há exatos 100 anos mesmo, o empreendimento era mais ambicioso do que seus sucessores e considerado um "luxo", descreve uma reportagem de arquivo do jornal The Seattle Times.
A ideia do arquiteto e empresário Arthur Heineman era oferecer um "motor hotel" - ou, juntando a primeira e a última sílaba para caber na placa, um "motel" - nas grandes estradas para atender justamente ao crescente público que trocava as viagens de trem pelos EUA pelo carro.

Apesar de a ideia parecer relativamente simples para os padrões atuais, é preciso entender o seu contexto: nos anos 20 do século passado, quem viajava de carro costumava parar apenas para pernoitar nos estacionamentos de acampamentos ou se hospedando em pequenas cabanas de madeira "do tamanho de um galinheiro", de acordo com o jornal, geralmente situadas entre um posto de gasolina e um armarinho.
O que Heineman propunha tinha ares palacianos para estes padrões. Custou US$ 80 mil ou quase R$ 1,5 milhão (R$ 8,5 milhões ajustados para a inflação de 2025) para erguer o hotel em estilo espanhol, com uma torre de sino de três andares, colunas e um quintal rodeado por árvores. Até 160 pessoas podiam se hospedar ao mesmo tempo no Milestone Mo-Tel, depois rebatizado de Motel Inn.
Todo o complexo possuía seis bangalôs para até cinco pessoas, além de apartamentos que comportavam de um a três hóspedes. Cada uma das unidades tinha garagem própria com tranca, segundo o Los Angeles Times, e confortos de hotéis de primeira como chuveiros, aquecimento central e carpete. Na área comum, hóspedes podiam usar uma cozinha, uma lavanderia, playground e quintal.

Seu anexo ainda tinha o lobby, com telefone e rádio, um pavilhão de dança e uma sala de jantar. Os preços eram acessíveis - de US$ 1,25 a US$ 3 por dia ou cerca de US$ 23 a US$ 55 atuais - mas sem a obrigatoriedade de dar gorjetas aos funcionários de um estabelecimento convencional. Apesar disso, uma reportagem do jornal Chicago Tribune descreve que havia quartos especialmente para motoristas particulares.
Marcella Faust, uma das primeiras garçonetes contratadas pelo Milestone, contou ao Seattle Times em 1993 que ela e as colegas dobravam rebuscados guardanapos de tecido, poliam pratarias e abraçavam o estilo espanhol nos uniformes, usando chapéus grandes com rosas. Entre as tarefas atribuídas a elas estava "convidar" os viajantes a entrar, entregando também panfletos na beira de estradas em que motoristas viajavam a velocidades muito menores do que as atuais.

Anonimato... e sexo
Oferecendo uma combinação de conforto, acessibilidade, privacidade e até um pouco de anonimato, o motel logo se tornou um hit com a classe média e ganhou concorrência. O plano do próprio Heineman, seu idealizador, era transformá-lo em uma rede de, pelo menos, 18 unidades espalhadas pela Califórnia. Mas, em 1929, chegou a Grande Depressão e a crise econômica interrompeu o sonho do arquiteto. Novos motéis que abriam pelos EUA passaram também a se adaptar aos tempos, tornando-se cada vez mais simples - o que afastou as famílias que buscavam maior infraestrutura.
A atmosfera toda é a de um encontro com um amante - de um lugar secreto de um caso às escondidas - rapidamente entrando e fugindo.
Estudo de 1935 sobre sexo em motéis publicado pela Universidade Metodista do Sul e reproduzido pelo Chicago Tribune.
A reputação de local de encontro para sexo só chegaria ao Brasil nos anos 60, quando os primeiros motéis adaptados à nossa realidade - e ao desejo dos brasileiros - desembarcaram em São Paulo e no Rio de Janeiro, aproveitando-se do movimento de liberação sexual contrastante à atmosfera de vigilância social do regime militar.
No entanto, até os anos 40, os motéis americanos já haviam ganhado nova fama. O diretor do FBI, J. Edgar Hoover, os chamou de "novo lar do crime na América" em um artigo que escreveu para uma revista, dizendo que neles se encontrava doenças, subornos, corrupção, bandidagem, estupro, escravidão branca, roubos e assassinatos.
O cineasta Alfred Hitchcock não fez nenhum favor aos motéis também, matando Janet Leigh na icônica cena de "Psicose" dentro do chuveiro do Bates Motel.
O imaginário mudou e o motel de conforto que atendia a famílias mais abastadas vislumbrado por Heineman já não era mais viável. Em 1991, o Motel Inn fechou as portas. Nos anos seguintes, parte de sua estrutura foi demolida.
Hoje resta aos curiosos apenas a torre principal, que pode ser vista no número 2223 da rua Monterey, na saída da Rodovia 101, em San Luis Obispo. E, é claro, um legado que mudou como se viaja e se hospeda nos EUA e em outros países do mundo.
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