Desenhos de 12 mil anos atrás podem ser o calendário mais antigo do mundo

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Um estudo publicado na revista científica Time and Mind indica que inscrições identificadas em pedras esculpidas em um templo no sul da Turquia dão forma ao que seria o calendário lunissolar mais antigo do mundo.
A pesquisa descreve mais uma série de registros descobertos no sítio arqueológico Göbekli Tepe. O famoso templo data do período neolítico, há cerca de 12 mil anos. Publicado em julho de 2024, o estudo foi conduzido por Martin B. Sweatman, da Escola de Engenharia da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
Em seu estudo, Sweatman explica como os conceitos da arqueoastronomia o auxiliaram na análise das marcas descobertas na Turquia. Este ramo da ciência pesquisa a influência da astronomia no cotidiano de povos antigos, como as diferentes culturas observavam o céu e de que forma materializavam estas observações.
Decodificar os alinhamentos astronômicos e o simbolismo de um antigo sítio megalítico pode fornecer percepções sobre a cultura [do povo] que o construiu e que viveu lá.
Sweatman
O simbolismo encontrado em Göbekli Tepe é reforçado com as inscrições descritas por Sweatman. De acordo com o pesquisador, as formas desenhadas em um dos pilares do templo podem ser interpretadas como parte de um sistema de calendário lunissolar, ou seja, que leva em consideração os movimentos lunar e solar para contar os dias e os meses de um ano.
O calendário e uma chuva de meteoros
A partir das observações do Sol, da Lua e das constelações, os povos antigos eram capazes de formular o calendário. Nas marcas identificadas, cada símbolo V gravado na pedra representa um único dia, segundo o estudo. Em um dos pilares, Sweatman identificou um calendário formado por 11 meses lunares mais 10 dias extras (gravura ilustrada no início da reportagem).
Os desenhos encontrados representam as interpretações do céu. Um dos pilares, por exemplo, tem duas fileiras de símbolos V e pequenos símbolos de caixa. Na parte inferior da estrutura, há um símbolo de disco redondo, sustentado pela asa de uma ave e, abaixo deste, está o símbolo de um escorpião.
Se o disco circular representa o sol, como esperado, então os símbolos animais provavelmente representam constelações. Em particular, o escorpião nos lembra da constelação grega de Escorpião. Sua posição em relação a um disco circular aponta claramente para uma interpretação astronômica.
Além das descobertas sobre o calendário da época, Sweatman descreve os símbolos que ilustrariam uma sequência de meteoros observada pelos povos antigos. Segundo o especialista, o calendário parece ter sido criado como um memorial a um impacto devastador de um cometa, cujos fragmentos atigiram a Terra há cerca aproximadamente 13 mil anos.
Em um dos pilares do templo, os símbolos V e desenhos de animais indicam a chuva de meteoros conhecida como Táuridas (Taurid, em inglês) se movendo entre as constelações de Aquário e Peixes. Os especialistas acreditam que a Táuridas seja justamente a fonte desses fragmentos. "Esses símbolos podem contar a duração da chuva de meteoros a partir da direção de cada constelação conforme o ponto radiante se move ao longo de quase um mês lunar", diz o estudo.
As esculturas identificadas no templo Göbekli Tepe foram fundamentais ao povo local por milênios. "Parece que os habitantes de Göbekli Tepe eram observadores atentos do céu, o que era de se esperar, visto que seu mundo havia sido devastado pela queda de um cometa", relatou Sweatman ao portal especializado EurekAlert!. "Este evento [o cometa] pode ter desencadeado a civilização, dando início a uma nova religião e motivando o desenvolvimento da agricultura para lidar com o clima frio. Possivelmente, suas tentativas de registrar o que viram são os primeiros passos para o desenvolvimento da escrita milênios depois".
Para Sweatman, os locais tinham diferentes razões para estudar o cosmos. Segundo o especialista, os responsáveis pelos desenhos em Göbekli Tepe buscavam, por meio da astronomia, entender as condições do céu para que os recursos sazonais pudessem ser otimizados e para facilicar a programação de atividades comunitárias na região.
Parece, portanto, que uma forma primitiva de protoescrita [sistema de comunicação anterior aos alfabetos e símbolos, considerada a base para a criação da escrita] astronômica foi empregada, e talvez projetada, para alertar as gerações futuras sobre os perigos cósmicos que enfrentavam
Trecho do estudo publicado na Time and Mind
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