Festas no Brasil há 2.000 anos já tinham consumo de álcool, diz estudo

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Fragmentos de cerâmica encontrados na Lagoa dos Patos apontaram que já se consumia álcool no Rio Grande do Sul entre 1.200 e 2.300 anos atrás.
A conclusão é de uma investigação realizada por um grupo de pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha, da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e da Universidade de York, no Reino Unido, publicada pela revista científica PLOS One.
Como eram feitas as bebidas
Os artefatos foram encontrados em assentamentos de terra comuns em torno da Lagoa dos Patos. Estes sítios arqueológicos formados por pequenos "montes" no terreno são conhecidos como "cerritos" e foram construídos pelos ancestrais pré-coloniais de dois grupos indígenas dos Pampas: Charrua e Minuano.
Ao analisar isótopos e a composição biomolecular dos resquícios de cerâmicas, que podem ter servidos como tigelas e copos, os cientistas acharam não apenas vestígios de alimentos como peixes, mas também de bebidas alcoólicas fermentadas fabricadas à base de vegetais, como tubérculos, milho e folhas de palmeiras.

Para os estudiosos, os povos da região se reuniam em tornos dos montes —que teriam tido significado simbólico como locais de enterros, marcação do território e monumentos —para celebrar uma boa temporada de pesca. Ou seja, era hora de brindar com bons drinques e fazer um banquete.
Um estudo anterior que analisou os isótopos de restos mortais humanos encontrados na área dos "cerritos" indicou também que os frequentadores da região tinham dietas bastante diversas, ou seja, as pessoas viajavam dos arredores até a Lagoa dos Patos, possivelmente para algum destes eventos de grande simbolismo.
Festas já envolviam práticas "modernas"
"Os cerritos eram uma combinação de lugar doméstico e ritualístico, e o seu design elevado pode ter sido influenciado pelo ambiente local; eles provavelmente foram importantes para as pessoas e elevá-los [a um patamar] acima da potencial erosão causada por marés altas sazonais os teria protegido", comentou Rafael Milheira, um dos autores da pesquisa da UFPel, em comunicado conjunto dos estudiosos.
Sabemos que grandes reuniões e banquetes eram eventos culturais importantes do passado e da atualidade pelo mundo todo. Nós sugerimos que os povos pré-históricos da área teriam investido em produção de cerâmica em preparação para estas reuniões que atraíam as pessoas à Lagoa dos Patos para provar os frutos sazonais dos recursos aquáticos. Rafael Milheira, um dos autores da pesquisa, a respeito da celebração da pesca
A captura do cascudo ou corvina (Micropogonias furnieri) provavelmente exigia um grande esforço coletivo, acredita ainda a autora principal do estudo, Marjolein Admiraal, da Universidade de York. Isso explicaria porque as celebrações teriam exigido preparação, utensílios e atraído grandes grupos de pessoas.

Celebrações da abundância de peixes de uma espécie migratória, que não estaria sempre disponível na Lagoa, também poderiam servir como a oportunidade perfeita para realizar casamentos e até funerais, entre outros eventos de grande significância para a cultura da época.
A análise química dos produtos presentes nas cerâmicas revelou ainda que alimentos e bebidas eram aquecidos, armazenados e passavam por processos de fermentação —ou seja, os primeiros brasileiros já eram bons de cozinha, acredita Oliver Craig, da Universidade de York.
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