Primeiro caviar africano vem de Madagascar e já custa R$ 70 mil por quilo

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O primeiro caviar a ser produzido na África se tornou uma iguaria cobiçada —e de altas cifras. O quilo do caviar Rova, fabricado pela Acipenser em Madagascar, sai por mais de R$ 70 mil.
O valor do produto, lançado experimentalmente em 2017, é explicado pelo seu recente sucesso, já que vem conquistando a indústria gastronômica de luxo, apontou uma reportagem da rede americana CNN.
Aposta de ouro
Delphyne Dabezies se apaixonou pela ideia de produzir caviar na África há cerca de 15 anos. A francesa fundadora da Acipenser trabalhava no comércio têxtil quando viu um programa na televisão que falava sobre a criação de esturjão —o peixe do qual são extraídas as ovas— na França e decidiu que queria tentar fazer o mesmo em Madagascar, para onde tinha se mudado.
O problema? Ela não tinha o menor conhecimento de como era feita a produção do caviar. No entanto, ela e o marido Christophe, além do amigo Alexandre Guerrier, se recusaram a abandonar a ideia.
"Ninguém no começo achou que era possível e ninguém queria nos ajudar", contou à CNN. A localidade era um fator que pesava na opinião dos entendedores do assunto, já que historicamente o melhor e mais tradicional caviar do mundo é tirado das frias águas russas do Mar Cáspio. A África parecia um berço improvável —senão impossível— para as ovas não-fertilizadas do esturjão. "Todo especialista nos dizia que era impossível."

Até que uma francesa expert em criação de esturjão, mas já aposentada, veio passar as férias em Madagascar. Françoise Rennes topou o desafio de ajudá-los a tirar o sonho do papel. Um dia, quando dirigiam até a casa de férias de Delphyne, o grupo avistou o lago Mantasoa, nas montanhas ao leste da capital Antananarivo.
Justamente por estar situado em uma altitude de 1.400 metros, o clima do lago é de uma zona temperada —mesmo que esteja bem no meio dos trópicos.
Porque suas águas entre 13ºC e 23ºC não são tão quentes quanto as de outras áreas na África, mas não tão frias quanto aquelas em que o esturjão naturalmente vive no Cáspio, por exemplo, os peixes crescem ali o ano todo —e as seis espécies de esturjão mantidas ali por Delphyne acabam chegando à fase madura para a coleta das ovas dois anos mais rápido do que em outras partes do globo.
Esta conquista foi essencial para o sucesso do trio: geralmente, um esturjão leva de oito a 20 anos para chegar ao seu ponto de maturação. No entanto, em 15 anos de empresa, a Acipenser já conseguiu fundar duas marcas: o caviar Rova e Kasnodar. O Rova, primeiro a ser produzido, só foi lançado experimentalmente em 2017, mas não foi bem recebido da noite para o dia.
Caviar-sensação
"Todo mundo ria, era uma piada. Mas o único jeito de provarmos que o [nosso] caviar era excelente era degustando", relembrou Delphyne à CNN. Até que ela decidiu levar o Rova até a exposição culinária Sirha Lyon, na França, em 2019. Desde então, ele foi incluído no menu do hotel cinco estrelas Hôtel de Crillon, em Paris, e do Hôtel du Palais, em Biarritz, entre outras cozinhas conceituadas no mundo todo.
Julia Sedefjjan, a mais jovem chef a comandar um restaurante com estrelas Michelin na França, criou um prato com o Rova para o jantar de gala La Grande Tablée, em Paris, em dezembro. Ela descreveu o caviar à rede americana como "adequado a todos os paladares", com "um sabor amanteigado similar a um brioche" e um "toque final de avelã".
O caviar de Madagascar vem, aos poucos, se tornando uma curiosidade. E muito bem avaliada. Atualmente, o Rova mais caro sai por 11.670 euros ou pouco mais de R$ 70 mil, por quilo. Agora, o objetivo do trio da Acipenser é finalmente produzir o caviar Beluga, o mais caro e luxuoso, já que esta espécie de esturjão tem o maior tempo de maturação.
Os primeiros espécimes chegaram a Madagascar em 2024. A expectativa é que as primeiras ovas possam ser coletadas ainda este ano.
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