Segredos dos parques: como brinquedos são criados para desafiar a gravidade

O carrinho da montanha-russa começa uma subida lenta enquanto seus ocupantes se preparam para o choque de adrenalina que está por vir durante a queda em alta velocidade. A diversão que dura cerca de 90 segundos passa rápido, no entanto, para estar disponível ao público foram necessários anos de desenvolvimento.

Esses são os projetos mais complexos do mundo, porque eles têm que ser extremamente seguros e feitos com uma engenharia perfeita. Além disso, precisam contar uma história e levar os visitantes a esse universo imaginário. Shelby Honea, diretora-executiva de produção da Universal Creative

Ela foi uma das responsáveis pela criação da montanha-russa VelociCoaster, que fica no Universal Islands of Adventure, em Orlando (EUA).

A busca pela perfeição —e segurança— de uma atração de parque de diversão toma tempo. Além de criatividade, é preciso visão de futuro. A pergunta "o que os visitantes vão querer ver nos próximos anos?" é o que guia essas equipes.

"Tron", da Disney
"Tron", da Disney Imagem: Divulgação

Segundo Honea, a Universal leva, em média, de quatro a seis anos para finalizar uma nova atração para seus visitantes. Contanto, ela diz que existem brinquedos que levaram quase uma década para chegar aos parques. Na Disney, o tempo é um pouco diferente.

Depende de muitos fatores e do que estamos fazendo. A montanha-russa de 'Guardiões da Galáxia', que fica no Epcot [parque temático em Orlando], por exemplo, levou cerca de dois anos para ser construída após anos de testes, designs e ajustes. Mas algo que vamos apenas revitalizar e trazer um toque de mágica, pode levar cerca de dois meses. Wyatt Winter, produtor executivo da Walt Disney Imagineering

O nome das áreas responsáveis pela criação das atrações deixa claro qual é a característica mais importante deste trabalho: uma mente sem limites.

A Disney chama sua equipe de "Imagineering", uma mistura de imaginação com engenharia.

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Já a Universal de "Creative", que significa "criativo" em português.

Como nascem os brinquedos

"VelociCoaster", na Universal
"VelociCoaster", na Universal Imagem: Divulgação

A criação de um novo brinquedo no parque de diversão é crucial para continuar atraindo o público. Conforme os números divulgados pela própria Disney, os parques do complexo tiveram um aumento de 5% no lucros em 2024, alcançando a arrecadação de US$ 34 bilhões.

Mas de onde surgem tantas ideias novas? Da necessidade dos parques, que algumas vezes percebem que algumas áreas precisam de novas atrações para atender os visitantes, do lançamento de novos filmes, que precisam ganhar destaque, ou até mesmo ideias que aparecem em reuniões.

'Frozen Ever After', da Disney
'Frozen Ever After', da Disney Imagem: Divulgação
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"Não tem uma explicação única sobre a criação de novas atrações. Às vezes, queremos apenas renovar alguma que já existe, dar um toque de amor e deixá-la pronta para as novas gerações. Outros projetos podem começar a partir da ideia de um imagineer ou pela necessidade dos parques", diz Winter.

Definido o que é preciso, é hora de colocar a mão na massa. "Nós dividimos o desenvolvimento em fases. A primeira é a 'ideia', em que tudo é possível, a segunda é 'viabilidade', em que acrescentamos alguns elementos de engenharia à ideia escolhida para saber como o brinquedo se comportará na vida real. A terceira é a 'conceito', quando o design e a criação se juntam ao desenvolvimento para criar a história e detalhes técnicos. E a última é a 'entrega', quando o projeto está pronto para a construção", explica Honea.

 "Tiana's Bayou Adventure", na Disney
"Tiana's Bayou Adventure", na Disney Imagem: Olga Thompson/Olga Thompson, Photographer

A Disney faz mistério sobre suas etapas de criação. "Tudo começa com alguns de nós juntos, com papel e lápis na mão. Quando temos a ideia, nos juntamos a designers, diretores criativos, roteiristas de atração e começamos a pensar qual história aquele brinquedo vai contar. A narrativa define o layout do que vamos construir", explica Winter.

Segurança em primeiro lugar

Para que os visitantes possam disparar em alta velocidade, fazer repetidos loopings e gritar com as mãos para cima, a segurança dos brinquedos é primordial. É responsabilidade desses times garantir que tudo dê certo.

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Antes que qualquer pessoa entre no brinquedo pela primeira vez, ele é testado por meses, com o carrinho andando vazio. Quando sentamos para usá-lo já sabemos que é extremamente seguro. Wyatt Winter, produtor executivo da Walt Disney Imagineering

Elementos de segurança são acrescentados na segunda etapa do processo, para que os engenheiros já comecem a avaliar se o sonho é seguro. Com um modelo de teste pronto, eles conseguem ver exatamente todos os movimentos que o brinquedo fará.

 "VelociCoaster", na Universal
"VelociCoaster", na Universal Imagem: Divulgação

"A gente tem pequenas maquetes, pedaços de trilhos para testar. Queremos ter certeza de que, em primeiro lugar, tudo é muito seguro. É como um balé, conhecemos a coreografia. Existem pessoas que ficam oito horas por dia checando esses brinquedos para garantir que tudo está perfeito", explica o produtor executivo da Disney.

Produção em números

Winter e Honea têm muita experiência no mercado de parques de diversões. A diretora da Universal já tocou, de alguma forma, em 30 brinquedos diferentes. Já o produtor executivo da Disney, que está há 20 anos na empresa, diz que nunca contou, mas que "algumas dezenas" passaram por suas mãos.

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Esses não são os únicos números que impressionam. Winter foi uma das primeiras pessoas a andar na montanha-russa dos Guardiões da Galáxia. E para garantir que tudo estivesse perfeito, ele continuou indo no brinquedo repetidas vezes.

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Imagem: Divulgação

"Antes de abrir, eu andei na montanha-russa 575 vezes. E nem tenho o recorde. Tem uma pessoa que testou o brinquedo 620 vezes", conta. Tudo isso para garantir que a apresentação dentro do brinquedo estivesse exatamente como eles planejaram para os visitantes com luzes, sons e efeitos especiais.

Outro número impressionante é a quantidade de funcionários necessários para construir uma atração. Para a VelociCoaster, foram mais de 2.300 pessoas envolvidas.

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Imagem: Divulgação

"São vários times. Tem cabeleireiros, maquiadores, figurinistas, escultores —de dinossauros e de pedras— o time de produtos, o time criativo interno, pintores, construtores, designers, arquitetos, engenheiros, engenheiros de luzes, engenheiros de segurança. A lista é muito grande", enumera Honea.

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São apenas 90 segundos para você, mas um time de 2.300 pessoas que a construiu, mais de 600 testes físicos e uma década para a construção.

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