Medellín além do passado: um guia para explorar a cidade que se reinventou

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Se "violência" é a primeira palavra que você pensa ao ouvir falar de Medellín, na Colômbia, você está meio certo, mas um tanto desatualizado. A cidade que ocupa um vale da Cordilheira dos Andes não é chamada de "Eterna Primavera" à toa. O lugar renasceu como exemplo de inovação e passou a acolher turistas com cultura, lazer e atividades ao ar livre.
Ao contrário dos brasileiros, que resistem a enfrentar os traumas de 21 anos de ditadura militar, os colombianos não escondem seus recentes anos sombrios. As marcas deixadas entre as décadas de 1980 e 1990 pela guerra às drogas, num cenário de disputa entre os cartéis de Cali e de Medellín intensificado pela presença de guerrilhas e paramilitares, foram ressignificadas em lugares como o Parque Inflexion, a Casa de La Memoria e a Praça Botero.

É seguro ir para Medellín?
Esta foi a pergunta que mais ouvi quando contava sobre a viagem. Minha resposta: sim. É claro que vale ficar atento como em outras metrópoles sul-americanas, mas o cenário não é mais de conflito armado que ficou marcado no ideário que temos da cidade.
Os números comprovam: no ano passado, a taxa de homicídios foi a menor registrada em 82 anos, contabilizando 11,04 a cada 100 mil habitantes — ainda relativamente alta, sim, mas muito diferente dos 416 por 100 mil habitantes em 1991, quando a cidade era tida como a "capital mundial do assassinato".

Aos olhos dos estrangeiros, a virada aconteceu em 2013, quando o município foi eleito "o mais inovador do mundo" pelo instituto norte-americano Urban Land. Entre as explicações está a originalidade na criação de espaços públicos e na implementação de transportes públicos diante de um terreno montanhoso, populado de forma densa e desenfreada.

Escadas rolantes no meio de uma comunidade, teleférico para ir das bordas à região central e parques construídos sobre o rio são algumas das atrações inusitadas que atraem os visitantes interessados em ver de perto a inspiradora transformação da cidade.
A seguir, confira dicas práticas e um guia com as principais atrações e o que há de mais interessante dá para fazer durante a viagem.

Como chegar?
Há dois meses, a Avianca inaugurou uma rota direta que conecta Medellín a São Paulo, tornando o trajeto mais confortável — antes era necessário fazer escala em Bogotá — e rápido. Cada trecho leva 6 horas.
O novo voo parte sempre às quartas, sextas e domingos do Aeroporto Internacional de São Paulo, às 3h da manhã, e aterrissa em Medellín às 7h. O trajeto contrário rola às terças, quintas e sábados, saindo da Colômbia às 17h50 e desembarcando no Brasil 1h55 da madrugada.
Quando ir?

Com temperatura média de 24°C, Medellín tem um clima ameno durante todo o ano. Além disso, a quantidade de árvores ajuda a reduzir o calor e a poluição, contribuindo para uma sensação térmica mais agradável.
Na hora de agendar a viagem, vale estar ciente de que os meses menos chuvosos são de dezembro a março, mas que é em agosto que a cidade entra em festa com a tradicional Feira das Flores.
O evento que celebra os mais de 500 anos do cultivo e da venda de flores movimenta o comércio e leva as pessoas às ruas para assistir a desfiles e festas.

Quantos dias ficar?
Um fim de semana é suficiente para conhecer as principais atrações, mas em quatro dias você pode passear com mais calma e incluir passeios a regiões vizinhas.

Entre as opções estão visitar as charmosas plantações de flores de Santa Elena ou a surpreendente região de Guatapé, às margens do Embalse del Peñol, uma das maiores represas do país.
Se tiver disponibilidade, é fortemente recomendado estender o roteiro para curtir a encantadora cidade amuralhada de Cartagena e as belas praias de San Andrés (saiba o que fazer na ilha mais barata do Caribe).

O que fazer em Medellín?

Comuna 13
Se leu alguém falando que visitar a vista a Comuna 13 é imperdível, acredite. O bairro que já foi considerado um dos mais perigosos do mundo agora recebe turistas interessados em conferir não só as famosas escadas rolantes, mas sobretudo a pulsante cultura local.
Especialmente para quem sai de países com uma realidade de desigualdade social semelhante à Colômbia, viver as experiências artísticas da comunidade — como ir às galerias de grafite e assistir às apresentações de dança e de rima — renova as esperanças em relação a um futuro mais pacífico e igualitário.

Quem curte provar comidinhas locais tem uma lição de casa: provar o refresco de manga congelada no Cremas Dona Consuelo. A graça é ir molhando o picolé no suco de limão com sal conforme se come, adicionando um toque ácido e salino ao doce da fruta.

Parque Inflexion
O Edifício Mónaco, um dos refúgios do narcotraficante Pablo Escobar, foi demolido em fevereiro de 2019. Nove meses depois, uma parceria público-privada ergueu no lugar um monumento de homenagem às vítimas do período de violência.
Cada buraquinho na bonita estrutura feita de pedra representa uma morte. De alguns deles, sai uma rosa branca. Ao redor da praça, totens com informações trazem detalhes da guerra às drogas.

Além de eternizar a memória, a iniciativa revitalizou uma área abandonada, marcando o compromisso de renovação urbana com a criação de espaços públicos de lazer e convivência.
Praça Botero e Museu Antioquia
Um dos principais pontos da cidade poderia ser mais bem cuidado. Como é desconfortável passear pelos arredores, vale pegar um transporte para chegar diretamente na praça, seja de metrô (estação Parque Berrío) ou de carro de aplicativo, e conferir as 23 esculturas de bronze doadas por Fernando Botero.

O artista, que nasceu em Medellín e ficou mundialmente famoso pelas obras que trabalham o volume dos corpos, também tem quadros expostos no Museu de Antioquia, que fica ali mesmo. Instalado na antiga sede da prefeitura, a atração cultural também explora temas da história da arte, religião e cultura colombiana.

Parque Explora
Esse é mais um exemplo de como Medellín sabe se reinventar. Onde antes funcionava uma antiga lixeira nasceu o museu dedicado à ciência e tecnologia. Instalado numa área de 22 mil metros quadrados, conta com 300 experiências interativas para crianças e adultos.

Entre elas, viveiros de animais, dinossauros animatrônicos, exposições e o aquário, que à época da inauguração (2007) foi considerado o maior de água doce da América Latina.
Com entrada gratuita para moradores de baixa renda, o parque é um símbolo de transformação social e inclusão. Inclusive, levou o título de museu mais visitado da Colômbia por diversos anos.

Via Provenza
Se esta foi eleita pela Time Out uma das 33 ruas mais "cool" do mundo, não é você que vai perder. Além do reconhecimento de ficar em 15º lugar no ranking, o lugar deu o nome à famosa música de Karol G, que nasceu em Medellín e faz sucesso internacionalmente com reggaeton e trap latino.

A atração são os inúmeros bares, restaurantes, barraquinhas e baladas. O agito é tanto que se estende pelas vias vizinhas, que são conectadas por um charmoso ziguezague de luzes coloridas.
Andar de metrô e Metrocable
Na maior parte dos destinos, o metrô não entraria numa lista de atrações turísticas. Em Medellín, porém, o transporte foi um divisor de águas tanto na mobilidade quanto na inclusão da população. Trata-se de um motivo de orgulho para os moradores, que cuidam com empenho dos trens e das estações.

Com um mesmo bilhete, é possível fazer integração para linhas de ônibus, utilizar as bicicletas públicas e embarcar no Metrocable. Esse é o nome que se dá ao teleférico que liga bairros periféricos na montanha a pontos centrais da cidade.
Inovadora, a rede de transportes públicos diminuiu o tempo de deslocamento médio de 2 horas para 30 minutos e impactou de forma direta na economia e na sociedade, sendo uma aliada também no combate à violência.

Santa Elena: Parque Arví e La Casa del Silletero Familia Londoño
Com um dia a mais no roteiro, não perca a visita à Santa Elena, que está coladinha em Medellín. Bastam 18 quilômetros de carro ou algumas estações de Metrocable para encontrar um ambiente completamente diferente: tranquilo e bucólico.
Quem pega o teleférico desembarca direto no Parque Arví, uma reserva natural com 17.000 hectares. Protegida desde 1970, oferece trilhas a pé, de bicicleta ou a cavalo, além de opções para camping e piquenique.

Um dos passeios mais autênticos, que apresenta costumes tradicionais aos turistas, é La Casa del Silletero Familia Londoño. Os visitantes conhecem os campos e a história da família, que há várias gerações se dedica à cultura silletera de plantar e comercializar flores.
Santa Elena vale não só um bate-volta, como uma diária. Há pousadas e casas para locação com uma vista incrível das montanhas.
Guatapé
São dois motivos que levam pessoas a percorrer 2 horas de estradas sinuosas até Guatapé. O primeiro é estar à beira de uma das maiores reservas do país, visível do alto da pedra El Peñol para quem estiver disposto a subir 649 degraus e chegar ao topo da rocha de 220 metros de altura.

O segundo é o colorido centro da cidade, onde a tradição é desenhar nos rodapés as mais variadas formas. Além de observar as histórias contadas pelos desenhos, o público pode passear pelas lojinhas, comer nos restaurantes ou fazer um passeio de barco pela represa.

5 lugares para comer em Medellín
Para quem procura uma cozinha contemporânea que valoriza os produtos:
Sambombi: Carrera 35 # 7 - 10. @sambombi.bistro
Para provar pratos típicos como a chamada bandeja paisa:
La Matriarca: Calle 8 # 43b-62. @restaurantelamatriarca

Para uma refeição rápida estilo fast food, mas com qualidade
Criminal Taqueria: Carrera 35 # 8A - 125. @criminaltaqueria
Para tomar os famosos cafés especiais produzidos na Colômbia:
Típica: Calle 5Sur # 42 - 17. @tipicaguiadecafe
Pergamino Café: Carrera 37 # 8A - 37. @pergaminocafe
Para bebericar bons drinques autorais num lindo rooftop
Mamba Negra: Calle 2 # 20 - 50. @mambanegra.22

* A repórter viajou a convite da Avianca
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