Adaga nas costas e sem os pés: o misterioso esqueleto achado na Espanha

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Durante as construções de um complexo de painéis de energia solar, uma fortaleza de quase 5.000 anos foi encontrada em Almendralejo, na Espanha. As escavações realizadas no local revelaram aos arqueólogos um misterioso esqueleto enterrado junto a uma adaga —e sem os pés.
O que aconteceu
O esqueleto surpreendeu os especialistas pelas circunstâncias do sepultamento. Segundo reportagem do jornal espanhol El País, a cova foi encontrada perto de uma das valas defensivas da fortaleza e continha os restos mortais de um homem entre 25 e 35 anos, deitado de bruços com um pugio (termo em italiano para adaga, uma espécie de punhal) posicionado em suas costas.
O esqueleto estava quase completo, exceto pelos pés, que, segundo a equipe responsável pela descoberta, parecem ter sido cortados. Segundo o jornal, "a cova mal tinha profundidade suficiente para conter o corpo".
De acordo com os arqueólogos, a presença da adaga junto ao corpo indica que o homem, provavelmente, era um soldado romano. "O indivíduo pode ter desempenhado um papel militar, já que o pugio era a adaga padrão usada pelos legionários romanos", explicou César M. Pérez, diretor das escavações no local, ao El País.
A adaga foi encontrada em bom estado de preservação, intacta e ainda na bainha (espécie de estojo feito para proteger o objeto). Segundo o arqueólogo, a adaga é do final do século 1º a.C.
Armas também eram troféus de guerra. Os legionários romanos encontraram essas armas pela primeira vez durante as batalhas ferozes que travaram ao longo do século 2º a.C., quando as armas se tornaram valiosos troféus de guerra. Com o tempo, o pugio foi modificado e eventualmente adotado como equipamento padrão para legionários em todo o império, segundo o El País.
As características atípicas do sepultamento indicam um enterro 'misterioso'. No início, os arqueólogos debateram se os restos mortais pertenciam a um soldado ou a um civil que simplesmente adquiriu a adaga. No entanto, de acordo com Pérez, a colocação deliberada do pugio no enterro "é uma forma de indicar que ele era membro do exército e recebeu um enterro desonroso", uma prática rara neste período.
Segundo o El País, os pesquisadores estão tentando extrair DNA de um dos dentes do indivíduo encontrado na cova. Caso seja de fato um soldado, o esqueleto remete a um legionário da Legio VII Gemina, a única legião romana na região à época. Com os eventuais resultados, os especialistas esperam poder determinar as origens do homem e descobrir se as circunstâncias do enterro têm relação com um possível ritual cultural.
O pugio recuperado foi encaminhado para um laboratório para devida conservação. O objeto será submetido a tratamento laboratorial "para a sua análise, consolidação e estabilização parcial para garantir a sua preservação e evitar a deterioração", conforme explica o jornal espanhol.

Evidências indicam que fortaleza foi invadida e incendiada
A fortaleza foi descoberta durante pesquisas para a construção de um parque solar fotovoltaico da energética espanhola Acciona Energía. Após o complexo ser identificado, os arqueólogos implementaram protocolos para garantir a proteção do local. As escavações, lideradas pela equipe da empresa Tera S.L., começaram em 2021 e continuam desde então.
Os arqueólogos conseguiram identificar a estrutura da construção. Segundo os especialistas, a fortaleza de 4.900 anos em forma de pentágono era cercada por três paredes concêntricas (que têm um centro em comum), 25 baluartes (construída nos ângulos de uma fortificação, é uma porção do complexo que fica avançada em relação ao restante do edifício para protegê-lo) e três fossos. Dentro da fortaleza, os arqueólogos descobriram uma série de artefatos, incluindo pontas de flechas, machados, ferramentas de moagem e componentes de tear. Para os especialistas, esses objetos oferecem informações sobre a vida diária dos habitantes do local.

A fortificação incluía cabanas e um reservatório de água para sustentar a população em eventuais cercos. O complexo sistema de muros e valas, construído em pedra e terra, demonstra um planejamento cuidadoso que exigiu a coordenação de um grande grupo de pessoas. Este nível de organização sugere a existência de alguma forma de hierarquia ou liderança capaz de supervisionar um projeto desta escala. A sofisticação do desenho defensivo e a necessidade de uma mão de obra significativa reforçam a ideia de uma comunidade estruturada e bem organizada Arqueólogo César M. Pérez ao El País
Os arqueólogos encontraram também evidências de incêndio, especialmente em áreas estruturais importantes da fortaleza. Conforme análise dos especialistas, uma das indicações mais convincentes de que o incêndio que atingiu a construção foi intencional é a presença de portas de madeira carbonizadas embutidas em paredes de tijolos de barro, longe de qualquer risco natural de incêndio. As pontas de flechas encontradas no local "apoiam ainda mais a teoria de um cerco violento que levou à queda do assentamento", explica o El País.

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