Poderia ser uma vila grega, mas fica nos EUA: bem-vindo a Tarpon Springs

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Existe um pedaço da Flórida em que as bandeiras norte-americanas são substituídas pelas gregas. Em que o hambúrguer e o waffle dão lugar às saladas gregas, aos polvos grelhados, souvlakis e mousakas. E em que as ruas deixam de ter Johns e Washingtons na grafia e passam a ser a Dodecanese Boulevard e a Athens Street.
Essa é a vila de Tarpon Springs, um centro da tradição grega na Flórida.

São só 25 mil habitantes, mas a cidade com placas e bandeiras mais azuis que vermelhas recebe um milhão de visitantes por ano.
Não é daquelas encontradas só por quem vai desbravar cidades pouco chamativas. Tarpon Springs está a só meia hora da famosa praia de Clearwater, na beira do Golfo do México — localização que, aliás, deu fama à cidade.

Além de comunidade grega, ela é conhecida como a capital mundial das esponjas do mar — e é claro que essa relação não é à toa.
Foram os imigrantes gregos que transformaram o que era uma vila em um centro de exportação de esponjas marinhas no início do século 20 — e hoje, em cidade turística com restaurantes gregos de frente para o rio, passeios de barco, lojas de roupas praianas e de venda de esponjas do mar.

Origem grega
No fim dos anos de 1800, as esponjas que crescem no fundo do Golfo do México passaram a atrair mergulhadores gregos por influência de John K. Cheyney, banqueiro da Filadélfia que estabeleceu a primeira empresa de coleta de esponjas em Tarpon Springs.

Empresário visionário, ele reconheceu o potencial econômico das esponjas na região e contratou mergulhadores gregos para aprimorar as técnicas. Os trabalhadores gregos foram chegando até a primeira metade do século 20, vindos das ilhas de Simi e Kalymnos, parte das Ilhas Dodecanese da Grécia.
Depois, a família se juntou, vieram os filhos e assim nasceu a comunidade grega na Flórida. Agora, um a cada dez residentes de Tarpon Springs é descendente grego, colocando na cidade a maior porcentagem de gregos-americanos do País.

Quem veio primeiro
Em Tarpon Springs não existe dúvidas naquela história de quem veio primeiro: os turistas ou os restaurantes.
A indústria de esponjas criou a necessidade de lugares para comer nas docas para as tripulações dos barcos, e assim vieram os restaurantes gregos.

Depois, quando a notícia sobre as esponjas se espalhou, as pessoas começaram a ir às docas para ver essa atividade incomum. Foi então que lojas foram abertas para que esses visitantes comprassem esponjas e outros souvenires. Claro que com o passar do tempo, mais lojas e restaurantes foram inaugurados. Hoje são cerca de 125 lojas e 25 restaurantes, muitos ainda administrados pela mesma família desde a fundação.

Apesar da quantidade de turistas indo para lá e para cá na rua principal, a Dodecanese Boulevard, a tradição se mantém. Cerca de 7% da população fala grego em casa, a Igreja Ortodoxa Grega (inspirada na Santa Sophia, de Istambul) é ponto de encontro e os times de esportes das high schools são apelidados de "spongers".

Quem visita se depara com uma combinação de herança cultural e turismo. De um lado da rua estão os barcos ancorados com suas redes cheias de esponjas do mar em frente ao calçadão por onde passeiam turistas sorridentes. Do outro, uma mistura inusitada do aroma de cordeiro com o do melaço para doces como a baklava e com os tantos sabonetes naturais vendidos nas lojas junto com as esponjas.
É só ao dar de cara com as esponjas de Tarpon Springs que se dá conta da variedade de tamanhos, texturas, tons e usos de cada uma. Além das esponjas para o corpo, há aquelas para lavar o carro, para aplicar maquiagem e até para decoração de mesa.

Mergulho à moda antiga
Para aprender mais sobre toda essa variedade e como elas são colhidas, é só fazer o tour de meia hora em um barco de mergulho, o St. Nicholas Boat Line.

Um mergulhador coloca o autêntico equipamento de mergulho, formado por um macacão grosso de lona impermeável e pesada, um capacete de cobre e latão com uma mangueira de ar conectada a uma bomba de ar na superfície, botas de chumbo para ajudar a afundar, cintos de chumbo para permitir que ele se mova no fundo do oceano e luvas grossas para coletar as esponjas com proteção (é graças ao fato de serem colhidas manualmente que a base das esponjas continua intacta, o que possibilita a regeneração natural).

Depois de alguns minutos, ele ressurgirá na superfície com a esponja, trazendo à tona o que já foi o mais importante produto de exportação da Flórida. Agora, as esponjas são colhidas em menor escala, para serem exportadas para mercados especializados em produtos naturais e ecológicos ou então vendidas para os turistas que descobrem Tarpon Springs.
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