Não era lenda? Labirinto do Minotauro pode ter sido descoberto na Grécia
Colaboração para Nossa
08/08/2024 05h30
Arqueólogos podem ter localizado na ilha de Creta, na Grécia, o (até então) mítico labirinto do Minotauro.
De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Cultura da República Helênica, escavações realizadas no último mês de junho a 494 metros acima do nível do mar no topo do Monte Papoura, na cidade de Kastelli, revelaram um "conjunto arquitetônico monumental" em formato circular e com camadas que teria sido erguido entre 2.000 e 1.700 a.C., durante a civilização minoica.
Quem eram os minoicos?
Os minoicos teriam sido uma das primeiras civilizações da Europa, ainda no período Neolítico, mas já conhecidos pela arte vibrante, arquitetura elaborada e até escrita sofisticada. Eles ganharam este apelido de Sir Arthur Evans, arqueólogo britânico que trabalhou em escavações em Creta em 1900 e revelou parte do que hoje se conhecem como as ruínas do Palácio de Cnossos — perto de onde foi encontrado o novo complexo.
Foi Evans que realizou a conexão entre seus achados e os relatos — datados da mesma época — de lendas mitológicas sobre um palácio em que teria vivido o rei Minos, o pai do Minotauro — a criatura que era metade touro e metade homem. Ou seja, Cnossos não provou a existência dos mitos (e nem mesmo do infame monarca), mas de uma civilização capaz de contar essas histórias e até retratá-las em arte, já que o palácio possui um afresco de um touro saltando.
Até então, o Palácio de Cnossos é apresentado pelas próprias autoridades gregas como a casa do Minotauro, já que ele também possui uma estrutura labiríntica que se estende por 20 mil metros quadrados.
Qual é a história do Minotauro?
Segundo poemas do romano Ovídio, além de textos gregos e etruscos, o rei Minos teria competido com seus irmãos pelo trono de Creta e pediu ao deus dos mares, Posêidon, que lhe enviasse um touro branco como sinal do favorecimento dos deuses na disputa.
O touro depois deveria ter sido sacrificado em homenagem a Posêidon, mas Minos ficou encantado com sua beleza e decidiu mantê-lo para si. Para puni-lo, os deuses fizeram com que sua esposa, Pasífae, se apaixonasse pelo touro e ela pediu ao artesão Dédalo que lhe construísse uma vaca oca onde ela pudesse se esconder para fazer sexo com o touro.
Da união antinatural nasceu o Minotauro, com cabeça de touro e corpo de homem, que se tornou violento ao crescer e comia homens para se manter vivo. Minos então consultou o Oráculo de Delfos pedindo orientação sobre o que fazer com a criatura. Coube também a Dédalo erguer a solução: um labirinto onde ele ficaria preso em Cnossos.
O Minotauro volta a aparecer em outros relatos, o mais famoso dele envolvendo Teseu. Tudo começa com o príncipe Androgeu, filho de Minos, sendo morto pelos atenienses. Para deter a carnificina de jovens homens e mulheres de Atenas no labirinto, como forma de retribuição pela morte do cretense, o príncipe Teseu (filho do rei Egeu de Atenas) se prontifica a matar o indomável Minotauro.
No entanto, outra filha de Minos, Ariadne, se apaixona por Teseu e o ajuda a navegar o labirinto com um novelo. Teseu então mata o Minotauro e escapa graças à princesa.
Um novo labirinto para o mítico monstro?
A construção encontrada em junho foi descrita pelo governo local como "oito anéis rochosos sobrepostos de espessura média de 1,40 m, cada um deles construído em um nível diferente de elevação". A porção mais alta localizada tem 1,70 m, mas não se conhece a sua altura original. Até o momento, os gregos também não conseguiram determinar para que teria servido o espaço, apenas que a estrutura teria tido uma espécie de abóbada.
Foram achados dentro dos anéis um grande número de ossos de animais, o que não indicaria até o momento que pessoas teriam vivido ali. Os arqueólogos acreditam que as ossadas apontam para rituais com sacrifícios ocorrendo ali com alguma frequência, além de consumo de comida, vinho e realização de oferendas no tal labirinto.
"Este é o primeiro monumento deste tipo que já foi identificado e escavado em Creta. Seu tamanho, estrutura arquitetônica e construção meticulosa exigiram trabalho considerável, experiência especializada e uma forte administração central que organizasse [o projeto]", afirmou o Ministério em nota à imprensa. "O que é certo é que este é algum tipo de prédio da comunidade — um marco para a área".
Por isso, os pesquisadores estimam que o local tenha sido de grande importância para os minoicos e servisse a um grande número de pessoas. Apesar de seu ineditismo em relação a outras construções da mesma época de Creta, foram encontradas semelhanças em relação a tumbas fechadas do período pré-palaciano (entre 3.100 e 1.925 a.C.) do sul de Creta ou até santuários do período proto-helênico (2.200 a.C. a 1.900 a.C.).
Apesar de não haver ligação definitiva entre a história do Minotauro e este novo "labirinto", ao menos de acordo com os cientistas, estudar a área pode revelar mais sobre o modo de vida do minoicos e como teria surgido um dos personagens mais populares e fortes da mitologia grega.
Um imbróglio moderno
O achado foi acidental, já que a área passa por obras para a construção de um novo aeroporto que atenda a partir de 2027 a região de Heraklion e receba até 18 milhões de viajantes anualmente, segundo a agência Associated Press.
No entanto, a construção labiríntica foi considerada "'única e extremamente interessante" pelo próprio governo grego, que agora tem nas mãos uma situação delicada — o que fazer com o projeto do aeroporto?
Em nota, o Ministério da Cultura declarou que "a conclusão das escavações é considerada necessária para esclarecer o caráter do monumento e sua relação com os centros religiosos e residenciais do mesmo período na área". Por isso, "investigações das escavações para a construção do novo Aeroporto Internacional de Heraklion, assim como suas estradas ligadas a rodovias principais da região de Heraklion estão sendo realizadas pelo Comitê de Antiguidades".
Mais de 35 sítios arqueológicos já começaram a ser escavados para a continuação deste projeto. Por enquanto, o passado ganhou a briga com o futuro.