Amazônia do alto: turistas escalam e dormem pendurados em árvores gigantes
Nos últimos anos, o turismo em destinos da Amazônia parece ter se renovado muito pouco.
Mas na maior floresta tropical do mundo, basta subir para a gente se convencer de que uma viagem turística por ali pode ir além das tradicionais visitas a comunidades indígenas, focagem de jacarés e observação de botos.
Seja em Manaus ou em Autazes, a 100 quilômetros da capital do Amazonas, escalar uma árvore gigante é ter a chance de ver a floresta em diversas camadas, do nível das raízes à copa.
"É uma atividade que envolve o socioambiental, pois não agredimos uma folha sequer, e também proporciona a vista daquele manto verde. É como ver a Amazônia com outros olhos", descreve Fabiano Rodrigues Moraes, proprietário da Amazon Tree Climbing, agência pioneira em escaladas turísticas em árvores no Brasil.
Assim como ele conta para Nossa, adaptando técnicas de escaladas de sequoias da Califórnia para o bioma amazônico, é possível escalar espécies como um amapazeiro de 40 metros de altura ou uma samaúma a 50 metros do chão.
"São árvores com vistas impactantes", completa Moraes, empresário que já recebeu escaladores de 3 a 80 anos de idade, todos sem nenhum conhecimento de técnicas de escalada.
Como é escalar uma árvore na Amazônia
Sem registrar nenhum acidente em escaladas desde que foi inaugurada, há 15 anos, a agência de Moraes segue normas e técnicas estabelecidas pelo Inmetro e pela ABNT, e renova equipamentos de segurança a cada cinco anos.
Ele também lembra que a atividade é feita com um descensor, como os usados em alpinismo industrial, equipado com um freio antipânico que permite que o usuário desça a uma velocidade controlada.
Basta uma breve instrução ainda no nível do solo para o visitante logo se acostumar com cordas, cadeirinhas e mosquetões, em uma ascensão que dura de 20 a 45 minutos, a depender do número de paradas em diversos níveis das árvores.
Acompanhado sempre por instrutores, o visitante retorna usando técnicas de rapel.
"O maior desafio é o próprio medo", conta o gaúcho Moraes, empresário há 27 anos em Manaus.
Para a administradora de empresas Carolina Chicca, que só tinha tido experiência do tipo em paredões indoor, o mais importante foi a equipe de guias respeitarem o limite de cada um dos escaladores de primeira viagem.
"Quando olhei para baixo, eu já estava acima das copas das outras árvores. Dali para cima já não ia me fazer bem", conta.
Ainda assim, Carolina não esconde o poder transformador da experiência.
"Na Amazônia você está isolado e, ao mesmo tempo, totalmente imerso na natureza. Isso mudou a minha visão sobre o turismo", confessa essa paulistana que, desde que esteve no Norte do Brasil, trocou as viagens culturais e de compras por roteiros ao ar livre.
Carolina esteve na região em 2019 com um casal de filhos que na época tinham 8 anos e 10 anos de idade.
"Só da minha filha sair vitoriosa [chegando na copa da árvore], aquilo já me deixou feliz. Aquele ambiente [amazônico] é um negócio muito bonito", finaliza.
Nem medo de altura impede passeio
Um dos pontos de escalada turística mais antigos no Amazonas, onde Carolina e os filhos fizeram a escalada, é uma castanheira de cerca de 200 anos e 45 metros de altura, no Juma Amazon Lodge, hotel de selva no município de Autazes, a 100 quilômetros de Manaus.
O empreendimento é conhecido não só pelos 19 bangalôs sobre palafitas na copa das árvores, mas também pelo cardápio de atividades de ecoturismo como roteiros de canoa a remo por igarapés e escalada em árvores centenárias.
Localizada no terreno do hotel, a castanheira pode ser avistada a partir de um breve traslado de canoa que sai do próprio Juma Amazon Lodge, seguido de uma pequena caminhada até o pé da árvore.
Foi ali que, no ano passado, o paulista Thiago Coelho escalou com a esposa e os filhos de sete e dez anos.
"Quando ainda estamos pendurados [pelas cordas], mas sobre as copas das árvores, começa o espetáculo da vista da floresta", conta para a reportagem.
Para ele, porém, o ponto máximo da experiência foi alcançar a copa da árvore, onde os participantes são colocados sobre um galho no alto, devidamente presos ao equipamento de segurança, e chegaram a ver um bando de araras vermelhas voando.
Tenho medo de altura, não aquele que me impede, mas aquele que deixa as pernas tremendo e dificulta o raciocínio. Mas quando conseguimos vencer, traz um frenesi. Thiago
Já o empresário responsável pela atividade acredita que a experiência é uma valorização da floresta em pé, uma superação do medo de altura e um resgate da infância de cada um dos participantes.
"As pessoas não imaginam que uma árvore daquele tamanho pudesse proporcionar essa visão da natureza", descreve Moraes.
Fora do terreno do hotel, é possível realizar roteiros (a partir de R$ 450 por pessoa) em clássicos da Amazônia como o Encontro das Águas, que pode ser combinado com a escalada de uma samaúma na região do Lago Janauari, a uma hora de barco de Manaus, aproximadamente.
Os mais corajosos contam também com um roteiro que inclui não só escalada, mas também pernoite em redes penduradas entre os galhos da copa de uma samaúma de 50 metros, durante o verão amazônico, de agosto a outubro.
De resto, caro escalador de primeira viagem, é subir para ver aquilo que poucos tiveram a chance de ver em terras de árvores gigantes.
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