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Topless viral e escândalo de Kanye West: o que rolou na Paris Fashion Week?

Desfile de Bella Hadid para a Coperni, imersão na lama da Balenciaga e polêmica de Kanye West com o discurso "Vida Brancas Importam": os altos e baixos da PFW - Getty Images
Desfile de Bella Hadid para a Coperni, imersão na lama da Balenciaga e polêmica de Kanye West com o discurso "Vida Brancas Importam": os altos e baixos da PFW
Imagem: Getty Images

De Nossa

06/10/2022 04h00

A Semana de Moda de Paris é a responsável por encerrar as coleções de Primavera/Verão — antes dela, Nova York, Londres e Milão abrem os caminhos. Nesta edição, vimos de tudo um pouco. De desfiles que viralizaram nas redes sociais, como foi feito pela Coperni, as mensagens exageradas e nada monótonas da Balenciaga e escândalos envolvendo Kanye West, que apresentou as roupas da marca Yeezy — mesmo que fora do calendário oficial da fashion week.

Comecemos pelo auge. Neste caso, Bella Hadid. A modelo apareceu em diversas passarelas, o que só comprova seu favoritismo. No entanto, com a Coperni foi onde se destacou. Na apresentação da etiqueta, Hadid teve um vestido feito "ao vivo" para o público que estava presente no Museu de Artes e Ofícios, localizado na Cidade Luz.

Um tecido em spray, patenteado e desenvolvido por uma empresa com sede em Londres, chamada Fabrican, moldou a peça no corpo da norte-americana, em cerca de oito minutos. As finalizações foram feitas pela chefe de design da Coperni, Charlotte Raymond.

Nas redes sociais da casa de moda, o vídeo registrando o momento já ultrapassa os 6 milhões de visualizações. O número grandioso ainda é pouco. Antes de ser compartilhado oficialmente, diversas publicações que capturaram a criação da obra invadiram Instagram, Twitter e TikTok.

Bella Hadid no desfile da Coperni na Paris Fashion Week - Getty Images - Getty Images
Bella Hadid no desfile da Coperni na Paris Fashion Week
Imagem: Getty Images

"Acho que foi o melhor momento da minha vida", disse Bella ao "The New York Times".

O apocalipse-aga

Balenciaga | Primavera 2023 - Divulgação - Divulgação
Balenciaga | Primavera 2023
Imagem: Divulgação
Balenciaga | Primavera 2023 - Divulgação - Divulgação
Balenciaga | Primavera 2023
Imagem: Divulgação

Como já de costume, quem também deu o que falar com o desfile para apresentar a coleção de Primavera/Verão 2023 foi a Balenciaga, comandada pelo diretor criativo Demna Gvsalia. Quem conferiu esse de perto foi a influenciadora GKay, que vestiu a etiqueta no MTV Miaw deste ano.

O show apresentado pelo estilista, refugiado da Georgia para a Alemanha em 1993, mostrou o oposto do que muitos dos outros designers vêm vislumbrando no pós-pandemia. Enquanto a maioria deles almeja, por meio da moda, mostrar um mundo mais esperançoso, Demna coloca o dedo na ferida. Retrata o presente sem escapismos. O pós-pandemia vira pós-apocalíptico.

O diretor criativo derramou toneladas de lama para criar a passarela para seus 75 modelos. A desigualdade crescente, o retorno do fascismo e a ameaça real de uma guerra nuclear foram algumas das coisas que o inspiraram. Ou melhor, eram alvo de suas críticas.

A apresentação o representava por completo. "Esse desfile sou inteiramente eu", disse ele à "Vogue".

Ser um refugiado de guerra e ter enfrentado suas próprias lutas — em âmbito pessoal — ao se declarar gay fizeram parte de sua trajetória para que se tornasse um dos maiores nomes da moda atual: "Senti como se tivesse levado um soco na cara por ser quem sou. Mas você tem que se levantar e continuar andando, como essa cruzada de descobrir quem você é e defender isso".

Balenciaga | Primavera 2023 - Divulgação - Divulgação
Balenciaga | Primavera 2023
Imagem: Divulgação

Esses sentimentos se traduziram em trajes pesados, visualmente militares, protetores bucais com a escrita "Balenciaga" no lugar dos dentes e roupas tratadas para ficarem desgastadas e sujas. Talvez, agora, o (tão polêmico) tênis de R$ 10 mil lançado por ele há alguns meses, agora faça mais sentido dentro dessa narrativa.

Quem abriu o desfile da Balenciaga foi Kanye West. O que nos guia para um dos escândalos que aconteceram nesta semana de moda.

Kanye West e o "White Lives Matter"

Kanye West no desfile da Yeezy com camiseta "White Lives Matter" -- "Vidas Brancas Importam", em tradução livre - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Kanye West no desfile da Yeezy com camiseta "White Lives Matter" -- "Vidas Brancas Importam", em tradução livre
Imagem: Reprodução/Twitter

Mesmo não presente no calendário oficial da PFW, o artista apresentou sua nona coleção, intitulada YEEZY SEASON 9. Mandou convites e pediu sigilo sobre o local em que as roupas seriam apresentadas. A escolha por Paris é uma novidade, uma vez que as restantes foram apresentadas em Nova York. O motivo para isso, nas palavras de Ye:

"Paris é a alta catedral da moda. Se estou fazendo música, rap, vou colocar meu moletom, pegar um Uber e ir até a casa do [rapper] Future. E se estivermos trabalhando em roupas? Paris".

Indo direto ao ponto, o desfile virou um escândalo. De grandes proporções, fazendo com que grande parte do mundo da moda se voltasse contra West. Incluindo uma nota de (quase) repúdio da revista "Vogue".

Tudo começou quando o artista apareceu na passarela com uma camiseta que trazia os dizeres "White Lives Matter" nas costas — em tradução livre, "Vidas Brancas Importam".

Alguns dos modelos também vestiam peças com o mesmo discurso — sendo ele, conforme observado pela Liga Anti-Difamação, uma "frase de supremacia branca que se originou no início de 2015 como uma resposta racista ao movimento Black Lives Matter".

A frase também foi usada por apoiadores do ex-presidente Donald Trump e por apoiadores da Ku Klux Klan.

Em capitulação, o movimento "Black Lives Matter" ganhou força em 2020, após o assassinato de George Floyd por um policial branco. À época, diversos protestos tomaram conta do mundo, destacando a violência policial conra a população negra.

Gabriella Karefa-Johnson, editora da "Vogue" que estava presente no desfile da Yeezy, descreveu a atitude como um "ato incrivelmente irresponsável e perigoso". Ela ainda completou: "As camisetas que este homem concebeu, produziu e compartilhou com o mundo são pura violência. Não há desculpa, não há arte aqui".

As críticas não agradaram Kanye. No Instagram, compartilhou uma foto de Karefa-Johnson e escreveu: "Isso não é uma pessoa da moda". Criticou ainda as botas usadas por ela no registro, dizendo que Anna Wintour — editora chefe da "Vogue" — não gostava dessas botas.

Gabriella Karefa-Johnson trabalha no ramo há 10 anos. Além disso, foi descrita pela "Business of Fashion" como uma das pessoas que moldam a indústria global da moda.

Sobre o porquê ter usado a roupa, West defendeu: "Todo mundo sabe que Black Lives Matter foi uma farsa. Agora acabou. De nada".

Os ataques do rapper causaram reações — nada amigáveis. Tremaine Emory, diretor criativo da Supreme, declarou: "Você é apenas um narcisista inseguro que está morrendo pela validação do mundo da moda".

A modelo Gigi Hadid comentou na publicação, já apagada do Instagram de Kanye: "Você gostaria de ter uma porcentagem do intelecto dela (...) Como se a 'honra' de ser convidado para o seu show devesse impedir alguém de dar sua opinião? Você é um valentão e uma piada".

Já a jornalista de moda Jamele Hill escreveu: "Muitas pessoas estão tentando desculpar Kanye vestindo uma camiseta do 'White Lives Matter' como apenas uma jogada de troll ou marketing. Talvez seja. Mas é uma mensagem perigosamente idiota para enviar para alguém com sua enorme plataforma. Eu estive fora cara. Mas vocês vão em frente rotulando sua tolice como gênio".

Depois de toda a confusão, hoje (5), Kanye afirmou ter se encontrado com Gabriella, terem tido uma conversa de "duas horas" e, por fim, "concordaram em discordar".

"Pedimos desculpas um ao outro pela maneira como nos sentimos. Nós realmente nos demos bem e ambos experimentamos a luta pela aceitação em um mundo que não é o nosso", alegou o rapper.

Ao que tudo indica, o artista queria fazer uma crítica a forma como o movimento "Black Lives Matter" foi apropriado pela cultura de massa. No entanto, houve muita abertura para que outras pessoas se sentissem ofendidas. O que aconteceu.