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Além da Liberdade: outros lugares de SP para ver a cultura japonesa 'raiz'

Danila Moura

Colaboração para Nossa

03/08/2022 04h00

Se alguém deseja conhecer a cultura japonesa em São Paulo, a primeira opção é unânime: visite a Liberdade. Mas fugir do óbvio vale a pena, até porque o bairro nipônico hoje é altamente influenciado por outras culturas asiáticas, como a chinesa.

Outros locais da cidade, como a Japan House, visitada por Isa Scherer no programa "À moda da Isa", conservam as tradições do país do sol nascente com mais fidelidade em ótimas opções de passeios, cursos e gastronomia. Assista ao episódio no topo da matéria para conferir como é o centro cultural na Avenida Paulista e, abaixo, veja lugares "raiz" que a reportagem de Nossa conheceu.

Um pouco de história

Em 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos para trazer o grupo inicial de japoneses após um acordo imigratório com o governo brasileiro.

Além do bairro da Liberdade, os pioneiros se fixaram em regiões como a Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte, e o Carrão, na Zona Leste, onde a presença é grande dos originários de Okinawa. Ao longo do tempo, reuniram-se também na Zona Sul e próximos da Paulista.

As 47 províncias japonesas estão representadas na capital paulista espalhadas em associações chamadas de "kenjinkai ".

De luta a treino de memória
Tudo de Okinawa

Aula de luta em centro cultural na Vila Mariana - Fabio Hideki - Fabio Hideki
Aula de luta em centro cultural na Vila Mariana
Imagem: Fabio Hideki

Na Vila Mariana, a atração é a programação da Osaka Naniwa Kai.

Fundado em 1965, o centro se destaca pela agenda de atividades feitas por voluntários apaixonados pela cultura do arquipélago, como Mônica Oka, de 29 anos, professora e integrante da seleção brasileira de kendo.

Durante a visita de Nossa, foi possível conferir de perto as aulas do esporte, que surpreende pelo uso de uma armadura e capacete para proteger dos golpes de uma espada de bambu. Crianças e adultos de todas as idades interagem em uma harmonia espantosa para uma "luta".

Originário do finalzinho do século 19, quando o país começou a ter mais contato com a cultura ocidental, o kendo foi criado para manter viva a arte de espada dos samurais, que estavam em extinção. Mônica afirma:

Quando eu pratico kendo, sinto que é um espelho da forma como ajo na vida. Se eu titubeio, não tenho iniciativa, apanho e acordo. É um processo intenso de autodescoberta".

Apresentação de taiko no Naniwa-Kai: tambor tradicional japonês - Rafael Kumoto - Rafael Kumoto
Apresentação de taiko no Naniwa-Kai: tambor tradicional japonês
Imagem: Rafael Kumoto

Os gritos dados quando se aplicam os golpes se tornam uma ótima válvula de escape para quem passa o dia trabalhando estressado. O espaço oferece aula para iniciantes e disponibiliza uniforme.

Além do kendo, está na programação aberta ao público geral aulas de Rizumu Taisso, tipo de ginástica aeróbica dançante, e Karuta, jogo de cartas que se utiliza da coletânea de poemas clássicos para treinar a memória, os reflexos rápidos e a resistência física e mental.

O saquê como ele é
Compras e cursos

Saquês expostos como joias na Mega Sakê - Gladstone Campos - Gladstone Campos
Saquês expostos como joias na Mega Sakê
Imagem: Gladstone Campos

Os amantes de saquê correm o risco de ficar "traumatizados" numa degustação na Mega Sake, espaço 100% dedicado à bebida fermentada de arroz no Jardim Paulista, bairro vizinho ao Paraíso e à Vila Mariana, onde se concentram multinacionais japonesas e, por isso, expatriados e nikkeis.

Mas calma, a surpresa é boa: a sensação é de provar um saquê pela primeira vez. Na loja com cara de escola de Fabio Ota, primeiro brasileiro a ter o Master Sake Sommelier e mais onze outros títulos internacionais no currículo, vende-se bebidas importadas refrigeradas a -5ºC.

Isso garante um sabor mais suave, com notas aromáticas que são imperceptíveis quando a iguaria é transportada incorretamente.

"Uma garrafa nunca pode encarar mais do que 15 graus de temperatura. Imagine passar dois meses em um contêiner aos 50 graus até chegar no Brasil".

A maior parte do saquê vem, literalmente, cozido. Desta forma, o sabor do álcool é mais acentuado, encorpado, se é frutado, fica enjoativo".

Fabio Ota: especialista de desencência japonesa tem loja em pleno Jardins - Gladstone Campos - Gladstone Campos
Fabio Ota: especialista de ascendência japonesa tem loja no bairro de Jardins
Imagem: Gladstone Campos
Espaço para aulas sobre a bebida de arroz fermantado - Gladstone Campos - Gladstone Campos
Espaço para aulas sobre a bebida de arroz fermentado
Imagem: Gladstone Campos

Vale dar o match com algum dos oito rótulos oferecidos de forma exclusiva e selecionados graças a visitas de Ota pelas principais fábricas japonesas. O resultado de tamanha dedicação: após 13 meses de trabalho, a Mega Sake atende 130 restaurantes importantes da cidade, como o DOM, do chef Alex Atala.

Formado em direito e ciências contábeis, Ota trabalhou em grandes multinacionais, como a japonesa Casio, onde conheceu Aya Tamaki, esposa e sócia responsável pelo trâmite de importação das bebidas, que costumam chegar em contêineres de 14 mil unidades por vez.

Conhecimento trazido diretamente do Japão - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Conhecimento trazido diretamente do Japão
Imagem: Arquivo Pessoal

Ota viajou ao país pela primeira vez aos 13 anos ao lado do avô, que era jornalista. Desde então, apaixonou-se pela cultura a ponto de trocar uma vida profissional estável no mundo corporativo para ter seu negócio dedicado ao saquê.

No momento, ele planeja a abertura de outra unidade, além da expansão dos cursos para especializar funcionários de bares a servir a bebida adequadamente aos clientes.

Vai lá também >>

Japan House. Avenida Paulista, 52 Bela Vista. 10h/18h (sáb. 9h/19h; dom. 9h/18h; fecha seg.). Entrada gratuita

Naniwa-Kai - Associação Cultural dos Provincianos de Osaka. Rua Domingos de Morais, 1581, Vila Mariana. 8h/21h (fecha de sex. a dom.)

Mega Sake. Alameda Joaquim Eugênio de Lima, 1416, Jardim Paulista. 10h/19h (fecha sáb. e dom)

Vai deixar saudade!
À moda da Isa Scherer

Isa Scherer visita a Japan House no À Moda de Isa - Mariana Pekin/UOL - Mariana Pekin/UOL
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Relembre os outros episódios de 'À moda da Isa'. O programa que reúne rolês atrativos e receitas criativas foi que foi ar no UOL Play e está disponível sempre que quiser no YouTube de Nossa!

Assista como é garimpar no brechó, fazer aula de cerâmica e passear na Japan House, no centro de SP, no Ceagesp, na exposição imersiva do Van Gogh e no Beco do Batman com Isa Scherer.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que informamos, as associações de províncias japonesas são chamadas de "kenjinkai", e não "kenjing".