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Conheça a lenda da Laguna del Inca, uma das paisagens mais lindas do Chile

Laguna del Inca, em Portillo: paisagem que encantou Charles Darwin e hoje atrai esquiadores Imagem: Getty Images/iStockphoto

Eduardo Vessoni

Colaboração para Nossa

25/06/2022 04h00

Nem Charles Darwin se conteve ao ver aqueles picos nevados rasgados por vales profundos, em plena cordilheira dos Andes, a 164 quilômetros de Santiago, no Chile.

Localizado ao lado do posto da aduana, ao final da ziguezagueante estrada Los Caracoles, na fronteira com a Argentina, Portillo é famosa não só por sua estação de esqui, mas também pela icônica lagoa que se estende aos pés de hóspedes e esquiadores.

A Laguna del Inca é um corpo d'água de águas esmeraldas com quatro quilômetros de extensão, a 2.800 metros sobre o nível do mar, protegido pelas altas montanhas andinas. Não é à toa que Portillo significa "caminho estreito entre duas alturas", segundo definição da Real Academia Espanhola.

"Não sei se está à altura dos cenários do Atacama ou da Patagônia, mas a lagoa é um ícone chileno e está entre as dez mais belas paisagens do país. É mágico", descreve para Nossa Alejandro Goich, diretor de marketing da estação Ski Portillo.

Esquiador pratica o esporte com a Laguna del Inca como cenário Imagem: Divulgação

Lagoa lendária

Diz a lenda pré-hispânica que, no dia do seu casamento com o inca Illi Yupanqui, a bela Kora-llé morreu ao cair de um daqueles cumes elevados. Seu corpo teria sido deixado em uma lagoa e, quando atingiu o fundo, suas águas ficaram esmeraldas, da cor dos olhos da princesa.

Até hoje dizem que a lagoa é encantada e que, em noites de lua cheia, é possível até ouvir os lamentos tristes do inca. Essa é a história que se conta por ali para explicar os tons das águas dessa formação natural de origem glacial.

As águas esmeraldas da Laguna: da cor dos olhos da princesa Kora-llé Imagem: Reprodução/Facebook

Mas nem só de lenda se faz Portillo.

Em sua viagem de volta ao mundo a bordo do navio Beagle, entre 1831 e 1836, Charles Darwin passou quase um mês cruzando os Andes sobre mulas, entre Valparaíso, no Chile, e Mendoza, na Argentina.

Registro da Laguna del Inca em 1890 Imagem: Biblioteca Nacional de Chile

Em comparação a outras cadeias de montanhas que visitou, o jovem naturalista britânico ficou impressionado com aqueles "paredões imponentes" e colinas "íngremes e desnudadas", em meio a vales estreitos de Portillo, bem próximos ao Aconcágua, o teto das Américas, com 6.960 metros sobre o nível do mar.

Registro de atividades turísticas na Laguna del Inca, em 1930 Imagem: Biblioteca Nacional de Chile

Nessa mesma viagem, Darwin registrou também em seus diários a passagem pelo vizinho Valle del Yeso, onde fica o reservatório de água que virou febre entre turistas brasileiros e, recentemente, foi fechado por conta da instabilidade geológica e falta de segurança para visitantes.

"A excursão me custou apenas 24 dias, e nunca me diverti tanto em igual espaço de tempo", escreveu Darwin. E, pelo visto, a diversão em Portillo continua garantida.

O que fazer na Laguna del Inca

Embora o atrativo esteja em área particular desse icônico hotel amarelo que se destaca em meio à neve, recentemente Ski Portillo inaugurou um mirante, aberto ao público em geral durante todo o ano, com vista única da lagoa, em um espaço construído na estrada, fora do resort.

O espelho da Laguna del Inca: 'quintal' do resort de se esqui Portillo Imagem: Getty Images/EyeEm

Já para quem quer se aproximar da Laguna del Inca, o acesso para não hóspedes só fica aberto de outubro a maio, por estar próximo às áreas de chalés do hotel e das pistas de esqui.

E a relação do empreendimento com a atração é tão próxima que, durante a temporada de esqui, a lendária pista "Lake Run" (1.120 metros de extensão) leva esquiadores experientes por caminhos secretos que seguem até o nível da água.

No resort Ski Portillo é possível esquiar às margens da Laguna del Inca Imagem: Divulgação

Se a lagoa estiver congelada, algo nem sempre garantido em tempos de aquecimento global, os esquiadores podem inclusive voltar para o hotel esquiando sobre o gelo. Em outra época, era possível até patinar ali, mas a prática foi proibida por questões de segurança.

A Laguna congelada: cena cada vez mais rara com o aquecimento global Imagem: Divulgação

"A lagoa existe desde que a cordilheira se formou há 60 milhões de anos. Por isso, o hotel está todo integrado à paisagem natural e a lagoa tem vista de todos os lugares, nas pistas, na piscina e em alguns quartos", descreve Alejandro.

Já durante o verão, a Laguna del Inca é aberta também para o público em geral para a prática de caiaque, uma alternativa sustentável para uso recreativo da lagoa sem a necessidade de embarcações motorizadas.

Hotel histórico

Embora seja um empreendimento particular, na província de Los Andes, a duas horas de carro de Santiago, o hotel em si já é considerado o destino, daqueles que souberam preservar seu passado.

Isolado na paisagem, Portillo é um dos destinos de esqui mais famosos da América do Sul Imagem: Gabriela Temer

"Portillo não é um povoado, é apenas um hotel essencial que faz o hóspede voltar para o essencial", define o diretor de marketing da estação.

Inaugurado em 1949 pelo governo chileno e vendido ao setor privado, em 1961, Portillo é uma das primeiras estações de esqui da América do Sul e tem o público brasileiro como um dos principais clientes, o que representa cerca de 30% da ocupação total do hotel.

Vista aérea da Laguna del Inca, a duas horas de carro de Santiago, no Chile Imagem: Divulgação

Porém registros históricos indicam que a região já atraía esquiadores desde a época da construção do Trasandino, via ferroviária capaz de vencer aquelas encostas íngremes, ligando as cidades de Los Andes, no Chile, e Mendoza, na vizinha Argentina.

Registro do antigo trem andino que ia de Los Andes, no Chile, a Mendoza, na vizinha Argentina Imagem: Divulgação

Diante dos altos custos de operação e das dificuldades naturais daquela geografia bruta, o "Trasandino" funcionaria até 1984. Aliás, antes de ser hotel, o local abrigava a Estação Portillo, uma das paradas do trajeto, cuja estrutura original é um monumento histórico que, atualmente, funciona como garagem de veículos.

A "Bajada del Tren" é uma das 35 pistas abertas em Portillo e passa por locais históricos, como o túnel usado para a passagem do trem andino Imagem: Divulgação

Voltada para esquiadores iniciantes, atualmente, a "Bajada del Tren" (450 metros, aproximadamente) é uma das 35 pistas abertas em Portillo e passa por locais como o túnel usado para a passagem de trens.

Charles Darwin realmente se divertiria tudo outra vez se pudesse voltar.

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