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Passeio de bike na Itália explora vilas medievais e patrimônios mundiais

Ciclistas em Bevânia, na Úmbria - Marina Guedes
Ciclistas em Bevânia, na Úmbria Imagem: Marina Guedes

Marina Guedes

Colaboração para Nossa

24/05/2022 04h00

Bicicleta, capacete e uma razoável quantidade de água são os requisitos para um belo passeio entre cidades medievais na região italiana da Úmbria. O percurso une Espoleto a Assis, destinos com atrativos listados pela UNESCO como Patrimônios Mundiais da Humanidade, e é uma imersão na história, cultura e gastronomia nacional.

Se você estiver pensando em competições como Giro da Itália ou Tour de France, esqueça. Ao contrário destas disputadas provas esportivas, a ciclovia no coração da província de Perúgia não deve ser feita com pressa, tampouco requer intenso preparo físico.

Mas, caso a sua energia acabe antes de concluir os cinquenta quilômetros do percurso, há uma linha de trem regional por perto. Os leves veículos de duas rodas são bem-vindos, transportados em vagões exclusivos.

Cicloturismo nos olivais da Úmbria, na Itália - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cicloturismo nos olivais da Úmbria, na Itália
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O roteiro pode ser feito tanto no sentido Norte-Sul, a partir de Assis, como na direção contrária, começando por Espoleto. Neste caso, seguirá a ordem dos vilarejos de Campelo de Clituno, Trevi, Folinho, Montefalco, Bevânia, Canara e, finalmente, a terra natal de São Francisco e Santa Clara. Na hora de escolher o rumo, vale checar a meteorologia para evitar um desagradável vento contra.

Espoleto

Assim como outras localidades cujo passado remonta ao período romano e, posteriormente, medieval, Espoleto é rodeada por uma imponente muralha em pedra. Cerca de 130 quilômetros a separam da capital do país. No verão, atrai milhares de pessoas para seu evento cultural de maior importância, o Festival de Dois Mundos.

Vista aérea de Espoleto, na Itália - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Vista aérea de Espoleto, na Itália
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Além da Basílica de São Salvador (Patrimônio da UNESCO), a Fortaleza Albornoziana, situada no alto da colina Santo Elia; a Ponte das Torres, antigo aqueduto e ligação da cidade a Monteluco; e a Catedral de Santa Maria Assunta (Duomo) são monumentos emblemáticos. As visitas pela cidade têm o facilitador das esteiras rolantes subterrâneas, que conectam os principais destinos espoletanos.

O início da viagem de bicicleta não fica exatamente no centro, mas em um bairro próximo, Pontebari, que ganhou um aditivo em infraestrutura após a abertura de um restaurante, serviço de aluguel e conserto das bikes (tradicionais e elétricas).

Vista dos pórticos do Duomo de Espoleto, na Itália - Getty Images - Getty Images
Vista dos pórticos do Duomo de Espoleto, na Itália
Imagem: Getty Images

Denominado Terminal dos Azulejos (mattonelle, em italiano), faz alusão à extinta fábrica que funcionou por lá. Mas, atenção: caso sua ideia seja pedalar em uma quarta-feira, encontrará o estabelecimento fechado. A pista, porém, permanece aberta.

Desvios para a Idade Média

À exceção de Bevânia — praticamente no meio do caminho — o itinerário não atravessa as vilas históricas. É preciso um rápido desvio para conhecê-las.

A primeira parada, em Campelo de Clituno, funciona como descanso em outro local tombado pela UNESCO, o templo de mesmo nome da pequena localidade.

Parque das Fontes  - Marina Guedes - Marina Guedes
Parque das Fontes
Imagem: Marina Guedes

Ainda nas redondezas, o Parque das Fontes é um cenário que merece ser percorrido. Com sorte, é possível acompanhar a divertida movimentação de patos, incluindo recém-nascidos, na tentativa de garantirem o café-da-manhã selvagem.

Trevi

Na primavera, a temperatura é ideal para atividades ao ar livre. E a paisagem de locais como Trevi, ganha aspecto particular com o colorido das papoulas.

Papoulas em Trevi - Marina Guedes - Marina Guedes
Papoulas em Trevi
Imagem: Marina Guedes

Famosa pelas olivais e pratos típicos como salames, presuntos e outras carnes, a região também oferece inúmeras opções dos chamados agriturismos, hoteis rurais com restaurantes especializados nas iguarias locais.

A ausência de veículos também permite a vinda de outra espécie frequentadora, bem menor, quase imperceptível: coloridas lagartixas que buscam, rapidamente, um banho de sol matinal.

Ruínas milenares

Mais adiante, em Folinho, a pista passa ao lado de duas impressionantes construções, a Ponte e Torre de Montefalco. Estudos recentes estimam que a segunda tenha sido construída em meados do século 13, com altura de 11 metros e paredes em espessura, aproximada, de 3,5 metros.

Na sequência, o destino é a charmosa Bevânia. Pouco menos de dez minutos são necessários para atravessar aquele vilarejo medieval, repleto de alternativas gastronômicas. É lá, também, que a pista deixa de ser exclusiva aos ciclistas.

Ciclismo na Bevânia  - Getty Images - Getty Images
Ciclismo na Bevânia
Imagem: Getty Images

Há momentos em que as placas na cor marrom, símbolo da ciclovia, parecem desaparecer. Mas basta seguir pelo lado externo da muralha, em direção ao rio Topino, e aproveitar uma das convidativas vinícolas da região.

Àquela altura, Assis, visível no alto da montanha Subásio, não deixa dúvidas quanto ao rumo certo pela frente.

Perto dos dez quilômetros finais, com a cúpula da Basílica de Santa Maria dos Anjos em destaque, uma bandeira do Brasil, ao lado de outra italiana, é facilmente avistada. Os objetos pertencem ao casal Lilia Shaw e Luciano Trinoli, que há 11 anos habitam o local.

Bandeiras do casal Lilia Shaw e Luciano Trinoli - Marina Guedes - Marina Guedes
Bandeiras do casal Lilia Shaw e Luciano Trinoli
Imagem: Marina Guedes

Assis, morro acima

Em toda a travessia ciclística, não há subidas. O único momento em que é preciso uma dose-extra de força diz respeito ao trecho entre Assis e Santa Maria dos Anjos, onde estão a imponente Basílica e estação ferroviária. Mas, é morro acima, em Assis, o verdadeiro encerramento do itinerário.

Se todos os caminhos levam a Roma, o mesmo pode ser dito da Basílica de São Francisco, no centro histórico de Assis. Pelas ruas de pedra, que lembram labirintos antigos, a cidade patrimônio da humanidade também oferece vistas panorâmicas que compensam não apenas a subida, mas toda a experiência em duas rodas.

Basílica de São Francisco, em Assis - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Basílica de São Francisco, em Assis
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Quanto à crença de que, para descer, os santos ajudam, talvez seja uma boa ideia iniciar a experiência de bicicleta começando pelo famoso destino religioso. Se possível, com uma versão elétrica.

Cicloturismo em ascensão

Percorrer a Itália em duas rodas, de forma lenta e contemplativa, com baixo impacto ambiental, é uma prática em ascensão.

Prova disso é a quantidade de eventos marcados para a temporada de verão. Dois deles vão acontecer nos arredores de um popular destino em meio à natureza, ao longo da antiga ferrovia que liga Espoleto a Nórcia, chamado Spoleto Norcia Gravel, dia 12 de junho.

Cicloturismo no interior da Itália - Getty Images - Getty Images
Cicloturismo no interior da Itália
Imagem: Getty Images

Ainda no próximo mês, dia 21, inicia uma expedição que vai percorrer todo o país, da Ligúria à Sicília. Trata-se da Appennino Bike Tour. O percurso tem 3.100 quilômetros de extensão, e inclui a ciclovia entre Assis e Espoleto, com quarenta e quatro etapas no total.

Um aplicativo, gratuito, será disponibilizado, com detalhamento de todo o itinerário, incluindo informações de natureza cultural, turística e ambiental.

Finalmente, em setembro, o festival de três dias, Spoleto Norcia in Mountain Bike, também terá como palco a estrada da ferrovia Espoleto Nórcia, movimentando um público superior a cinco mil pessoas. Nas demais regiões da Itália, há inúmeras alternativas, elencadas por diferentes instituições.