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Móvel ou arte? Ambos se misturam em peças surrealistas de artista mineiro

Francisco Nuk sentado sobre uma de suas criações Imagem: Arquivo pessoal

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

12/04/2022 04h00

Francisco Nuk

Quem é

Francisco Nuk é artista autodidata, de Belo Horizonte, MG, representado pelas Galeria Lume, em São Paulo, e Radiante, no Rio de Janeiro.

Em formas surreais, que pedem liberdade para se curvar corajosamente, os móveis de Francisco Nuk (@francisco.nuk) instigam olhares na SP-Arte. Sua obra — uma coleção de móveis esculturais — nos desafia com gavetas de ponta-cabeça ou retorcidas, um jeito que ele viu de questionar o que é útil e o que é inútil nessa vida.

Quando coloco uma gaveta de cabeça para baixo, ela não tem utilidade, mas ainda é uma gaveta. Percebi, no ateliê, que o móvel era eu mesmo. Sou útil para quê e para quem?"

Francisco Nuk questiona a utilidade das coisas em suas obras Imagem: Arquivo pessoal

A questão existencial foi descoberta num momento em que ele se sente no mesmo "fio da faca" entre as funções de artista, marceneiro e designer, mas não se deixa fisgar por nenhuma delas. Aos 31 anos, formou-se em Educação Física em Belo Horizonte, mas apenas para cumprir essa etapa.

Crescido no meio artístico, filho do escultor Sérgio Machado e de Paulina Ribeiro, que na época era galerista, suas memórias de infância orbitam entre exposições de arte. "Meus pais me levavam sempre, faziam muita questão de analisar obras, conversar sobre isso e criar essa cultura na família", diz.

Artista, marceneiro e designer? Nuk se divide entre as nomenclaturas Imagem: Arquivo pessoal
A funcionalidade (ou não) das gavetas foram um dos pontos-chave da descoberta artística Imagem: Arquivo pessoal

Até que após uma temporada fora do país, na Nova Zelândia, ele aprendeu marcenaria e serralheria, interessado pelos processos. Passando pela Argentina e pela Austrália, outras vivências com a madeira reforçaram aquela base.

Comecei a fazer pesquisas mais profundas. Acabava curioso nas oficinas que me permitiam entrar, absorvendo muita informação"

As curvaturas são marcantes e dão o ar se surrealismo às suas obras Imagem: Arquivo pessoal

Experimentando as possibilidades da madeira ele chegou às curvaturas. De volta ao Brasil cinco anos atrás, ele se debruçou sobre isso no ateliê de seu pai e recebeu o incentivo para criar o próprio espaço.

A obra grandiosa que se vê nas imagens é fruto disso: horas e horas, ou melhor, até quatro meses para fazer um móvel. Repare que a maioria deles tem gavetas. "Queria tirar a utilidade da gaveta e comecei a pensar em posições em que isso poderia acontecer".

Criou-se um grande nó na cabeça: o que era isso? Embora a gaveta estivesse torta, ela abria e tinha uma funcionalidade, ainda era uma gaveta. Essa inquietação foi a primeira fagulha da obra"

"Queria tirar a utilidade da gaveta e comecei a pensar em posições em que isso poderia acontecer" Imagem: Arquivo pessoal

Assim começou o questionar a utilidade: "O móvel tem esse lado surreal, mas por acidente. Porque a ideia era desafiar seu lado útil, entortando para chegar a um lugar."

Eu-móvel

Francisco passou a projetar as gavetas internas de sua vida naquele móvel: "Até que ponto tivemos a escolha de ser úteis ou não? Eu quero, ou são outras pessoas querem que eu tenha essa utilidade? Gosto de pensar que a minha obra é uma revolução da inutilidade."

Exposição de peças de Francisco Nuk Imagem: Arquivo pessoal
O artista trabalha com madeira, mas planeja expandia a outros materiais Imagem: Arquivo pessoal

Sobre as gavetas, ele filosofa mais: "Somos seres armazenadores e precisamos criar esses artifícios para guardar coisas. É como o acúmulo dentro de nós", observa. Outros materiais estão entre as próximas aventuras do jovem artista — terra, pedra e argila logo darão sequência a esse trabalho. É esperar pra ver.

@s que me inspiram

@marco.a.castillo

“Marco é escultor e utiliza a madeira como matéria-prima. Sua arte múltipla sobre o material traz diversas possibilidades”

@erwinwurm

“Assim como Marco, Erwin busca uma forma e o trabalho dos materiais de uma forma muito primorosa. Seu estilo é irreverente e questionador.”

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