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Biquíni a ajudou a lidar com mastectomia: "Com ele, eu me sentia inteira"

A escritora Flavia Flores com o biquíni comprado logo após o diagnóstico de câncer de mama Imagem: Arquivo Pessoal

Flavia Flores em depoimento a Natalia Eiras

Colaboração para Nossa

21/02/2022 04h00

Flavia Flores

Profissão

Escritora, autora do livro “Quimioterapia e Beleza”

Minha roupa com história

Biquíni comprado pouco tempo depois de diagnóstico de câncer de mama

Fui diagnosticada com câncer de mama grau 3, estágio bastante avançado, aos 35 anos. Não sabia o que esperar. Teria que fazer mastectomia das duas mamas e, depois, tratamento de quimioterapia. Entrei em depressão após o diagnóstico e comecei a pensar nas minhas roupas. Como trabalhei com moda, gostava de me arrumar.

Ficava pensando como ficaria o caimento das peças após a retirada de ambos os seios. Principalmente as roupas cavadas, com decotes. Fiquei triste e comecei a dar minhas coisas para as minhas amigas. Achei que iria morrer, que durante o tratamento ficaria apenas de pijama. Fui abrindo mão de tudo.

Flávia com o biquíni Imagem: Arquivo Pessoal

Passei pela mastectomia e, no lugar das mamas, o cirurgião colocou uma prótese provisória que eram extensores cheios de ar. Assim, eu fiquei com as cicatrizes da retirada dos seios e, embaixo dos braços, duas válvulas de ar que o médico poderia encher ou tirar ar. Brincava, na época, que eu tinha seios crocantes: porque, quando andava, eles faziam 'crec, crec, crec'. Apesar desses detalhes, o resultado não ficou horrível como eu imaginava. Então comecei a pedir as minhas roupas de volta para as minhas amigas (risos).

Na época, eu morava em Florianópolis, em Santa Catarina, e meu pai teve, a vida toda, uma loja de biquínis. Como é uma cidade litorânea, a roupa de banho sempre foi algo muito importante no meu guarda-roupa. Nós passávamos muito tempo na praia ou na piscina dos amigos. Então, depois de ver que estava bem após a cirurgia, a primeira coisa que fiz foi ir à loja do meu pai à procura de um biquíni com o qual eu me sentisse bem.

Experimentei vários biquínis, ficava pulando no provador para ver como ficaria o caimento nas próteses, até que encontrei esse modelo da Blue Man. Nenhum tinha um caimento tão bom. Como ele é uma faixa, escondia as válvulas e as cicatrizes, que não podiam pegar sol. A cordinha, que amarra no pescoço, me dava segurança para dar um mergulho sem medo do biquíni cair. Por causa da mastectomia, eu não tinha sensibilidade nenhuma no peito. Podia bater vento, ele ficar de fora, que eu não sentia.

Assim, o biquíni era perfeito, atendia todas as minhas necessidades, além de me deixar bonita. Com ele, eu me sentia inteira novamente. Peguei dois conjuntos do mesmo modelo, um azul e outro marrom."

Biquíni da Flávia Imagem: Arquivo Pessoal

Durante o tratamento, o biquíni foi muito importante para a minha autoestima, para trazer a minha feminilidade de volta. Quando recebi o diagnóstico, procurava fotos de mulheres com câncer e só via imagens delas na cama, esperando morrer. E eu queria viver, me sentir parte da história, estar com as minhas amigas. O biquíni e o chapéu — que escondia minha cabeça careca — foram muito importantes nesse momento. Essa roupa de banho mudou a maneira que olhava o meu corpo.

Estava com medo de ficar desfigurada, feia, inaceitável. Como iria para a praia? Mas, com este biquíni, eu me sentia segura. Para fazer o que eu quisesse, seja dar um mergulho ou brincar com os filhos das minhas amigas. Eu me sentia feminina, à vontade com o meu corpo. Vi que podia mostrar minha barriga, curtir minhas formas. No fim, percebi que, em vez de jogar as minhas roupas fora, eu tinha que adaptá-las para esse novo momento. Estava careca, mas estava de biquíni, feliz e, principalmente, viva.

Eu usei ele até cansar e de diversas formas. Como top, debaixo do vestido. Para namorar, para tudo. Ele foi comigo para uma viagem de Carnaval onde tirei a camiseta pela primeira vez em uma relação sexual depois de ter feito a mastectomia.

O tratamento durou um ano e meio. Depois de três anos usando os expansores, fiz a cirurgia reparadora das mamas e coloquei a prótese definitiva. Mesmo não tendo mais as válvulas embaixo dos braços nem seios crocantes, esse biquíni continua fazendo parte da minha vida. Eu o usei quando, depois do tratamento, fui encontrar meu marido em Puerto Royal, no México.

Flávia ao lado do marido durante a viagem do casal Imagem: Arquivo Pessoal

Hoje em dia, as cicatrizes ainda existem, mas perdi a vergonha. Convivo muito melhor com as diferenças do meu corpo e tenho vários biquínis e maiôs. O biquíni azul, no entanto, continua aqui comigo. Eu o uso bastante e gosto muito, porque ele continua me deixando linda. Ele me traz memórias muito boas, de muito amor e cuidado.

Como usar

Uma amarração, um novo biquini

A parte divertida de usar um biquíni como o de Flavia é que, a cada amarração, você ganha uma peça nova. Caso queira algo assimétrico, basta colocar as cordinhas em apenas um ombro. Ou escondê-las e usar como um top sem alças.

Fora da praia

E, como a própria Flavia mencionou, o biquíni não precisa ficar restrito à areia. Tops em faixa estão em alta combinados com pantalonas ou por baixo de uma camisa aberta. Bom que dá para sair da praia e ir direto para o barzinho.

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