Último dia do Maksoud Plaza: da glória à despedida dos últimos hóspedes
Assim que chegaram ao Maksoud Plaza, Marina Gryczynski, 26, e Eduardo Gomes, 34, foram barrados pelos seguranças. Aquilo não fazia o menor sentido. Quando eles saíram de manhã, estava tudo normal.
A empresária tinha feito o check-in no dia 02 de dezembro, quinta-feira passada. Veio a São Paulo fazer um MBA em Hotelaria de Luxo e era o quarto dia em que estava hospedada. O namorado chegou depois, no sábado. Como a última aula dela foi no domingo, aproveitaram a segunda-feira para curtir a cidade e acabaram esticando o passeio.
Enquanto se dirigiam ao hotel, tentavam resolver se deveriam tomar um banho primeiro ou jantar antes de subir para o quarto. Ao se aproximar do estabelecimento, por volta das seis e meia da tarde, notaram uma movimentação estranha na portaria. Seguranças falando no rádio e o ambiente completamente vazio. Ninguém entrava nem saía.
"Nossa! O que está acontecendo?", perguntou Marina. Não entendiam por que estavam sendo impedidos de avançar se aquela era a última das cinco diárias a que tinham direito.
Confusa, ela checou o celular e viu várias ligações perdidas. Não tinha ouvido as chamadas porque o aparelho estava dentro da bolsa. Os funcionários alegaram que uma carta avisando do ocorrido havia sido deixada no quarto. Mas como, se não encontraram carta nenhuma!
Por fim, disseram que se tratava de uma ordem judicial e que o hotel precisava ser esvaziado. Encerrada a discussão, o casal entendeu o que estava acontecendo.
Descobrimos que o hotel estava fechando quando voltamos para dormir. Isso pegou a gente de calça curta", lembra o arquiteto.
Era mesmo difícil de acreditar. O primeiro hotel cinco estrelas da capital paulista estava fechando as portas e Marina e Eduardo eram os últimos hóspedes. Os demais tinham feito o checkout mais cedo.
O lugar que foi palco de uma apresentação do Frank Sinatra, que recebeu artistas mundialmente famosos, príncipes e a primeira-ministra Margaret Thatcher, estava encerrando as atividades com eles.
É verdade que, por conta de dívidas, o Maksoud Plaza estava num processo de recuperação judicial desde o ano passado. Mas o fechamento abrupto deixou até mesmo o staff sem reação.
Ainda digerindo a nova realidade, um empregado com 16 anos de casa contou a Eduardo que desde o início da pandemia 150 funcionários foram demitidos. O futuro dos outros 150, disse, era um grande ponto de interrogação.
Deu para ver que ele estava bastante abalado. Final de ano, o cara não vai mais ter o emprego dele... Estava todo mundo muito preocupado".
Assim como Marina e Eduardo, eles ficaram sabendo do fechamento do hotel em cima da hora, numa reunião-surpresa.
O apagar das luzes
Quando Marina e Eduardo foram autorizados a entrar, encontraram no balcão da recepção dois atendentes não muito preparados para explicar o que parecia não ter explicação. Precisaram chamar a diretora de operações, que conduziu a situação com mais desenvoltura. Inclusive contatando um hotel vizinho para que eles passassem a noite, já que a viagem de volta para Teixeira Soares, no interior do Paraná, onde moram, estava marcada para a manhã seguinte.
Informada de que não poderia subir ao quarto nem para pegar as malas, Marina ficou em choque. Aliás, a bagagem já havia sido tirada do dormitório por dois seguranças e duas camareiras, e colocadas no lobby do hotel, mais especificamente no guarda-volumes.
"Nunca tinha visto uma situação assim. Lógico que isso gerou bastante estresse. Mas depois vi toda a preocupação de mostrar para a gente que foi tudo documentado e filmado", relata a empresária, que aos poucos foi se acalmando. Apesar de tudo, os dois hóspedes foram bem tratados pelos funcionários.
Olhando em volta, o Maksoud Plaza era um gigante abandonado, onde além do casal havia apenas os seguranças, um mensageiro, um porteiro, os dois recepcionistas e a diretora de operações. Nem parecia o mesmo lugar da véspera.
"Era um barato estar lá dentro. O piano de cauda no saguão do hotel, o paisagismo, as plantas impecáveis... Apesar de ser muito antigo, dava para sentir aquele glamour dos anos dourados do hotel, o ambiente bacana. Domingo assisti a corrida de Fórmula 1 no lobby e conversei com o pessoal do bar. Estava tudo correndo bem. Não tinha a sensação de encerrar o hotel", recorda Eduardo.
Marina, que vem de uma família que atua no ramo da hotelaria, tinha o sonho de conhecer o icônico hotel que guarda 42 anos de uma bonita e importante história. Pôde realizá-lo pela primeira e última vez. Mesmo sem processar direito o que tinha acontecido, ela e o namorado resolveram aproveitar os últimos minutos daquele momento inesquecível e fecharam a estada com chave de ouro.
O relógio marcava sete horas da noite quando o carro de transporte por aplicativo chegou. Com a placa identificada, os seguranças tiraram a contenção e o motorista entrou para pegar os passageiros na frente do hotel.
Sabe aquela frase: O último a sair apaga a luz? Nós saímos e já foram fechando tudo", descreve o arquiteto.
Olharam para trás uma última vez, com a consciência de que agora também fazem parte da história do Maksoud Plaza.
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