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O 'Romero Britto' do Paris 6: grand gâteau desperta reações de amor e ódio

Doce criado por Isaac Azar consiste num suflê no ramekin com cobertura e incrementos, como bombom - THATIANA BIONE
Doce criado por Isaac Azar consiste num suflê no ramekin com cobertura e incrementos, como bombom
Imagem: THATIANA BIONE

Gabrielli Menezes

De Nossa

06/12/2021 04h00

Se o grand gâteau do restaurante Paris 6 fosse uma obra de arte, seria um Romero Britto: é tão cobiçado quanto polêmico. Criado pelo empresário Isaac Azar em 2008, desperta sensações diversas, de "credo" a "que delícia". O mais curioso é que as opiniões têm motivo parecido. É o exagero ou a fartura, depende da boca que come.

Reproduzido por todo o país e inclusive nos Estados Unidos e em Portugal, o doce lembra o petit gâteau pelo nome, mas na composição está mais para um suflê — a base é de ovos, chocolate e manteiga. Ele é assado por pouco tempo para manter o interior cremoso e servido com recheio, cobertura e pedaços de chocolate, castanha, bombom, biscoito ou frutas.

Na finalização, mergulha-se um picolé para fazer o efeito cenográfico de "vulcão", com creme que escorre pelas paredes externas do ramekin. Essa aparência "food porn", divulgada em banners, outdoors e aeroportos, fez da sobremesa um ícone da marca. Isaac diz:

É como se fosse o Paris 6 fosse o parque temático da Disney. E o grand gâteau, nosso Mickey Mouse".

Grand gâteau Paloma Bernardi - Divulgação - Divulgação
Grand gâteau Paloma Bernardi: o mais vendido
Imagem: Divulgação

Ao longo de 14 anos, o empresário usou da criatividade para preservar a repercussão do doce. Ele lança edições temporárias para datas especiais e atualiza o menu com frequência.

Das 26 versões presentes no cardápio, a mais pedida chama-se "Paloma Bernardi", com calda de Nutella, morangos, avelãs e leite condensado sobre o bolinho. No total, as 26 unidades da rede expedem 40 mil porções da sobremesa que é batizada com nomes de artistas que vão de cantores gospel a ex-BBB.

Grand gâteau à Projota - Divulgação - Divulgação
Grand gâteau à Projota
Imagem: Divulgação
Grand gâteau Jojo Todynho - Divulgação - Divulgação
Versão Jojo Todynho, na panela
Imagem: Divulgação

Como tem tamanho avantajado e chega a pesar 450 gramas, a sobremesa é dividida entre amigos e casais que frequentam a casa e topam pagar de R$ 52 a R$ 69 por cada unidade.

E não é pouca gente. Aos fins de semana, tem sempre fila nos três endereços de Isaac (todos na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, em São Paulo).

Alcance digital

Grand gâteau e Isaac - Divulgação - Divulgação
Isaac: "criei um negócio Instagramável antes do Instagram"
Imagem: Divulgação

A sobremesa é um prato cheio para as redes sociais. Os 1.4 milhão de seguidores curtem as imagens da pedida junto dos famosos homenageados e fazem do aplicativo um cardápio. "Nosso menu é, sobretudo, o Instagram. Os clientes pedem pela foto".

Ligado no crescimento do TikTok, Isaac investiu na produção de vídeos rápidos para divulgar o seu trabalho. Desde agosto, ele prepara o bolinho no salão, junto dos fregueses, e garante o registro para os posts.

Fale mal ou fale bem, fale do grand gâteau

Se de um lado a guloseima provoca a comoção do público ávido por doces bem doces, por outro, é motivo de deboche entre alguns críticos gastronômicos e parte da alta gastronomia.

Pós-graduado em gastronomia, estudante da Le Cordon Bleu e figura por trás da página "O Crítico Antigourmet", Ian Oliver considera a sobremesa escalafobética. Segundo ele, trata-se de um prato com excesso de açúcar e de ingredientes ultraprocessados que não apresenta contrapontos como acidez. "Do ponto de vista gastronômico, não tem valor".

Falta elegância e complexidade. É difícil comer mais de uma colher".

Grand gâteau Deborah Secco - Divulgação - Divulgação
Grand gâteau Deborah Secco: exagero é marca registrada do doce
Imagem: Divulgação

Danilo Nakamura, formado na área pela Anhembi Morumbi e autor do blog de comida "Le Figado", concorda que o grand gâteau é espalhafatoso e pobre em sabor. "Parece mais uma instalação do que uma comida pensada para ser boa", acredita.

Ele entende, porém, que não é só a técnica que conta para o cliente e sugere uma comparação com música. "A expectativa de uma pessoa não é ver os acordes e as repetições mecânicas da canção. Ela quer ouvir algo divertido, pular e pegar alguém".

Sobre as críticas, Isaac diz que pratos chamativos são malvistos por alguns e que a fartura é intrínseca ao grand gâteau. "Enquanto o crítico vem buscando os detalhes técnicos da comida, o cliente vem buscando a experiência. Ninguém chuta cachorro morto".