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Paulo Vieira: "Meu fazer humor mudou quando me entendi como preto e pobre"

Bruno Calixto

Colaboração para Nossa, do Rio de Janeiro

31/10/2021 04h00

Falta pouco para ele atingir a incrível marca de 800 mil seguidores no Instagram. Aos 28 anos, Paulo Vieira, roteirista e humorista do Globoplay, iniciou o estudo de teatro aos 12 e, quatro anos depois, fez parte da produção do espetáculo "Comédia em pé". Após as primeiras chances profissionais em São Paulo, voltou a Palmas, no Tocantins, para se apresentar nos palcos.

Assim que começaram a conversar no Botequim da Teresa, a anfitriã Teresa Cristina informa que não tinha noção de que Paulo Vieira é tão novo, apesar do "jeito de fazer um humor mais maduro".

São 28 anos no sol quente, o povo do Tocantins é assim, 28 anos vividos", explica o ator, comediante, roteirista e compositor.

Paulo Vieira e Teresa Cristina nos bastidores do "Botequim da Teresa" - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Paulo Vieira e Teresa Cristina nos bastidores do "Botequim da Teresa"
Imagem: Zô Guimarães/UOL

Desde criança, ele sempre teve consciência do que queria. Cantar sempre esteve em sua vida familiar em casa, fazia duo com a mãe, iam de Jessé a Diana.

"Sempre me interessou a maneira de cantar, essa coisa do poeta ser o fingidor."

Racismo e humor

Entre tantos assuntos, o racismo e, obviamente, as práticas antirracistas tomariam conta do diálogo. Famoso por fazer piadas de político, provocado por Teresa a responder se fazer piada de tudo ainda é permitido, eis a resposta de Vieira.

Antes, faziam piada racista quando a empregada saía da sala. E todo mundo ria. Hoje, quando estão à vontade na internet e fazem a piada, a empregada tem Twitter também e comenta: 'não gostei'. E outras pessoas participam dizendo que é um absurdo. Faz parte destes últimos anos em que estamos entendendo o que é o brasileiro e especialmente qual a mentalidade da burguesia brasileira. Nunca pode, sempre foi ofensivo"

A Faculdade de Jornalismo situou o artista na condição de homem negro. "A mudança na minha maneira de fazer humor veio quando me entendi como preto, me entendi como pobre e o que é meu corpo político no meio desse Brasil e o que eu podia fazer com esse humor. Isso veio na Faculdade de Jornalismo, este entendimento da comunicação, análise do discurso, o poder da palavra. Agora que eu sei, preciso me posicionar."

Paulo Vieira no Botequim da Teresa - Zô Guimarães/UOL - Zô Guimarães/UOL
Imagem: Zô Guimarães/UOL

Comédia no palco

O caminho até o stand-up, ele conta, foi no modo automático. "Sem saber, eu tinha uma peça de esquetes no Tocantins que toda sexta-feira a gente fazia uma peça nova, teatro de revista, esquete com meme, e tudo bagunçado. Eu era mestre de cerimônia, e todo mundo ia ver. Vi ali a possibilidade de sair do Tocantins, uma peça que só precisa de mim, já era apaixonado pelo Teatro do Oprimido, o ator ter a voz."

Eis que de repente, Paulo Vieira solta a voz em "Circo de pulgas", música de sua autoria. "Eu queria muito gravar esta música mas fiz um EP de cinco faixas, não falei nada para ninguém." E se aproximando dos finalmente, ele divide a capela com Teresa em "Alvorada", de Cartola, uma das canções que ele mais ama na vida.

Saideira com Paulo Vieira:

Um ator? Grande Otelo

Um humorista? Santíssima Trindade: Os Trapalhões, Chico Anysio e Dzi Croquettes

Um espetáculo? A primeira vez que vi Bibi Ferreira no Tocantins, estava montando "Gota d'água".

Samba, série e Teresa

O "Botequim da Teresa" vai ao ar todas as sextas-feiras, às 11 horas, no Canal UOL e no YouTube de Nossa (inscreva-se já para receber os lembretes). Em cada episódio, Teresa Cristina recebe um convidado especial e ensina a fazer os petiscos clássicos de alguns do botequins mais famosos do Rio de Janeiro. O programa é uma coprodução de Nossa e MOV, a plataforma de vídeo do UOL.