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Produtores de queijo artesanal de SP têm vitória com lei antiburocracia

Diversidade de queijos da APQA: legislação não contempla variações - Divulgação
Diversidade de queijos da APQA: legislação não contempla variações Imagem: Divulgação

Gabrielli Menezes

De Nossa

27/10/2021 20h22

Na noite desta quarta (27), a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) aprovou, em decisão inédita, o Projeto de lei nº 607 /2021, que estabelece novas normas para a manipulação, inspeção e fiscalização dos produtos artesanais e comestíveis de origem animal.

Com artigos e emendas que atendem às necessidades dos pequenos produtores paulistas, a lei, quando sancionada pelo governador João Doria, que também é autor do projeto, promete desburocratizar e facilitar a regulamentação dos fabricantes de queijos e demais itens.

Até então, o processo de legalização do Serviço de Inspeção de São Paulo (SISP) era considerado sanitarista e excludente pelos queijeiros artesanais, já que focava em exigências voltadas para a indústria.

Entre as melhorias do novo Projeto de Lei estão a necessidade de uma equipe exclusiva para fiscalizar o produto artesanal e a conexão entre o SIM (Selo de Inspeção Municipal) e o SISP com o objetivo de descentralizar a fiscalização.

Queijo curado produzido artesanalmente pela Lano-Alto em São Luiz do Paraitinga: 120 quilos no lixo - Lano-Alto - Lano-Alto
Lano-Alto
Imagem: Lano-Alto

Da parte da produção, há a permissão para produzir diferentes produtos no mesmo ambiente e a autorização do uso do leite cru e da elaboração de queijos "autorais". Peèle Lemos, proprietário da Lano-Alto, explica:

"No Brasil inteiro, o queijo tradicional, que tem o seu processo preservado, possui mais voz do que o autoral. A lei dará o direito dos produtores criarem e cadastrarem novas receitas"

Apesar da animação dos queijeiros, Peèle ressalta a necessidade dos produtores e das associações acompanharem de perto a criação do decreto após a sanção do governador. "A lei é aberta e abrangente, já o decreto apresenta a parte técnica. Por enquanto, temos uma vitória pela metade".

Se a gente conseguir um decreto ao nível da Lei, São Paulo será o estado mais moderno e conectado com a produção artesanal".

Uma luta de anos

Queijo de coalho artesanal, tradicional da região Nordeste: feito com leite cru - Ricardo Alves/Getty Images/iStockphoto - Ricardo Alves/Getty Images/iStockphoto
Queijo de coalho artesanal, tradicional da região Nordeste: feito com leite cru
Imagem: Ricardo Alves/Getty Images/iStockphoto

Christophe, presidente da Associação Paulista do Queijo Artesanal (APQA), conta que o diálogo com fiscais e a Secretaria da Agricultura começou em 2017. "Foram inúmeras reuniões para pensar numa lei que atenda ambos os lados".

Em junho deste ano, essa luta pela desburocratização da legalização dos queijos artesanais ganhou força após a repercussão midiática da apreensão da Lano-Alto.

A partir de uma denúncia anônima, representantes da Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo destruíram 120 quilos de queijo curado, 45 litros de iogurte e 9 quilos de requeijão da marca em São Luiz do Paraitinga, na Serra do Mar. Christophe comenta:

O caso da Lano-Alto foi a faísca que deu partida e o motor ligou".

Na época, a mobilização contra a atitude alcançou chefs renomados, como Alex Atala, nas redes sociais. A partir disso, Péele, proprietário da queijaria, junto da APQA, do Instituto ATA, do movimento Slow Food e de outras entidades, pressionou o governo, que prometeu enviar um Projeto de Lei.

Com a ajuda dos deputados da oposição, o grupo conseguiu adicionar emendas, que posteriormente foram aprovadas por João Doria. "Tem muita coisa ainda para melhorar, mas essa lei vai ser um tremendo avanço", diz Péele.