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Saia para homem: grife carioca produz modelos exclusivos para eles

Saia amarela da Galo Solto - Reprodução
Saia amarela da Galo Solto Imagem: Reprodução

André Aram

Colaboração para Nossa

02/09/2021 04h00

Meninas usam saia e meninos... também. Os atores Orlando Caldeira e Drayson Menezzes, de 36 e 30 anos respectivamente, resolveram expandir a ideia de que apenas mulheres podem usar a peça com a Galo Solto.

A marca carioca faz sucesso pelo Brasil entregando modelos produzidos especialmente para homens.

Em vez de replicar os desenhos femininos, a dupla, que já estava acostumada a usar saias como figurinos, desenvolveu exemplares únicos que prezam pelo conforto e pela versatilidade.

Galo Solto - Reprodução - Reprodução
O fundador Orlando Caldeira...
Imagem: Reprodução
Galo Solto - Reprodução - Reprodução
... usando a samurai, da Galo Solto
Imagem: Reprodução

Um exemplo é o modelo chamado samurai, que recria a roupa de camada dupla usada por guerreiros no Japão e cabe em looks de piquenique a casamentos. Feitas de linho, brim ou jeans, as peças também surgem em versões esportivas, mais despojadas.

Caldeira afirma:

As pessoas querem estar bem-vestidas, impecáveis e chamar atenção. Mas também querem conforto."

Sem preconceitos

Cantor Tico Santa Cruz de saia xadrez - Reprodução - Reprodução
Cantor Tico Santa Cruz de saia xadrez
Imagem: Reprodução

Antes de comercializar os modelos, Orlando e Drayson faziam as saias para uso próprio. Quando decidiram lançar as opções para público, surpreenderam-se com a aceitação. Foi mais positiva do que esperavam.

"Atendemos do fashionista ao cara que gosta de ir no samba em Madureira", diz Orlando. Entre os clientes fiéis, tanto pessoas da comunidade LGBTQIA+ quando homens heterossexuais.

A receptividade foi impulsionada pelas celebridades. Entres os famosos que aderiram ao traje estão o cantor Tico Santa Cruz e os atores Ícaro Silva, Carmo Dalla Vecchia e Babu Santana.

Gente como a gente

Drayson Menezzes, da Galo Solto - Reprodução - Reprodução
Drayson Menezzes, da Galo Solto
Imagem: Reprodução

Homens que estão fora dos holofotes da TV ou da internet estão se sentindo cada vez mais confortáveis para vestir saias.

O artista plástico carioca Igor Tavares, de 39 anos, usou a peça pela primeira vez há 2 anos quando foi convidado para ser padrinho de um casamento gay. "Sempre tive vontade e vi na cerimônia uma oportunidade".

A vestimenta não passou despercebida. "Algumas crianças me perguntaram de que país eu era e outros pediam para tirar foto comigo", recorda-se. Felizmente, na Argentina e no Rio de Janeiro, ele conseguiu usar a roupa sem tanto "auê".

Dono de cinco saias, o professor de matemática Rodrigo Gomes, 37 anos, já foi parabenizado pelo estilo e assegura que poucas vezes se deparou com algum comentário negativo.

Jorge Florencio - Saia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jorge Florêncio: saia no dia a dia
Imagem: Arquivo pessoal

"Comecei a usar saia em 2009 em Goiânia, onde moro. Fui a bares, boates e festas de família. Ainda não tive coragem de sair na rua por aqui, mas em São Paulo usei até no transporte público. O povo é mais aberto".

Entre os pontos positivos da saia, Rodrigo aponta a sensualidade e o conforto. Foi também pensando no bem-estar que o ator carioca Jorge Florêncio (35) adotou a roupa como parte dos looks do dia a dia.

"No início, tive cautela. Sou da Zona Norte do Rio e fiquei receoso com as possíveis reações, mas só notei olhares de estranheza."

Hoje, não tenho essa preocupação. Entendi os olhares dizem mais sobre quem olha do que sobre mim".

Não é novidade

Roupas tradicionais da Roma antiga - Grafissimo/Getty Images - Grafissimo/Getty Images
Roupas tradicionais da Roma antiga
Imagem: Grafissimo/Getty Images

Como desmistificar a ideia de que o uso de saia é somente para mulheres? Os estilistas à frente da Galo Solto buscam a resposta em outras culturas, como entre os escoceses e os grupos étnicos africanos Masai e Samburu.

Ao longo da história, algumas civilizações também consideravam a peça o item principal do vestuário masculino. Na Grécia antiga, as vestimentas eram agênero. Já no Império Romano havia a toga (espécie de manto), cuja forma e cor possibilitava identificar o grupo social do indivíduo. Mesmo os gladiadores (prisioneiros de guerra e escravos) usavam a indumentária.