A maior riqueza da Amazônia é a biodiversidade — mas isso é o que se vê. Silenciosamente há algo valioso que anda em paralelo, quando falamos de quem vive ali: a persistência, apesar de todas as dificuldades e a invisibilidade de estar a 180 quilômetros de Manaus (Amazonas).
Há 27 anos surgia a Associação de Artesãos de Novo Airão, hoje um grupo de 22 artesãos representado nesta reportagem por Johainy Belém de Souza.
"Quando os fundadores da associação chegaram à cidade em meados de 1980 trouxeram a técnica do trançado da fibra", conta. Entre eles estava a avó de seu marido, Dona Percília, 79, que, se ficar sem tecer, adoece. Um belo exemplo de dedicação e talento para o grupo.
A ideia inicial era estimular o artesanato com fibras vegetais para gerar renda à população da bacia do Rio Negro. Logo, mulheres que teciam fibras como o arumã, cipó, ambé e palha de tucumã se organizaram em 1996 para formalizar a associação. Conseguiram atrair mais gente, mas havia uma questão.
"Algumas tinham vergonha de vender as peças por conta de comentários em tom pejorativo de que a atividade seria 'coisa de índio'", conta Johainy, que acredita que o fortalecimento da associação passou a valorizar os trabalhos diante das novas gerações. Atualmente eles fazem parte da Artesol, ONG que valoriza o artesanato brasileiro.
Tudo vem da natureza
O trabalho leva muitas etapas e precisa mesmo de muitas mãos para ganhar agilidade. Começa com a preparação das fibras da arumã — planta que cresce em locais alagados, na beira dos rios e igarapés e possui talos que podem alcançar muitos metros de altura.
Depois de colhidas, lavadas e raspadas, elas recebem o tingimento avermelhado e preto, com tintas extraídas da natureza, como da goiaba-de-anta, do urucum e do ingá xixica. As talas são cortadas em fibras menores e trançadas pelas artesãs — há cerca de 50 tramas diferentes, na técnica da etnia indígena Baré, do Alto Rio Negro, fundadora da associação.
Esteiras (chamadas de tupés), cestos, balaios, bolsas, chapéus, luminárias e cadeiras revestidas de fibra diariamente resultam desse processo totalmente manual em desenhos únicos. Leva tempo para que isso chegue às casas das pessoas: uma esteira de 2,50 metros pode exigir duas semanas. "Uma esteira de 5 metros ficou pronta em 15 dias, um tempo recorde", conta Johainy.
Força da floresta
"Os artesãos se inspiram nos animais das matas, com criações sempre muito ligadas a suas próprias experiências e realidades", conta. E se a persistência é uma riqueza, os sonhos é que movem a rotina.
"Todos têm o desejo de ter sua arte elogiada, reconhecida e valorizada dentro e fora da comunidade. Mas sonhamos com uma grande reforma da nossa sede, que precisa de melhorias para que os processos de nossa arte sejam melhorados", conta.
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