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Móveis de madeira ou esculturas? Marceneira impressiona com entalhes

Cadeira Spinne, de Julia Krantz: a arte de unir conceito e usabilidade - André Godoy
Cadeira Spinne, de Julia Krantz: a arte de unir conceito e usabilidade Imagem: André Godoy

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

13/04/2021 04h00

Julia Krantz

Julia Krantz

Quem é

Julia Krantz é arquiteta formada pela Fau-USP, designer, artista, marceneira e escultora à frente de sua marca que produz móveis esculturais de madeira

Aos 10 anos Julia Krantz desenhou a cama que queria para seu quarto, onde vivia fazendo mudanças. "Era inspirada na do John Lennon", lembra, feliz com o fato de que sua mãe mandou fazer e incentivou seu talento. Anos depois, a vida a levou à faculdade de Arquitetura, que incluía Desenho Industrial no currículo. Prato cheio para a criadora, que descobriu seu caminho ao produzir um protótipo de cadeira. Um professor viu, deu ainda mais força e ela foi em frente.

A madeira se tornou uma paixão, o ingrediente certo para entalhar sua carreira: naquele começo, fez um curso na escola Cose di Legno, em São Paulo, onde aprendeu a trabalhar a madeira laminada. "Quando contei ao professor que queria fazer uma chaise longue nessa técnica, ele ficou surpreso. Era um trabalho insano. As pessoas me achavam louca, mas fiz."

Na garagem de casa, Julia trabalhou durante seis meses na peça com uma serra tico-tico e duas lixadeiras de mão.

É enlouquecedor. Trabalhava, estudava e não tinha as ferramentas ideais, mas com vontade consegui"

Julia trabalha com a madeira maciça laminada para criar os móveis - André Godoy - André Godoy
Julia trabalha com a madeira maciça laminada para criar os móveis
Imagem: André Godoy

O móvel era o primeiro na madeira maciça laminada, material que daria nome a ela. Móveis funcionais, confortáveis, verdadeiras esculturas estavam em suas mãos. Com os anos, já estava no mercado.

"Um dia, o dono de uma galeria de Nova York comprou minhas peças e disse que eu precisava conhecer um profissional dos anos 1950, o finlandês Tapio Wirkala, que fazia trabalhos como os meus, usando laminado de madeira. Achei bacana que não tinha aquela referência, simplesmente tínhamos pensado parecido", lembra.

julia kratz - Divulgação - Divulgação
Banco Quito
Imagem: Divulgação
Peça O Vaso: design utilitário com arte - Divulgação - Divulgação
Peça O Vaso: design utilitário com arte
Imagem: Divulgação

Aprendiz de marceneiro

Em 2000, Julia abriu sua marcenaria e foi atrás de maquinário. Seis anos depois, conheceu o marceneiro japonês radicado no Brasil Morito Ebini. "Ele me mostrou um mundo de conceitos, um olhar sobre a madeira que abriu minha visão", conta ela, que se tornou sua aprendiz.

Foram 10 anos observando o mestre esculpir o material toda segunda-feira, em Santo Antônio do Pinhal, interior de São Paulo.

Julia Krantz em sua oficina - Divulgação - Divulgação
Julia Krantz em sua oficina
Imagem: Divulgação
A cadeira Gil - André Godoy - André Godoy
A cadeira Gil
Imagem: André Godoy

Aquela parceria se estendeu ao design: a dupla assina a cadeira Weg. Depois, o designer Fernando Mendes se uniu a eles. "Evoluí muito e insistimos para que Morito desse aulas a mais gente. Hoje ele tem uma escola estruturada", conta, agradecida ao marceneiro premiado mundialmente.

Tenho verdadeiro encanto pela variedade de espécies, texturas, cheiros, possibilidades, temperatura e o conforto que a madeira proporciona"

Poltrona modelo Sax Chair - André Godoy - André Godoy
Poltrona modelo Sax Chair
Imagem: André Godoy

Julia se situa entre artesã, designer e escultora, além de empresária dedicada — e ainda uma marceneira paciente por ver o melhor resultado. Afinal, os entalhes na madeira exigem tempo e um esforço que pouca gente imagina. "Tudo demora muito na marcenaria. Primeiro idealizo a peça, depois faço o modelo, passo à madeira e começo a esculpir. Faço testes e todo o processo pode levar de três a seis meses, ou anos", diz.

A poltrona Suave, um sucesso de vendas, é a que chega mais rápido ao fim: entre duas e três semanas fica pronta. O laminado de madeira maciça também não é facilmente encontrado, visto que a demanda por ele é pequena. Tudo isso leva o trabalho de Júlia a funcionar entre os eixos da arte, do design, do trabalho manual — tudo sob efeito precioso do tempo.

@s que me inspiram

@morito.ebine

"Morito é meu mestre de vida, de conceito, de filosofia, além de uma pessoa incrível que me ensinou muito e me deu acesso a aprendizados valiosos em seu ateliê. O forte dele é a madeira maciça, admiro demais seu trabalho"

@atelierfernandomendes

"Fernando tem muito da influência de seu primo, Sergio Rodrigues, com quem ele trabalhou lá atrás. Ele tem a busca de soluções na essência, olha para o simples, para o mínimo material a fim de fazer uma peça que funcione"