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Fotógrafo esloveno larga rotina de 12 anos em São Paulo por vida em fazenda

Simon Plestenjak, em sua nova rotina após 12 anos de uma vida em São Paulo - Simon Plestenjak
Simon Plestenjak, em sua nova rotina após 12 anos de uma vida em São Paulo Imagem: Simon Plestenjak

Luciana Borges

Colaboração para Nossa

21/03/2021 04h00

Acordar às 5h30 da manhã, fazer yoga durante o nascer do sol, colher ovos direto no galinheiro, reservar um tempo para cuidar de plantas na horta ou adestrar um cavalo: essas são as atuais tarefas diárias do fotógrafo esloveno Simon Plestenjak, de 42 anos.

Há cerca de dois meses, ele trocou a vida bem paulistana de quem vivia há 12 anos no bairro de Moema por uma casa alugada dentro de uma fazenda em Amparo, no interior de São Paulo.

A alteração radical de estilo de vida fez dele mais um integrante da leva de pessoas que aproveitaram as mudanças trazidas pela pandemia de covid-19 para começarem uma outra história pessoal bem longe da cidade grande.

A nova casa de Simon Plestenjak, no interior de São Paulo - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
A nova casa de Simon Plestenjak, no interior de São Paulo
Imagem: Simon Plestenjak

Pandemia foi incentivo

"Já tinha anos que pensava em mudar de São Paulo", conta Simon. "Ela não é a 'minha cidade', ou o meu ambiente. Sempre me sentia como uma visita vivendo lá. Mas nunca cheguei a realizar esse desejo, não tinha uma ideia concreta de por onde começar e tinha obrigações por lá.

Até já havia pensado em voltar para a Eslovênia, que é meu país. Mas daí chegou a pandemia e isso influenciou bastante na minha decisão, em onde estou agora".

Anoitecer na Fazenda Sta. Esther - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Anoitecer na Fazenda Sta. Esther
Imagem: Simon Plestenjak

A viagem só de ida para Amparo, que fica há pouco mais de 130 quilômetros de distância da capital paulista, tinha como destino a Fazenda Sta. Esther, uma propriedade que Simon conheceu por ocasião de um trabalho. Acabou ficando amigo dos donos, que no local têm casas de aluguel antes da pandemia muito procuradas para hospedagem através do Airbnb.

Sem turistas, os administradores da fazenda — que conta com piscina, restaurante, uma enorme área verde, além de espaço com animais e horta — buscaram outras maneiras de manter o lugar. A ideia de ter inquilinos mais permanentes pareceu uma saída.

Anoitecer na Fazenda Santa Esther  - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Anoitecer na Fazenda Santa Esther
Imagem: Simon Plestenjak

"Tirei férias na fazenda em 2020 e fiquei amigo dos administradores. A ideia veio em um gatilho, sabe? Entrou na minha cabeça a pergunta de 'será que vale a pena morar fora de SP?'. Foi nessa viagem que comecei a pensar sobre e a decisão e ela me pareceu superintuitiva. Não me arrependo", conta ele.

Recomeço cabalístico

"Em São Paulo eu tinha uma relação amorosa que havia terminado, meu trabalho como fotógrafo diminuiu muito durante a pandemia. Tenho um filho de 16 anos, que vive na capital, e muito de eu morar lá era para ficar perto dele. Mas agora entendo que está em uma idade mais independente, então aproveitei para pesar tudo isso e fiz a mudança", conta o fotógrafo.

Simon Plestenjak em seu antigo apartamento - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Simon Plestenjak em seu antigo apartamento
Imagem: Simon Plestenjak
Simon Plestenjak em sua nova vida na fazenda - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Simon Plestenjak em sua nova vida na fazenda
Imagem: Simon Plestenjak

Depois de acertar os termos de sua estadia na fazenda e organizar as entregas de trabalho, Simon se transferiu definitivamente para o interior em pleno aumento da segunda onda da pandemia de covid-19 em São Paulo.

Aconteceu em dezembro de 2020 e, como ele conta, foi um dia marcante.

"A viagem só de ida foi no dia 12, às 12h12. Engraçado, né? Fiz uma despedida do lugar, um pequeno ritual meu para encerrar esse ciclo. Na hora que fechei a porta foi bem emocionante, mas já estava tudo acontecendo, o carreto estava lá embaixo me esperando. Fui junto com o motorista e a sensação era de que eu estava fazendo tudo certo".

Simon Plestenjak hoje pode andar à cavalo... - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Simon Plestenjak hoje pode andar à cavalo...
Imagem: Simon Plestenjak
... e também tem contato com a natureza - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
... e também tem contato com a natureza
Imagem: Simon Plestenjak

Dois meses sem Netflix

Enquanto muitos de nós só enxergamos respiro na rotina maçante de home office ou de estudos virtuais maratonando séries e filmes no streaming, o fotógrafo conta que há quase dois meses não assiste a nem 10 minutos de nenhuma dessas atrações. "BBB", então, ele não chegou nem perto:

"Desde que me mudei, não deu tempo de ver nenhuma série ou filme da Netflix", brinca.

Fazenda Santa Esther, em Amparo, interior de São Paulo - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
Fazenda Santa Esther, em Amparo, interior de São Paulo
Imagem: Simon Plestenjak

"Acordo 5h30 com o nascer do sol porque é uma rotina ayurvédica que já tinha em São Paulo. Faço ioga às 6h, outras vezes nado na piscina e vou para as tarefas rurais de cuidar de animais, plantas, fico sujo de terra. Depois do almoço, fico no meu 'escritório', que é um espaço com computador e mesa localizado em outro ambiente diferente do da casa onde eu moro. Lá organizo projetos, edito vídeos, fotos e entrego o que me foi pedido. À noite ando a cavalo já que estou cuidando de uma égua que antes era muito arisca. Logo é hora da janta e vou dormir cedo. Me sinto mais vivo e dou graças a deus que fiz essa mudança", conta ele.

Para quem se pergunta o quanto é viável, financeiramente falando, fazer uma transição de vida como essa, vale dizer que longe das tentações de consumo e dos programas sociais que a cidade grande oferece, os gastos mensais acabam sendo bem mais em conta:

A vivência em São Paulo ficou chata dentro do apartamento, saindo na rua sempre com chance de ser contaminado. São Paulo faz sentido se você tem muito para gastar e aproveitar as ofertas fora de casa.

A noite na Fazenda Santa Esther, em foto de 2018 - Simon Plestenjak - Simon Plestenjak
A noite na Fazenda Santa Esther, em foto de 2018
Imagem: Simon Plestenjak

Agora, parando de ganhar dinheiro e passando pelo confinamento, para mim não havia nenhum sentido ficar sem ter uma obrigação maior. No fim das contas, estou vivendo em um lugar a apenas duas horas de distância da capital e minha dinâmica com SP até melhorou. Vou lá só para trabalhar. Já meu filho adorou vir para a fazenda. Viver mais inserido na natureza e dependendo mais dela, interagindo com tantos outros seres vivos é renovador", termina ele.

Inspirado pelas experiências no novo lar, o fotógrafo tem postado em suas redes sociais uma espécie de "Diário da fazenda". Quem ficar interessado em acompanhar pode seguir o perfil pessoal dele — @simonplestenjak — ou o da fazenda, que é o @fazendasantaesther. Quem sabe eles não te inspiram também a tentar uma fuga de SP?