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Comerciante adota cão que estava no lixo e juntos percorrem 2 mil km a pé

Heuberth Lopes, Sukita e uma de suas ninhadas de filhotinhos - Arquivo pessoal
Heuberth Lopes, Sukita e uma de suas ninhadas de filhotinhos Imagem: Arquivo pessoal

Vinícius Rangel

Colaboração para Nossa, em Vitória

20/03/2021 04h00

Em uma caminhada em frente a um hotel de luxo, no centro de Florianópolis, um homem ouviu o choro de um cachorro dentro de um contêiner e resgatou o animal. A vira-lata cor de mel ganhou o nome de Sukita e um lar.

Depois de quase um ano juntos, o comerciante resolveu então ir embora da cidade a pé e levou a cadelinha ao lado dele. Por um ano e meio, eles andaram mais de 2 mil quilômetros até o Espírito Santo. Destino escolhido para viver uma nova vida profissional e pessoal.

Após sua deportação dos Estados Unidos, em 2011, Heuberth Lopes, 40 anos, trabalhava fazendo bicos em festas e hotéis como garçom na capital catarinense.

Foi em 2013, quando voltava de um trabalho, que ele encontrou quem seria sua grande parceira de vida.

Eu estava vivendo um vida sozinho, de depressão. Vi que essa seria uma forma de deixar viver um animal e me fazer feliz também", diz Lopes.

Em 2014, com uma mochila de 18 quilos nas costas, os dois deixaram o litoral sul do país com objetivo de chegar ao sudeste.

Amigos de viagem

Heuberth Lopes e Sukita  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Heuberth Lopes e Sukita
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu não queria deixar ela para trás e organizei tudo para que fosse confortável para ela. Saímos sem dinheiro e comida. Eu me permito fazer isso, para me curar de fase ruim. Na mochila eu tinha roupas, uma bandeira, água, um pouco de arroz e ração", conta Heuberth.

Juntos eles passaram por cinco estados, apenas com uma mochila nas costas. Andaram a pé 1900 quilômetros e outros 400 quilômetros fizeram de carona, com pessoas que se solidarizam durante todo o percurso até o estado capixaba. Enfrentaram frio, chuva e sol juntos.

Os dois amigos chegaram ao Espírito Santo em 2016 e hoje moram em uma casa no município de Mimoso do Sul, região sul do estado. Ela, com sete anos, ajuda o então comerciante a tocar um quiosque em meio a uma praça na cidade.

Ela se tornou a minha melhor amiga. A minha alegria. Não me vejo sem ela mais", disse entusiasmado Lopes.

Vida nômade

Sukita ditava sempre os horários das caminhadas e até mesmo o percurso. Normalmente eram de 15 a 20 quilômetros por dia. O celular com internet auxiliava também no trajeto. Na hora de dormir, Heuberth estendia a bandeira para se cobrir e ela logo se aproximava para descansar.

"Ela dormia debaixo da bandeira do Brasil. Sempre na rua quando eu estendia a bandeira para me cobrir, ela vinha logo perto dos meus pés e se cobria também com a bandeira de quatro metros. Foi assim por muitos meses", explicou Heuberth.

Heuberth Lopes e Sukita - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Heuberth Lopes e Sukita
Imagem: Arquivo pessoal
A viagem de Santa Catarina ao Espírito Santo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A viagem de Santa Catarina ao Espírito Santo
Imagem: Arquivo pessoal

Os dois amigos pausaram a viagem por duas vezes. A primeira na alta temporada ficaram três meses na cidade de Francisco do Sul, em Santa Catarina, e depois por oito meses na Ilha do Mel, no Paraná. Nesses locais, Heuberth buscava empregos temporários para se manter e também ajudar Sukita.

No litoral paranaense, onde conseguiu uma casa temporária e comida, chegou a salvar mãe e filha de um afogamento. "Passei na hora que a mãe e a filha de 9 anos estavam se afogando e consegui resgatar elas. A mulher chegou a fazer uma carta de agradecimento a mim, por ter salvado a vida delas", conta.

Em alguns lugares ele se abrigava até em aldeia de pescadores, ajudava a empurrar barcos e até a vender peixes. Com isso ele também se alimentava e conseguia alguns "trocados" para seguir viagem com a cachorrinha.

Oito filhos em três estados

Por onde Sukita passou deixou uma marca — até mesmo um legado — e a sua trajetória. Ela tem oito filhos no total. Dois em Santa Catarina, outros dois em Curitiba e quatro no Espírito Santo.

No Estado capixaba um dos filhos se chama até mesmo "Pepsi", também seguindo a linha de marca de refrigerante. O cachorrinho, porém, desapareceu em 2017 na cidade de Guarapari. O dono acredita que ele tenha sido roubado e levado para Minas Gerais.

Sukita  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Sukita
Imagem: Arquivo pessoal

"Ele tinha um crachá com nome e todo mundo gostava dele na praia. Sempre que andava com ele, as pessoas ficavam passando a mão. Eu não tenho costume de prender em coleirinhas e acredito que alguém possa ter levado ele embora", explica o comerciante.

Apesar da idade, Sukita ainda não foi castrada. Heuberth sempre cuidou da pequena levando ao veterinário durante todos esses anos.

"A gente nunca passou fome. Sempre tinha ração para ela e comida para mim. Levava ao veterinário, contava a minha história e eles ajudavam até com xampu para dar banho nela. É um carinho enorme que tenho por ela todos os dias", diz Heuberth.

Agora, a vira-lata também é atração onde moram. Super educada e adestrada, ela até realiza alguns truques de mágica com ajuda do melhor amigo. Trata-se de uma amizade verdadeira que nasceu na dificuldade e que segue firme encantando a todos que passam por eles.