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Com Portugal ainda fechado, Ilha da Madeira concilia turismo e pandemia

Vista panorâmica de Funchal, na Ilha da Madeira - Getty Images/iStockphoto
Vista panorâmica de Funchal, na Ilha da Madeira
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa, do Funchal (Ilha da Madeira)

09/03/2021 04h00

Enquanto Portugal segue com as fronteiras fechadas e restrições de voos para países como Brasil e do Reino Unido, a Ilha da Madeira já se abriu totalmente aos turistas com certificados de vacinação ou de recuperação da covid-19. Uma prova de que é possível conjugar turismo e pandemia na mesma frase.

À medida que Portugal continental registrava mais de 10 mil casos diários — o que obrigou o país a adotar um restritivo confinamento iniciado em janeiro e que permanece até hoje —, a Região Autônoma da Madeira conseguiu aplicar medidas efetivas de combate à pandemia, o que fez o arquipélago poder se abrir aos visitantes.

Desde fevereiro, há um "corredor verde" no território madeirense para quem comprovar ter finalizado o ciclo de vacinação ou apresentar um certificado válido (até 90 dias) que comprove que está recuperado da covid-19 nos 90 dias anteriores à viagem. Uma espécie de "passaporte de imunidade" local, conceito que tem sido discutido amplamente pela União Europeia.

Camara de Lobos, na Ilha da Madeira - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Camara de Lobos, na Ilha da Madeira
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Os documentos precisam ser validados pelos respectivos países de origem, e além das informações pessoais, tem de constar o tipo de vacina, a data que as doses foram tomadas e o período de imunização indicado pela bula do medicamento.

Antes, só podiam ingressar aqueles que aterrassem na região autônoma com um teste negativo ao SARS-CoV-2 (o vírus que provoca a doença), feito há menos de 72 horas. Com a nova medida, a Madeira tenta retomar as atividades do turismo, que teve uma queda de mais de 70% nos últimos meses.

Quase normal

A decisão representa um voto de confiança na nova fase que o mundo está a viver, para além de incentivar as visitas à ilha, e ser um estímulo à atividade econômica", afirmou a Associação de Promoção da Madeira (AP-Madeira).

Nas ruas do Funchal, a capital do arquipélago, não é difícil ouvir diferentes idiomas entre os que passam na rua, quase alheios à pandemia — recordada apenas pelas máscaras exigidas pelo governo, inclusive nas vias públicas quando não há possibilidade de distanciamento social.

O toque de recolher para o final do dia (às 19h às 5h nos dias da semana, e às 18h às 5h aos fins de semana) permite que os turistas possam visitar pontos de interesse, conheçam as paisagens idílicas da ilha e até frequentem seus restaurantes.

Zona Velha, bairro famoso por seus restaurantes e cafés, em Funchal - Getty Images - Getty Images
Zona Velha, bairro famoso por seus restaurantes e cafés, em Funchal
Imagem: Getty Images

Em uma sexta-feira no final de fevereiro, o restaurante Kampo, no centro do Funchal, tinha todas as mesas disponíveis ocupadas, muitas delas por turistas estrangeiros. "Não estamos no ritmo normal, mas está correndo bem", diz o chef Julio Pereira.

Dono de mais um restaurante e uma padaria na cidade, que permanecem fechados por hora, ele reconhece que o fluxo de turismo, ainda que menor, tem ajudado nos a dar um fôlego nos negócios locais.

Rigidez desde a chegada

Nos hotéis, a situação é semelhante. "Temos tido de 60% a 70% de ocupação nas últimas semanas", explica o empresário e chef Octávio Freitas, dono do Socalco Nature Hotel, aberto no final de 2020, em plena pandemia.

Se passarmos uma ideia de segurança, mais gente deve começar a vir".

Esta é uma das principais apostas do governo local, que empreendeu uma verdadeira força-tarefa no Aeroporto Internacional Cristiano Ronaldo, no Funchal, para organizar a chegada dos que vêm de fora — incluindo o continente.

Aeroporto Cristiano Ronaldo, na Ilha da Madeira - Getty Images - Getty Images
Aeroporto Cristiano Ronaldo, na Ilha da Madeira
Imagem: Getty Images

Quem aterrissa sem um dos três documentos têm a possibilidade de fazer um teste no próprio aeroporto, que pode levar até 8 horas para sair. A mesma política é adotada no Aeroporto de Porto Santo, a outra ilha que compõe o arquipélago.

Na chegada, funcionários do aeroporto com tablets na mão coletam os dados de todos os passageiros, como telefone, endereço de onde ficarão e até lugar no voo, que são cadastrados no MadeiraSafe, um sistema que permite a autoridades sanitárias locais monitorar o estado de saúde de todos os visitantes no arquipélago.

Funchal, na Ilha da Madeira - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Funchal, na Ilha da Madeira
Imagem: Getty Images/iStockphoto

As filas são muito bem organizadas e rápidas. Depois de mostrar o teste negativo ou o comprovante, os passageiros ganham uma máscara personalizada, garrafas de água e bananas da Madeira, a fruta que é o símbolo da ilha.

Diariamente, também, um aviso chega ao email cadastrado dos passageiros para checar novidades no quadro de saúde (se há algum sintoma, por exemplo), o que permite reportar de forma muito fácil e prática ao governo.

Vantagem na Europa

Câmara de Lobos, da Ilha da Madeira - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Câmara de Lobos, da Ilha da Madeira
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Apesar de ter sido alvo de críticas por alguns representantes da sociedade portuguesa, as medidas colocam a Madeira em uma situação de destaque no turismo, já que é um dos principais destinos europeus com controles desse tipo em funcionamento, o que busca garantir a segurança de visitantes e dos moradores.

A região foi a primeira em Portugal a criar uma cartilha e um certificado de segurança sanitária para o setor do turismo, estabelecendo diretrizes mais claras de higiene para evitar a propagação do vírus.

Facilita muito o fato de a entrada de turistas no arquipélago ocorrer por meio aéreo, o que garante um maior controle do governo de quem chega. Ainda que os acessos tenham sido facilitados com as novas medidas, ela não vale para todos.

Assim como todo território português, apenas cidadãos europeus e de outras poucas nacionalidades (como Austrália, Nova Zelândia e Uruguai) podem entrar no arquipélago. Brasileiros a turismo continuam barrados, a não ser que tenham cidadania europeia e, por isso, apresentem passaporte da União Europeia na chegada.