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Artesã transforma rede de pesca e folhas secas em bolsas e roupas

A artista Nara Guichon criou seu ateliê de arte em Florianópolis e desenvolve técnicas que aprimorou ao longo dos anos - Arquivo Pessoal
A artista Nara Guichon criou seu ateliê de arte em Florianópolis e desenvolve técnicas que aprimorou ao longo dos anos
Imagem: Arquivo Pessoal

Aline Takashima

Colaboração para Nossa

09/03/2021 04h00

Nara Guichon

Nara Guichon

Quem é

Artesã e ativista ambiental. Cria esponjas, bolsas e obras de arte com redes de pesca. E desenvolve estampas com a impressão natural de flores e folhas.

O atelier de Nara Guichon, de 65 anos, é rodeado por redes de pesca. O que para a maioria é lixo é matéria-prima nobre para a artesã. Os materiais descartados pelos pescadores e as folhas secas tornam-se bolsas, esponjas, xales, roupas e até mesmo obras de arte nas mãos da artista.

Antes de ler e escrever, Nara sabia tricotar. Aprendeu aos 4 anos com as vizinhas em Porto Alegre (RS). Desde então, não parou mais de entrelaçar fios.

Nara Guichon com uma de suas criações - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Nara Guichon com uma de suas criações
Imagem: Arquivo Pessoal

Em 1998, começou a produzir tecidos de redes de pesca com a técnica de tecelagem. "Eu encontrei redes de pesca carcomidas com diferentes tons de cinza e bege. Todas tinham uma tintura natural produzida pelo tempo."

Ela vive e trabalha no sul de Florianópolis, perto do mar. Foi lá que iniciou a sua trajetória na moda e alta-costura.

As roupas que produz duram muitos anos e passam por várias gerações, já que as redes são resistentes e se mesclam com crochês feitos com materiais naturais como algodão orgânico, lã, linho e rami.

Estampas naturais

Folhas se transformam em estampas com técnica dominada pela artista - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Folhas se transformam em estampas com técnica dominada pela artista
Imagem: Arquivo Pessoal

As folhas e flores que caem das árvores e galhos são eternizadas em diferentes formatos de estampas em uma técnica conhecida como ecoprint ou impressão botânica.

O seu trabalho é reconhecido internacionalmente. Em 2020, Nara recebeu uma menção honrosa na Bienal Ibero-Americana, em Madrid, pelo vestido "Maréa", feito com ecoprint e reuso de redes de pesca.

A artesã também multiplicou as suas estampas em cadeiras, poltronas e bandejas, em parceria com a empresa Fitto Design.

Um grito de socorro

Poltrona carambela feito em parceria com Fitto Design - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Poltrona carambela feito em parceria com Fitto Design
Imagem: Arquivo Pessoal

Atualmente, Nara se concentra na produção de esponjas, sacolas e bolsas feitas com redes de pesca.

A artesã dá forma e vida para o material desgastado. Também cria esculturas e obras de arte de tricô. "As obras de arte são um grito de socorro da natureza", resume.

A artista acumula prêmios. Foi premiada três vezes pelo Museu da Casa Brasileira, em 2016 e 2019.

O seu trabalho pode ser considerado uma gota no oceano se comparado com a imensidão do mar. Mas faz diferença no planeta. Por ano, ela resgata duas toneladas de redes de pesca nas praias.

"Os oceanos têm muito lixo nobre, materiais que podem ser transformados e valorizados."

@s que me inspiram

@prophet_of_bloom

India Flint é uma designer australiana, criadora de ovelhas e papisa do ecoprint. Ela desenvolveu a técnica enquanto observava como os ovos do galinheiro formavam marcas de folhas feitas com eucalipto.

@purewaste

A Pure Waste é uma empresa de roupas finlandesa. Eles compram algodão das fábricas e trabalham inclusive com o pó do algodão. Nenhuma floresta é desmatada para confeccionar as roupas. Só utilizam materiais reciclados.