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Casal se separa em mochilão para descobrir o prazer de viajar sozinho

Henrique e Priscilla no Egito - Arquivo pessoal
Henrique e Priscilla no Egito Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração com Nossa

03/03/2021 04h00

Priscilla Bittencourt Delevali, de 34 anos, e Henrique Delevali de Almeida, 36, começaram a namorar na época de faculdade, se casaram em 2013 e, em 2018, deram início a um mochilão de volta ao mundo sem data para terminar.

Após percorrerem juntos diversos países da Europa, da África e da Ásia, os dois chegaram à Índia e, lá, resolveram se separar momentaneamente, para que cada um seguisse viagem sozinho.

O casal teve a ideia de tomar esta iniciativa após ouvir relatos afirmando que o turismo solitário pode ser extremamente prazeroso e enriquecedor.

Também percebemos que viagens em casal muitas vezes nos colocam em uma zona de conforto. Por termos a companhia um do outro, a gente acaba, talvez, se conectando menos com as pessoas que conhecemos na estrada", explica Priscilla.

Para ela, pôr do sol no deserto

Priscilla sozinha na Índia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscilla sozinha na Índia
Imagem: Arquivo pessoal

Ao se despedir de Henrique, Priscilla foi para um ashram (centro onde as pessoas se dedicam a práticas como meditação e ioga) da cidade da Rishikesh.

"Fiquei sete dias por lá, na beira do rio Ganges", relata ela.

Foi um dos momentos mais incríveis para mim, de bastante introspecção e em que pude refletir sobre muitas coisas da minha vida".

Depois de deixar o ashram, a brasileira subiu em ônibus e trens sozinha para explorar alguns dos mais famosos destinos da Índia.

Priscilla meditando em Rishikesh - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscilla meditando em Rishikesh
Imagem: Arquivo pessoal

Ela se embrenhou na mítica região do Rajastão, para conhecer cidades históricas como Jaipur e Jaisalmer.

Nos arredores desta última localidade, fez um passeio no deserto para ver um pôr do sol que está entre os mais famosos da terra dos marajás.

Priscilla em deserto no Rajastão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscilla em deserto no Rajastão
Imagem: Arquivo pessoal

Já na pitoresca cidade de Bundi, ao se sentar em um parque para descansar, Priscilla foi abordada por um grupo de meninas locais. "Algumas delas falavam um pouco de inglês e me convidaram para ir até o lugar onde moravam. Entrei nas casas e conheci as avós e os pais de uma delas. Fui muito bem tratada. Conversamos, tiramos fotos, fizemos vídeos e brincamos. Foi um momento muito especial".

Priscilla e suas novas amizades na Índia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Priscilla e suas novas amizades na Índia
Imagem: Arquivo pessoal

Para ele, templo dos ratos

Enquanto isso, Henrique também visitava interessantes lugares espirituais, também na Índia.

Ele foi, por exemplo, a Amritsar, cidade sagrada para o sikhismo. Lá, ele conheceu o fantástico Templo Dourado e se ofereceu para lavar pratos na cozinha de um centro religioso que distribui comida gratuitamente para as pessoas.

Henrique no tempo dos ratos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Henrique no tempo dos ratos
Imagem: Arquivo pessoal

Depois disso, pisou no que certamente é um dos atrativos turísticos mais exóticos da Índia: o templo de Karni Mata, situado no Rajastão e onde fiéis veneram ratos — que, no local, circulam livremente pelo chão, entre altares e no meio das pernas de pessoas orando.

Segundo a crença hinduísta, os roedores do templo são descendentes de Karni Mata, uma mulher que viveu no século 14 e que teria sido uma encarnação de uma deusa chamada Durga, de enorme importância para os hindus. É por esta razão que os bichos são cultuados ali.

E o detalhe é você tem que entrar no templo descalço. Tive que ficar torcendo para não pegar alguma doença", brinca o brasileiro.

Henrique sozinho na Índia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Henrique sozinho na Índia
Imagem: Arquivo pessoal

"E, ao mesmo tempo, é muito interessante ver até onde vai a fé das pessoas".

Reencontro no Taj Mahal

Curiosamente, o caminho dos dois se cruzou, por acaso, na cidade de Agra, onde está o Taj Mahal — considerado um dos monumentos mais românticos do mundo, já que foi construído pelo imperador Shah Jahan em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam.

Os viajantes Henrique Delevali de Almeida e Priscilla Bittencourt Delevali no Taj Mahal - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Os viajantes Henrique Delevali de Almeida e Priscilla Bittencourt Delevali no Taj Mahal
Imagem: Arquivo pessoal

Henrique e Priscilla visitaram juntos o cartão-postal e, no dia seguinte, voltaram a se separar, para continuar com suas jornadas individuais.

Outras célebres cidades indianas como Nova Délhi e Udaipur também foram desbravadas por Henrique ou Priscilla (ou por ambos).

Aprendizado

Quando anunciaram a decisão em seu perfil no Instagram (@pandaspelomundo), entretanto, os dois lidaram com reações negativas. "Alguns seguidores nos criticaram, geralmente com comentários machistas, dizendo que o Henrique não deveria permitir que eu viajasse sozinha", lembra Priscilla. "Mas a grande maioria das pessoas nos apoiou".

Henrique Delevali de Almeida e Priscilla Bittencourt Delevali em trem na Índia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Henrique e Priscilla em trem na Índia
Imagem: Arquivo pessoal

Para o casal, estas viagens solitárias permitiram que cada um deles explorasse os destinos em seu próprio tempo, dando uma carga mais contemplativa à jornada. E os aprendizados foram muitos.

"Após tantos anos, nós dois já havíamos até esquecido como era viajar sozinho", reflete Henrique.

Nestas viagens sem companhia pelo país, tivemos que aprender a nos virar sozinhos. Foi uma decisão muito saudável para a gente como casal. Com esta separação, acabamos nos aproximando mais ainda".

Ao todo, o casal ficou separado por três semanas e, hoje, a dupla ainda se encontra na estrada, em uma praia do Camboja, totalmente juntos de novo.

Henrique e Priscilla, em Varanasi (Índia) - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Henrique e Priscilla, em Varanasi (Índia)
Imagem: Arquivo pessoal

Mas ambos não descartam realizar novas separações momentâneas em viagens no futuro. "Vamos sempre buscar momentos em que cada um possa se reconectar consigo mesmo", diz Henrique. "Preservar nossa individualidade é muito saudável".