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Brasileira enfrenta morte de amiga e pandemia ao cruzar a África

Marina Pedroso em frente às Pirâmides de Gizé, no Egito - Arquivo pessoal
Marina Pedroso em frente às Pirâmides de Gizé, no Egito
Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

17/02/2021 04h00

Quando as notícias do surgimento do novo coronavírus começaram a se espalhar pelo mundo, no início de 2020, a brasileira Marina Pedroso (@womanifests) estava na Tanzânia, fazendo uma trilha no monte Kilimanjaro, a montanha mais alta da África.

"Passei seis dias na montanha e, durante este tempo, fiquei offline. Quando voltei da expedição, foi a primeira vez que ouvi falar da covid. Retornei para o mundo online e estava este caos", conta ela.

Na época, Marina havia acabado de começar um mochilão com o intuito de cruzar o continente africano e, depois, desbravar grande parte da Ásia.

Seu objetivo consistia em ficar na estrada por aproximadamente dois anos e, também, tentar chegar à Europa. Mas o coronavírus impactaria todos estes planos.

Marina estava em trilha no monte Kilimanjaro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina estava em trilha no monte Kilimanjaro quando soube da pandemia
Imagem: Arquivo pessoal

Subir a mais alta montanha africana pareceu um preâmbulo para outros grandes desafios que iriam surgir no caminho.

Nos meses seguintes à trilha do Kilimanjaro, a brasileira enfrentaria verdadeiras provações, que incluiriam lidar com a morte de uma amiga, atravessar um inesperado cenário de guerra e superar os desafios impostos pela pandemia.

Do paraíso à tragédia

Marina começou sua viagem na África do Sul, onde desbravou cartões-postais como as montanhas Table Mountain e Lion's Head, que oferecem vistas incríveis para a Cidade do Cabo.

Lion's Head, na Cidade do Cabo  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lion's Head, na Cidade do Cabo
Imagem: Arquivo pessoal
Table Mountain, na Cidade do Cabo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Table Mountain, na Cidade do Cabo
Imagem: Arquivo pessoal

Em Moçambique, o destino seguinte, visitou praias paradisíacas e fez amizade com a população local. "Os moçambicanos são um povo caloroso e encantador. Eles falam português e amam dançar. Em vários momentos, lembrei do Brasil", diz.

Marina fez safári no Parque Nacional Serengeti  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina fez safári no Parque Nacional Serengeti
Imagem: Arquivo pessoal

O ingresso na Tanzânia, por sua vez, foi presenteado com um safári no Parque Nacional Serengeti (um dos melhores lugares para admirar vida selvagem no mundo), passeios em praias de Zanzibar e com a trilha do Kilimanjaro.

Marina em Zanzibar - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina em Zanzibar
Imagem: Arquivo pessoal
Marina fez amizades em Moçambique - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina fez amizades em Moçambique
Imagem: Arquivo pessoal

As notícias iniciais do surgimento do coronavírus não impediram que a brasileira entrasse no Quênia, no final de fevereiro de 2020. Mas foi neste país africano que tudo mudou: em março, o governo queniano decreto lockdown e Marina ficou sem saber o que fazer.

"Naquele momento, um amigo propôs que eu ficasse, sem custo nenhum, em seu apartamento na cidade de Mombasa, que estava desocupado. Foi algo que caiu do céu", relata.

Foi nesta época que Marina lidou com um dos grandes baques de sua jornada.

Marina em Mombasa, no Quênia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina em Mombasa, no Quênia
Imagem: Arquivo pessoal

Sua amiga brasileira Rachel Varoto, que estava vindo de Uganda para encontrá-la em Mombasa, faleceu durante o trajeto, em decorrência de complicações por conta de malária. Ao passar mal e ser levada a um hospital, ela teria tido seu atendimento negligenciado pelos médicos, receosos de que ela estivesse contaminada com coronavírus.

Aquilo me deixou muito mal. Foi muito difícil estar sozinha durante a pandemia e, de repente, perder uma amiga viajante, que era uma inspiração para mim", lamenta Marina.

Solidão e guerra

Junto com o luto, veio o isolamento.

Por conta dos impactos da pandemia no mundo das viagens, Marina interrompeu seu mochilão e acabou ficando por quase nove meses no Quênia (o plano inicial era estar no país africano por apenas 20 dias).

"Foi triste passar meu aniversário sozinha e me perguntar o que seria do meu sonho de viajar pelo mundo", conta ela.

Mergulhei em incertezas. A pandemia praticamente causou a morte do amanhã, a morte do futuro. Não dava para planejar basicamente nada".

Coisas boas, porém, também aconteceram neste período. Adepta de realizar trabalhos voluntários em suas viagens, ela usou seu tempo para ajudar pessoas durante sua estadia no Quênia, conseguindo viabilizar, com um benfeitor local, o pagamento dos estudos de uma menina de 12 anos que vive em situação de pobreza no país.

Isolamento no Quênia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Isolamento no Quênia
Imagem: Arquivo pessoal

"Também aproveitei a interrupção da viagem para ler muitos livros, escrever mais e encarar a vida de uma nova maneira, com a visão mais focada em mim mesma e no presente. A pandemia nos mostrou que o futuro é totalmente incerto".

E, passados quase nove meses, Marina finalmente conseguiu deixar o Quênia e seguir com sua jornada.

O destino: a Etiópia, que colocaria a brasileira dentro de outra situação tensa.

Quando ela ingressou no país, no final de 2020, havia acabado de estourar uma guerra entre o governo etíope e um grupo opositor que atua no norte desta nação africana.

"Quando cheguei à Etiópia, o norte do país estava todo bloqueado, por causa do conflito. E o norte era a região que eu mais queria conhecer, pois lá está a Depressão de Danakil. Mudei os planos e acabei indo para o sul do país, no Vale do Rio Omo".

Marina cruzou o Vale do Rio Omo, na Etiópia, de moto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Marina cruzou o Vale do Rio Omo, na Etiópia, de moto
Imagem: Arquivo pessoal

Não seria fácil, entretanto, escapar totalmente das consequências da guerra.

Marina conta que, certo dia, do hostel em que se hospedou na cidade etíope de Awassa, ela ouviu uma mulher gritando de maneira desesperada em uma casa ao lado. Logo em seguida, descobriu que a pessoa acabara de saber que um parente seu havia morrido no front bélico.

É uma situação que eu não estava preparada para viver. Naquele momento, senti que a guerra estava muito próxima de mim".

Enfim, o Egito

Mesmo com tantos obstáculos, Marina finalmente conseguiu chegar ao Egito no último mês de dezembro.

Mergulho no Mar Vermelho - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mergulho no Mar Vermelho
Imagem: Arquivo pessoal

E aquilo representou uma enorme realização para sua viagem: ir da África do Sul ao território egípcio — países que ficam, respectivamente, no extremo sul e no norte do continente africano - é considerado um grande feito por muitos mochileiros.

E, para Marina, foi como se a primeira etapa de sua jornada estivesse finalmente prestes a ser concluída.

"No trajeto, aconteceram mil coisas que poderiam ter me feito desistir da viagem, parar tudo e voltar ao Brasil. Precisei ter muita resiliência. Ter chegado ao Egito me dá a sensação de que posso fazer qualquer coisa", comemora ela.

E a brasileira só tem vivido bons momentos na terra dos faraós: nos últimos meses, ela se encantou com a grandiosidade das pirâmides de Gizé, mergulhou no Mar Vermelho a partir da Península do Sinai e conheceu o oásis de Siwa, onde passou o Réveillon.

Lago de sal em Siwa, no Egito - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Lago de sal em Siwa, no Egito
Imagem: Arquivo pessoal
Réveillon em Siwa, no Egito - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Réveillon em Siwa, no Egito
Imagem: Arquivo pessoal

Seu plano é ficar no Egito até o final de março e, depois disso, seguir viagem.

Não sei qual será a minha rota. Depende muito de quais países estarão abertos. Mas ainda quero cruzar o Oriente Médio e rodar pela Ásia".

Depois de sobreviver a um começo difícil de viagem, ela garante: "ainda não tenho data para voltar ao Brasil".