Brasileira realiza sonho de ir à Irlanda e acaba cara a cara com a covid-19
A brasileira Dalila Damasceno, 29 anos, sempre quis conhecer a Irlanda. "Gosto muito da cultura céltica, das paisagens irlandesas e de séries que foram gravadas no país", conta ela.
Em 2019, após passar um longo tempo economizando dinheiro, ela finalmente conseguiu realizar seu sonho: inscreveu-se em um programa de intercâmbio e foi para Dublin estudar inglês.
Até março deste ano, Dalila estava levando uma típica vida de estudante estrangeira na cidade. Ia às aulas, passeava nos dias de folga e, para se manter, conseguiu um emprego: em agosto de 2019, foi contratada para atuar na equipe de limpeza de um hospital da capital irlandesa (um trabalho muito comum entre intercambistas no país).
A pandemia, entretanto, trouxe um choque de realidade.
"No começo do ano, me designaram para trabalhar no andar do hospital onde são atendidos pacientes com covid-19. E, desde então, estou fazendo a mesma coisa", relata ela.
A maioria dos pacientes é composta por idosos passando por complicações. Já enfrentei situações que me deixaram bem triste, como ser praticamente a última pessoa a ver o gesto final de um paciente. Às vezes, consigo levar isso de forma mais fria e firme. Mas, às vezes, não é possível agir assim. Cansei de contar os dias em que chorei com vontade de pegar o primeiro avião para o Brasil"
E há outros fatores que fazem Dalila ter o impulso de voltar para seu país, como a saudade da família e os lockdowns que vêm sendo decretados na Europa — que a impedem de realizar viagens pela região.
Experiências marcantes
A brasileira afirma que ainda não foi infectada pela covid-19, mas que "tem muito medo" de contrair a doença — e fala que, de início, não estava preparada para lidar com a gravidade do cenário causado pelo coronavírus. "Meus pais, que estão no Brasil, também ficaram muito preocupados quando souberam que meu emprego estava deste jeito".
No hospital, ela é responsável por fazer a limpeza de dez quartos, trabalhando com o corpo quase totalmente coberto por equipamentos de proteção individual. Mas diz que, mesmo vivenciando este ambiente pesado, tem tido experiências positivas.
"É muito bom ver o agradecimento de alguns pacientes, que dão valor para o meu trabalho. Já ganhei até presente de pessoas que ficaram internadas na minha ala", diz. E, por incrível que pareça, Dalila tem sido testemunha de bons momentos no hospital.
Celebrei ao ver pessoas que conseguiram se recuperar e voltar para casa curadas. São momentos bonitos que meu emprego me proporciona e que me dão forças para continuar"
O trabalho da brasileira, entretanto, poderia ter gerado mais dilemas em sua vida pessoal: em Dublin, ela divide um apartamento com seu namorado e um colega.
E eles não ficaram com medo ao saber sobre a dinâmica do seu emprego? Tiveram receio de que Dalila pudesse trazer o coronavírus para dentro de casa?
A brasileira afirma que seus companheiros de residência têm sido compreensivos — e que eles sabem que as normas de segurança do hospital são muito rígidas para proteger a saúde dos seus trabalhadores. "E eles também têm que se cuidar, para não contrair a doença e me infectar. Isso seria muito prejudicial para todos".
Aprendizados no caos
Mesmo se encontrando no olho do furacão causado pela pandemia, a brasileira pretende ficar, pelo menos neste momento, na Irlanda — e também no seu emprego.
"Estou saturada com a questão do coronavírus, mas é arriscado pedir demissão agora. Durante esta crise, não posso sair de um trabalho que me proporciona estabilidade financeira e dar um tiro no escuro. E quis mudar para cá durante muito tempo. Quando cheguei à Irlanda, quase não acreditei. Era um sonho realizado. Não posso voltar ao Brasil depois de todo o esforço que fiz para estar aqui", explica.
E ela ainda quer completar os objetivos que a levaram à Europa: terminar seu curso (que vai até junho do ano que vem), curtir a experiência de viver em um país estrangeiro e viajar.
"Consegui realizar algumas viagens dentro da Irlanda, para lugares como Cork, Wicklow e o Guinness Lake, que foi cenário para a série 'Vikings'", conta. "Eu faria minha primeira viagem para fora da Irlanda, para o Marrocos, na mesma semana em que houve o primeiro lockdown aqui. Foi um balde de água fria".
Hoje, sempre que possível, Dalila faz passeios por Dublin, "mas sempre tentando manter distanciamento social", ressalta ela.
Um de seus lugares preferidos na cidade — e que ela indica para brasileiros que sonham conhecer a capital irlandesa — é o Phoenix Park. "É um parque imenso, onde é possível admirar cervos e que oferece muita calmaria e lindas paisagens. Perfeito para caminhar e fazer um piquenique", conta.
E toda esta situação gera uma série de reflexões: "jamais imaginaria que isso iria acontecer na minha vida. Vim com um monte de planos para cá, mas, com a pandemia, tudo mudou em 180 graus. A pressão no trabalho e a expectativa de que a situação melhore deixa, às vezes, tudo mais complicado. Mas, para lidar com isso, tenho percebido que sou muito mais forte do que imaginava ser".
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