Confeiteiros viram milionários com aulas online durante a pandemia

Os primeiros dias da pandemia foram sofridos e desnorteantes para a maior parte da população. Mas, para alguns confeiteiros, certamente esta será lembrada como uma das melhores fases de suas vidas.

Com todos dentro de casa e a ansiedade batendo na estratosfera, as redes sociais e a cozinha - especialmente para fazer um docinho - se tornaram refúgios perfeitos para as pessoas, e ingredientes ideais para profissionais que já estavam preparados para entregar aulas online de qualidade sobre a cozinha doce, voarem alto.

Profissão: chef

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Foi o que aconteceu com Bruna Rebello (@cakeloverbr). Com a falência de dois negócios na área da gastronomia no currículo e o segundo lugar na competição "Fecha a Conta - Bolos", do programa "Mais Você", exibido no início de 2019, a confeiteira vinha focando seu trabalho em aulas online sobre bolos com buttercream (creme de manteiga), mas nada se comparou com o retorno obtido com os cursos lançados durante a pandemia.

Enquanto muito chef de cozinha ainda quebrava a cabeça para implementar o sistema de delivery, ela conseguiu faturar R$ 1 milhão em apenas cinco dias ao relançar o curso "Bolos de Casamento sem Drama 2.0".

Foi surreal. As pessoas estavam enlouquecidas", diz ela.

A façanha foi repetida em agosto, com outro curso (também pré-existente), o "Be-á-bá do Buttercream 2.0", este poucos dias após dar à luz sua primeira filha.

O sucesso não veio à toa. Há mais de um ano ela vem estudando, investindo e aplicando técnicas de marketing digital em sua marca, a Cake Lover, para atrair seguidores, criar reputação, gerar leads (termo usado para designar compradores potenciais) e preparar um material de qualidade.

Junte-se a isso a onda de desemprego e o tempo livre, que fizeram com que o interesse por cursos online crescesse de forma impressionante durante o lockdown. Para se ter uma ideia, só a Hotmart, umas das principais plataformas de cursos digitais, cresceu 322% em volume de buscas, nesse período, segundo dados apresentados pelo Google.

Dedicação e relação

Para chegar ao público e ter sucesso no universo online não basta apenas dedicação e sorte. É preciso entender como funciona o meio digital e saber surfar em suas ondas, peculiaridades e demandas.

Presença digital constante nos diferentes canais, com posts diários, lives, aulas gratuitas, interação com o público, materiais originais organizados, qualidade de conteúdo e audiovisual, além de plataformas de venda bem estruturadas e muita disposição para trabalhar às vezes 24 horas por dia são essenciais para o retorno retumbante aparecer.

Foi o que descobriu o chef Diego Lozano, proprietário da escola de confeitaria que leva seu nome, em São Paulo. Com cursos online disponíveis em sua plataforma há alguns anos, ele só sentiu o real potencial do ensino a distância nos últimos meses, quando viveu momentos positivamente "assustadores".

Nos primeiros dias da pandemia achei que estávamos ferrados", lembra.

A escola, que já estava recebendo em média 100 a 120 alunos por mês, número abaixo da capacidade, de repente teve de fechar. Mas, numa manobra rápida, Diego reempacotou a preços promocionais os poucos cursos online preexistentes - que passaram de R$ 2 mil para R$ 600 -, e abriu turmas para aulas ao vivo, pelo Zoom.

Foi uma explosão. Nos dois primeiros meses tivemos uma média de 400 a 600 alunos nessas classes e vendemos, mais de 3500 pacotes de cursos", afirma.

Com lives constantes no Instagram e o canal do YouTube reativado, ele viu no interesse do público a oportunidade de vender receitas. "Nunca acreditei nisso. Tinha preconceito. Sempre achei que as pessoas não pagariam para ter algo que já tinham de graça dando um Google, mas foi um retorno (novamente) assustador", conta.

As aulas gravadas dentro de casa começaram a ser lançadas em um novo site, o SugarLab, "criado em apenas dois dias". E, o que era para ser um plano B, hoje conta com 8 mil seguidores no Instagram (contra 115 mil no perfil da Escola de Confeitaria) e passou a encabeçar o faturamento. "Passamos a viver disso", diz ele, que em apenas quatro meses lançou mais de mil novas receitas.

Como se não bastasse, a explosão dos cursos online serviu de impulso para Diego tirar do papel o sonho de abrir uma loja física focada na venda de doces e viennoiseries (a grosso modo, croissants e outros doces com massa folhada).

Batizado Casaria, o empreendimento será inaugurado ainda em novembro e ocupa uma casa na esquina da alameda Franca com a rua Haddock Lobo, no coração do bairro do Jardins, em São Paulo, com um mix de cafeteria, padaria e chocolateria.

"Começamos a colocar o projeto em andamento no começo da pandemia e quando surgiu o ponto, entramos com tudo", explica o chef, que também transferirá para lá a escola física, com direito a cursos presenciais dos doces autorais que estarão à venda na vitrine.