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Brasil é uma das prioridades da Argentina ao abrir fronteiras, diz ministro

Matías Lammens, ministro argentino do Turismo e dos Esportes, tem a expectativa que até o final do ano a Argentina possa receber turistas brasileiros, mas decisão depende de outros fatores Imagem: Divulgação

Luciana Taddeo

Colaboração para Nossa, de Buenos Aires, Argentina

16/10/2020 14h20

Após sete meses com fronteiras fechadas, a Argentina começará, em aproximadamente dez dias, a permitir a entrada dos primeiros estrangeiros não residentes no país. Os primeiros autorizados serão os uruguaios, que chegarão em barcos de uma companhia que opera na travessia do Rio da Prata, conectando os dois países, e seguirão protocolos "rígidos", como teste para coronavírus dentro da embarcação.

A iniciativa é vista como um teste para uma reabertura gradual das fronteiras, para a qual ainda não há um calendário definido. O que já se sabe é que a Argentina pretende que os brasileiros estejam entre os primeiros a desembarcar em seus aeroportos quando o governo de Alberto Fernández voltar a autorizar voos internacionais regulares - hoje, somente alguns estão operando, com autorização.

"Queremos começar a permitir primeiro a entrada de estrangeiros de países limítrofes, principalmente do Brasil, e em segundo lugar do Chile", disse o ministro argentino do Turismo e dos Esportes, Matías Lammens, quando questionado por Nossa em entrevista a um grupo de jornalistas na Casa Rosada, afirmando estar conversando com o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, sobre a retomada do tráfego bilateral.

Lembrando que os brasileiros lideram a quantidade de turistas estrangeiros que viajam anualmente para a Argentina e que o principal destino internacional dos argentinos é o Brasil, ele diz que como os dois países se abastecem mutuamente de visitantes, a retomada do fluxo "é muito importante para as duas economias".

Cena da quarentena obrigatória: a Avenida Corrientes, uma das mais movimentadas de Buenos Aires, quase sem ninguém no sábado, 27 de março Imagem: Marcelo Endelli/Getty Images

"Estamos trabalhando em protocolos e em fazer algumas experiências com o Uruguai e com o Paraguai. Depois naturalmente esperamos poder receber turistas brasileiros, chilenos, peruanos. É nossa vontade. Mas claro que é o Ministério da Saúde e o presidente quem terminam definindo se efetivamente vamos abrir as fronteiras ou não, mas temos expectativa de que possamos começar a abrir na temporada de verão", também afirmou o ministro argentino do Transporte, Mario Meoni.

Mas após um longo período de isolamento social, principalmente na região metropolitana de Buenos Aires, e a extensão de medidas de restrição no país — que variam de região para região — pelo menos até 25 de outubro, a retomada da atividade turística argentina deve ser paulatina, "com muita precaução" para "não correr nenhum tipo de risco" e "sem jogar para o alto todo o esforço", ressalta Lammens.

Cruzeiros, por exemplo, não parecem estar em um panorama próximo, como adiantou Meoni: "Ainda é muito prematuro estabelecer algum cronograma. Acho que vamos ter algum tipo de turismo de cruzeiros no verão, mas vai ser muito escasso", adiantou.

O fluxo de turistas na capital caiu mais de 70% nos últimos meses Imagem: Getty Images

Nesta semana, o governo argentino anunciou a regularização dos voos domésticos e viagens de ônibus e trens de longa distância, mas exclusivamente para trabalhadores essenciais e os governadores terão o poder de autorizar ou não a chegada de passageiros de outras províncias. Além disso, uma prova piloto será realizada neste fim de semana na cidade de San Carlos de Bariloche, com 500 visitantes argentinos, que testarão protocolos sanitários de hotelaria, gastronomia e agência de viagens.

Após abordar essas previsões em entrevista para um grupo de jornalistas na Casa Rosada, o ministro argentino do Turismo falou com exclusividade a Nossa. Confira os principais trechos:

Nossa: Para quando o agente de turismo que trabalha com viagens para a Argentina e o brasileiro que quer vir para cá podem esperar marcar uma viagem? Qual é a previsão de reabertura das fronteiras?

Matías Lammens. ministro do Turismo Imagem: Divulgação

Matías Lammens: Estamos prevendo abrir as fronteiras a princípio para países limítrofes, para turistas que venham do Uruguai, do Brasil, do Chile, Paraguai e Bolívia, em um prazo curto. Não posso dar precisões exatas sobre a data, mas certamente vai ser um dos próximos anúncios, porque a verdade é que os turistas brasileiros para a Argentina representam uma renda muito importante, são o principal país emissor de turistas para a Argentina e porque há um laço de irmandade entre o Brasil e a Argentina.

O Brasil também é o lugar para mais os argentinos vão e isso representa uma renda muito importante para os dois países. Para a Argentina, no ano passado [o turismo receptivo], em quantidade de divisas, representou mais de 6 bilhões de dólares, o quarto item em geração de divisas. Então estamos com muita expectativa e trabalhando muito para o antes possível abrir as fronteiras sobretudo com países limítrofes.

Em Bariloche, por exemplo, o brasileiro representa grande ocupação dos hotéis de alta categoria. É pela questão econômica que se coloca o Brasil como um dos primeiros países para o qual se abriria o turismo?
Tem uma questão econômica sim em receber turismo estrangeiro, o turismo receptivo é uma das grandes apostas do nosso governo, sem nenhuma dúvida. Mas diria que tem mais a ver com uma questão de proximidade, com o que achamos que vai acontecer com o turismo pós pandemia.

As primeiras viagens, pelo que estudamos, e pelo que aconteceu na Europa também, são viagens mais curtas, e eu penso em São Paulo-Buenos Aires, são duas horas de voo, viagens talvez de não muita distância, sem muitas horas de avião. Neste contexto acho que tanto a Argentina tem muita possibilidade de receber os turistas brasileiros como certamente o Brasil tem com os turistas argentinos.

O turismo em Bariloche, na Argentina, depende, em grande parte, dos visitantes brasileiros Imagem: Hernan Villar/Turismo de Bariloche

Entendo que o senhor não possa me dar uma previsão, mas estamos falando de semanas, de meses, ainda deste ano?
Espero que antes do fim do ano possamos ter a possibilidade de receber turistas brasileiros.

É possível que algumas províncias abram para o turismo estrangeiro, como Rio Negro, onde fica San Carlos de Bariloche, por exemplo, e outras não?
Não, o que tem a ver com o turismo estrangeiro, abrir ou não as fronteiras, é uma decisão do governo nacional. Mas é verdade que ao ser um país federal cada governador tem o poder de decidir se eventualmente autoriza o turismo ou não. Eu diria que a decisão que vamos tomar vai ser em consenso com os 24 governadores e para todos, claro que para alguns mais e para outros menos, mas para todos o turismo estrangeiro é uma renda importante.

Em termos de protocolos sanitários o que vocês estão pensando para quando os turistas começarem a chegar?
Nós ontem recebemos uma distinção muito importante da WTTC [Conselho Mundial de Viagens e Turismo] de safe travel, de que a Argentina é um destino seguro. Aprovaram todos os protocolos que o setor público fez em conjunto com o setor privado, homologado pelas 24 províncias. Então o turista que vier do Brasil vai ter que cumprir o mesmo protocolo em um restaurante de Buenos Aires, de Salta, de Jujuy ou de Tierra del Fuego. Isso é importante e ser reconhecido mundialmente como um destino seguro nos dá um selo que qualidade e nos permite oferecer o destino sem nenhum temor.

Caminito: de multidão de turistas a cenário melancólico durante a quarentena Imagem: Luciana Rosa/UOL

Mas o que estão pensando em termos de protocolo? No Caminito, por exemplo, um lugar cheio de gente?
O que não pode mais acontecer são essas aglomerações. Nós vamos trabalhar com promotores turísticos em cada um dos grandes destinos e vai ter um olho do Estado observando que o distanciamento social, o uso do álcool em gel, de máscara, sejam cumpridos. Também vamos observar os protocolos de gastronomia, de hotelaria, vamos ter uma aplicação de fluxo de gente para atuar nestes lugares e também vamos ter hospitais móveis em diferentes pontos do país para se eventualmente houver um surto, estar preparados em termos de estrutura sanitária para atender.

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