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Como nasce uma Gisele Bündchen na indústria da moda?

Gisele Bündchen em 1999, no desfile da Chanel, ano em que foi eleita a Maior Modelo do Mundo pela MTV - Daniel Simon/Gamma-Rapho via Getty Images)
Gisele Bündchen em 1999, no desfile da Chanel, ano em que foi eleita a Maior Modelo do Mundo pela MTV
Imagem: Daniel Simon/Gamma-Rapho via Getty Images)

Gustavo Frank

De Nossa

29/09/2020 04h00

"Bonita, alta e espevitadinha". Essa é uma das primeiras lembranças que a empresária de top models e ex-modelo Liliana Gomes tem de Gisele Bündchen, quando ela ainda dava seus primeiros passos rumo à carreira internacional que fez dela uma das maiores no mundo todo.

"Eu quero ser a maior jogadora de vôlei do Brasil, mas se você me disser que posso me dar melhor nessa carreira... Eu quero tentar", respondeu Gisele nos anos 90 após o convite da empresária para conhecer a agência Elite, criadora do The Look of The Year, à epoca chamado Elite Model Look, que catapultou nomes como Isabeli Fontana, Michelle Alves, Ana Beatriz Barros e Carol Ribeiro.

Em conversa com Nossa, Liliana relembra como a brasileira não se encaixava nos moldes da profissão no início da carreira: "muito magra e novinha", o que não ia de encontro às modelos que bombavam nas passarelas, como Naomi Campbell e Cindy Crawford.

Naomi Campbell - Getty Images - Getty Images
Naomi Campbell
Imagem: Getty Images

Cindy Crawford - Getty Images - Getty Images
Cindy Crawford
Imagem: Getty Images

"Gisele persistiu e foi formada para ser uma top, mas demorou dois anos para que ela 'acontecesse' de fato".

O tempo passou e os padrões mudaram — ou melhor, vêm sendo (lentamente) rompidos. É desse pressuposto, baseado na diversidade, que o The Look of The Year 2020 busca seus novos talentos para o chamado "novo normal".

The Look of the Year 2020 - Divulgação - Divulgação
The Look of the Year 2020
Imagem: Divulgação

Esse ano, o evento, que desde 2013 é realizado pela JOY Model no Brasil, faz sua versão totalmente digital em busca das novas modelos que terão como suas ancestrais na carreira nomes como Gisele, Laís Ribeiro e Raica Oliveira.

"Hoje, a gente vive um tempo muito importante. Quando as brasileiras entraram na moda, não existiam mulheres latinas que faziam sucesso", acrescenta Liliana. "Quem fazia carreira eram as loiras, de olho azul, o padrão europeu. Negras e latinas não trabalhavam".

O concurso, em busca tanto de mulheres como homens com o sonho de se tornarem modelos, hoje dá espaço e se comunica com as portas abertas pelos movimentos de diversidade.

Nosso intuito é dar luz à diversidade: o que a beleza de 2020 traz?"

"A moda se abriu recentemente para maior diversidade nas medidas, tanto de peso como de altura, e nas questões de gênero. Abriu espaço também para meninas que têm potencial no Instagram e conseguem influenciar a opinião das pessoas com a personalidade. Estamos vivendo um novo momento".

O que acontece nos bastidores?

A única regra, como conta Liliana, é ser maior de 16 anos — por questões legislativas.

O The Look, internacionalmente dito, foi o primeiro grande concurso, ou "força-tarefa" para lançar novos nomes e colocá-los na mídia: "O termo super model surgiu junto com o The Look, assim como o hábito de se estrelar com nome e sobrenome", conta a agente, ao mesmo tempo em que narra a paixão por ter virado uma "fada madrinha" dessas jovens.

Gisele no The Look of the Year - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Gisele no The Look of the Year
Imagem: Arquivo Pessoal
Em 1994, a modelo fazia um dos seus primeiros desfiles - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Em 1994, a modelo fazia um dos seus primeiros desfiles
Imagem: Arquivo Pessoal

Para tentar realizar esse sonho, há três caminhos: inscrição na internet, caça-talentos e agências filiadas à JOY Model no Brasil. As entrevistas, muitas vezes feita pela internet, que sucedem esses "achados", são uma forma de encontrar jovens que moram longe das capitais e não têm condições financeiras para todo o trâmite.

"Em casa, a menina já ganha orientações sobre unhas, cabelo, entre outras coisas", conta a agente. "Quando chega em São Paulo, ela é preparada para a escola, para que continue a formação, aprende a fotografar e a desfilar, embora seja melhor que elas desenvolvam isso naturalmente".

A agência ainda paga pela estadia da jovem modelo no começo da carreira e oferece o apoio de um psicólogo para "acompanhar as mudanças e a adaptação".

A lista não é curta: cidade nova, familiares distantes, novos amigos e uma vida agitada entre castings, fotografias e desfiles.

Liliana Gomes - Marcio Amaral - Marcio Amaral
A empresária Liliana Gomes
Imagem: Marcio Amaral

"A gente começa a fazer trabalho individual, procurando onde elas podem se encaixar dentro do que o mercado está procurando", cita.

"Tem também uma transformação de visual com cabelo, pele, sobrancelha, entre outras coisas. No entanto, hoje em dia, é muito a beleza pela beleza. Ou seja, faz ajustes, mas o mais natural possível. É ensinar o que elas têm de potencial, e não inventar o que elas não têm".

Liliana desmente ainda a lenda de que é preciso começar muito nova na carreira: "Agora, nós acompanhamos desde o momento em que a achamos. Isso de 'começar cedo' existia pois, antes, ao encontrar uma menina, ela já tinha machucado a pele e não cuidava dela, por exemplo. Não conseguíamos trazê-la e transformá-la numa top".

Mas, na maioria das vezes, não são as colegas "populares" que ocupam esses lugares, mas aquelas "desajustadas do ambiente em que estão".

"É a história do patinho feio. Normalmente, ela tem características lindas para moda, mas a sociedade não vê isso. É normal do adolescente ser inseguro com a beleza".

Por fim, a fórmula correta, segundo Liliana, não existe. Existem sorte, empenho e a "beleza que a sociedade quer enxergar naquele momento".

"Personalidade é o que a gente busca. É o algo a mais que faz dela não apenas uma pessoa bonita, mas alguém que ninguém quer tirar os olhos. É isso que faz uma top model".