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O amor vence a pandemia: estrangeiras voltam ao Brasil para rever namorados

angelica e o namorado - Arquivo pessoal
angelica e o namorado Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

09/09/2020 04h00Atualizada em 09/09/2020 19h18

O Brasil reabriu grande parte de suas fronteiras aéreas para turistas estrangeiros no último mês de julho, após restringir a chegada de viajantes internacionais ao país por causa da pandemia.

Desde então, pessoas de diversos lugares do globo resolveram voar para o território verde e amarelo — mesmo com a mídia do mundo inteiro noticiando os altos níveis de contágio e morte pela covid-19 por aqui.

É o caso da italiana Angelica Tomassini, de 25 anos, e da francesa Eugénie Tabi, de 37, que, nas últimas semanas, tomaram a decisão de vir ao Brasil por um motivo importante: as duas têm namorados brasileiros, estavam separadas deles desde o início da pandemia e queriam vê-los após meses de distância física.

Angelica conheceu o barbeiro Adson Santana de Araújo, que vive na Praia do Forte, em 2019, enquanto realizava um trabalho voluntário com uma comunidade de pescadores do Nordeste.

angelica - estrangeiras - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Angelica fotografando moradoras na comunidade no Ceará onde fez trabalho voluntário
Imagem: Arquivo pessoal

"Voltei para a Itália em fevereiro deste ano e, em abril, planejava retornar ao Brasil para reencontrar meu namorado", conta ela.

De repente, ficou impossível realizar esta viagem internacional. Foi um pesadelo. Caí em uma depressão total pelo fato de não poder voltar"

Nos meses seguintes ao início da pandemia, chegaram a Angelica muitas notícias negativas do Brasil. "Li que a situação da pandemia por aqui era drástica. Os jornais italianos divulgavam que o Brasil era o segundo país do mundo mais afetado pelo coronavírus, depois dos Estados Unidos", relata.

Mesmo assim, ela decidiu regressar ao território brasileiro neste mês de agosto. "Minha mãe ficou preocupada ao saber que eu faria uma viagem internacional no meio da pandemia", conta.

No início, minha família e meus amigos não queriam que eu embarcasse. Mas eles entenderam que eu precisava voltar"

Ela desembarcou no Brasil recentemente e, desde então, está com Adson na Praia do Forte. "Tenho ficado quase sempre em casa, mas, por duas vezes, já fui à praia. Mas está tudo muito vazio".

E ela vê este relacionamento como um compromisso de longo prazo. "Estou muito feliz por reencontrar meu namorado depois de quase sete meses. Amo o Brasil e, antes de voltar à Europa, pretendo ficar aqui por um bom tempo", conta.

Trabalho no interior do Ceará

O relacionamento amoroso com Adson, porém, não é o único fator que motivou o retorno de Angelica ao país. Ela conta que pretende dar seguimento ao voluntariado no Nordeste.

angelica com pescadoras - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Angelica (à esquerda) com pescadoras no interior do Ceará
Imagem: Arquivo pessoal

Antes de retornar à Itália, em fevereiro deste ano, ela participava de um projeto que visa trazer soluções econômicas e capacitação para pescadores da região da cidade de Crateús, no interior do Ceará — uma região onde estes trabalhadores sofrem com grandes períodos de seca.

A italiana quer retomar esta labuta neste mês de setembro, mas acha que sua relação com os pescadores pode mudar por causa da pandemia.

"A partir de agora, teremos que evitar muito contato físico com as pessoas. E isso é uma pena, pois os moradores daquela região são muito calorosos e adoram nos abraçar. Tomara que eles não fiquem chateados com o distanciamento que possivelmente teremos que adotar", diz.

E, logicamente, depois de chegar a Crateús, está nos planos de Angelica voar para a Bahia frequentemente. "A ideia é que eu sempre venha ver meu namorado", conta.

Contra o distanciamento imposto

eugenie e namorado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eugénie conheceu o namorado brasileiro em uma viagem que ele fez à Europa
Imagem: Arquivo pessoal

A francesa Eugénie Tabi conheceu seu namorado brasileiro, o tradutor Alex Duarte, em abril de 2019, enquanto ele realizava uma viagem pela Europa.

"Começamos um relacionamento à distância e, desde então, nos visitávamos frequentemente. Uma hora, eu ia para o Brasil e, na outra, ele vinha para a França", explica. "Mas, com o início da pandemia, ficamos sem nos ver desde o começo de março, após eu ir ao Brasil para o Carnaval".

Com a reabertura das fronteiras aéreas brasileiras para turistas internacionais, Eugénie decidiu que havia chegado a hora de um reencontro.

Fiquei mais de cinco meses sem ver meu namorado. E chega um momento em que você não leva mais a pandemia em consideração. Você só quer ver a pessoa que ama"

Com a impossibilidade de Alex entrar na França (por causa da atual proibição de ingresso de brasileiros na União Europeia), ela comprou uma passagem aérea para São Paulo, onde ele vive, e chegou por aqui há algumas semanas: o casal, então, fez uma viagem para Ilhabela, no litoral norte do Estado paulista.

eugenie e o namorado em ilhabela - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Eugénie com o namorado em Ilhabela: reencontrou um Brasil diferente
Imagem: Arquivo pessoal

Eugénie conta que não teve medo de fazer esta jornada. A francesa também relata que encontrou um Brasil mudado pelo coronavírus. "Em Ilhabela, havia muitos restaurantes fechados. E, em São Paulo, senti falta de ver música ao vivo. Na última vez que eu vim para cá era Carnaval, mas, agora, não havia nenhum show para curtir. Foi muito triste".

Ela regressou à França no final de agosto e, ao pousar no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, recebeu a notícia das autoridades locais de que teria que fazer uma quarentena de 14 dias em sua casa, pois estava vindo de um país que é considerado de alto risco para contágio por coronavírus.

Para Eugénie, entretanto, todo o esforço para rever seu parceiro valeu a pena. "Se o Alex não puder vir para a França antes, quero regressar para o Brasil em dezembro", planeja.