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Jacquin ataca projeto de mesas nas ruas em SP: "Concurso de beleza"

O projeto Ocupa Rua na General Jardim, centro de São Paulo - METRO ARQUITETOS
O projeto Ocupa Rua na General Jardim, centro de São Paulo Imagem: METRO ARQUITETOS

Gabrielli Menezes

De Nossa

06/08/2020 10h25

O chef Erick Jacquin, um dos jurados do reality culinário "MasterChef Brasil", publicou em suas redes sociais uma série de desabafos na última semana.

Após ser notificado por funcionários da prefeitura de São Paulo sobre o uso indevido da calçada (duas mesas instaladas em frente ao restaurante Président, nos Jardins), o chef partiu para as críticas.

Não é o meu estilo reclamar publicamente, mas tem momentos que devemos falar e denunciar. Faz tempo que reclamo com o prefeito e com o governador sobre abrir as calçadas", explica Jacquin em entrevista ao Nossa.

Um de seus alvos é o projeto chamado Ocupa Rua, aprovado nesta quarta (5) pelo prefeito Bruno Covas. A iniciativa criada pela jornalista Alexandra Forbes em conjunto com Jefferson e Janaína Rueda, de A Casa do Porco Bar e do Bar da Dona Onça, e a Metro Arquitetos, de Gustavo Cedroni e Martin Corullon, visa a ocupação organizada das calçadas e de parte da rua.

A ideia é que bares e restaurantes consigam lugares extras para receber clientes ao ar livre e para equilibrar a perda de cadeiras no salão, imposta pela reabertura durante a pandemia de covid-19.

O projeto Ocupa Rua na Bento Freitas, centro de São Paulo - METRO ARQUITETOS - METRO ARQUITETOS
O projeto Ocupa Rua na Bento Freitas, centro de São Paulo
Imagem: METRO ARQUITETOS

O plano piloto, porém, será aplicado primeiramente no centro, nas ruas Major Sertório, General Jardim, Bento Freitas e Araújo, onde encontram-se 32 estabelecimentos, entre eles A Casa do Porco Bar e a hamburgueria Z Deli. "Isso é egoísmo. Tem que ser para todo mundo ou para ninguém", lamenta Jacquin em um dos vídeos.

Chamada de socialite pelo cozinheiro, Alexandra Forbes conta ao Nossa que não só comentou na postagem como ainda tentou ligar para o chef para explicar o projeto.

Ele desligou na minha cara. Eu não acredito em rebater porrada com porrada. A gente está numa fase complicada. Não é hora de brigar".

Segundo ela, os dois critérios utilizados para definir a área-teste foram a baixa proporção de moradores para estabelecimentos comerciais e o trânsito. "Nos Jardins, por exemplo, os moradores ficariam furiosos por questões de ruídos, por não ter vaga para estacionar. Já na quadra da General Jardim tem zero prédios residenciais", explica.

A polêmica decisão

Em coletiva de imprensa realizada nesta quarta, o prefeito anunciou a autorização para o início do projeto. "Aqui [na cidade] nunca foi proibido o uso de mesas ao ar livre em varandas e quintais. (...) A proibição é em relação às mesas nas calçadas e é exatamente por isso que vamos lançar um projeto-piloto", diz.

Ele afirma que a decisão pelo caminho foi baseada numa questão cultural. "O paulistano é sem sombra de dúvidas um povo que gosta de confraternizar e estar junto. É difícil o controle do distanciamento social quando autorizamos o uso das calçadas", entende.

De acordo com Covas, o projeto-piloto vai permitir que a prefeitura teste e estabeleça regras visando o compartilhamento do espaço. "Vamos destinar as áreas de estacionamentos de carros para que esses estabelecimentos possam, através de parklets ou outros equipamentos, construir espaços para colocar as mesas".

O projeto Ocupa Rua na Major Sertório, centro de São Paulo, que abriga restaurantes como La Guapa - METRO ARQUITETOS - METRO ARQUITETOS
O projeto Ocupa Rua na Major Sertório, centro de São Paulo, que abriga restaurantes como La Guapa
Imagem: METRO ARQUITETOS

Iniciativa privada

Uma das questões apontadas por Jacquin foi a preferência por uma ação privada, a qual conta o investimento tanto de empresas como Diageo (dona de marcas como Smirnoff e Johnnie Walker), quanto de pessoas físicas.

Eu acho esse projeto lindo e maravilhoso, mas também acho que não está na hora de fazer um concurso de beleza pela cidade.

Se a prefeitura quer fazer um piloto, poderia sortear dez restaurantes e eles abrem a calçada", contesta o chef, que chegou a sugerir boicotes aos patrocinadoras do Ocupa Rua em seus vídeos no Instagram.

Por outro lado, o caráter privado da iniciativa foi destaque no discurso do prefeito. "O único recurso público envolvido é a isenção da cobrança de TPU [Termo de Permissão de Uso]. Até porque, a qualquer momento, não dando certo, vamos desautorizar o uso desses espaços", disse Covas em coletiva.

"Até que se tenha regras claras e que a gente dê a garantia de que com o pagamento do TPU eles vão poder usar aquilo por 12 meses, nós não vamos cobrar. Eles estão sabendo do risco que correm de fazer o investimento e, eventualmente, daqui alguns dias a vigilância sanitária entender que não deu certo e que é preciso retroceder. Da mesma forma que, se der certo, vamos poder ampliar esse tipo e esse exemplo para toda a cidade de São Paulo", garante o prefeito.