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Vinícolas reabrem com mais experiências ao ar livre e degustações online

Degustações ao ar livre, online ou passeios com garantia de distanciamento social têm sido as soluções para vinícolas no pós-pandemia Imagem: Getty Images

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa, de Porto (Portugal)

15/07/2020 04h00

Do wine bar totalmente recoberto por janelas de vidro, é possível enxergar o Douro, o rio que corta Portugal e Espanha e delimita uma das regiões vinícolas mais famosas — e acachapantes — do mundo, reconhecida como Patrimônio Mundial pela Unesco.

Sobre a mesa, oito taças de cristal são colocadas à minha frente para o começo de uma prova de vinhos na Quinta do Ventozelo. A vinícola, que reabriu suas instalações em junho, tem reservas para outubro nos seus 29 quartos (dos quais, só são usados 22, em esquema de revezamento, com quarentenas de 24h), e degustações já programadas para as próximas semanas.

A resposta dos turistas, principalmente portugueses, foi mais rápida que o esperado. Mas é uma excelente notícia para quem teve que encerrar as atividades no início de março, com a disseminação da pandemia.

Passeio pela Quinta do Ventozelo, em Portugal Imagem: Luis Ferraz

O setor de enoturismo foi um dos mais afetados no mundo todo: ao mesmo tempo, as vinícolas perderam não só os hóspedes, mas também os visitantes dispostos a conhecer os processos de produção da bebida, fazer degustações e voltar para casa com algumas garrafas na sacola.

Da vindimia às provas

Mas agora muitas tentam se adaptar ao novo momento e criar novidades para atrair os fãs de vinho. "Na Ventozelo, as provas agora precisam ser agendadas com antecedência e a maioria delas acontece no terraço do restaurante, uma área bem ventilada", explica Rita Ferreira, responsável pelas provas. No wine bar, apenas co-habitantes ou pequenos grupos.

As visitas à adega, onde são produzidos os vinhos da quinta, e ao Centro Interpretativo, uma espécie de museu interativo que apresenta com sons e vídeos as características do terroir local, foram reduzidas a grupos de 8 por vez. Um aplicativo também foi criado para que os visitantes possam usar seus celulares para as visitas audioguiadas (sem precisar de equipamentos emprestados).

Até mesmo uma das maiores atrações da vinícola teve que ser adaptado: durante as próximas vindimias, em setembro, é preciso de muita antecedência para agendar a colheita de uvas e a pisa nos lagares. Há menos vagas disponíveis para dar conta do distanciamento físico.

A Ventozelo, em Portugal, disponibiliza degustações online Imagem: Reprodução/Instagram
O desafio da Ventozelo, em Portugal, agora é atrair seus clientes novamente Imagem: Divulgação

Degustação online

Para quem prefere ter a experiência em casa, a Ventozelo também disponibiliza provas online: os vinhos são enviados para a casa da pessoa e um sommelier comanda a prova através de uma vídeo-chamada.

"Criamos a experiência para os meses de quarentena, mas continuamos a oferecer porque há algumas pessoas que preferem não sair ainda", explica Rita.

Em casa, junto às garrafas, os clientes recebem também um voucher para visitar gratuitamente a vinícola no futuro quando desejarem.

A experiência que podemos oferecer pessoalmente é muito diferente e queremos que as pessoas tenham a chance de virem nos conhecer", completa.

Criar atrativos para os clientes tem sido o grande desafio: in loco, eles compram mais rótulos, comem nos restaurantes e ainda podem querer estender uma ou mais noites.

Pesa em favor das vinícolas, especialmente agora, o fato de oferecerem ambientes abertos para visitas além de um contato mais próximo com a natureza, algo que as pessoas estão buscando cada vez mais.

Áreas externas

Na vinícola Pacina, em Castelnuovo Berardenga, na Toscana, as caminhadas entre as vinhas cultivadas em método orgânico sempre foram uma das programações preferidas dos visitantes do agroturismo. Elas sempre acabam com uma passada na adega, para ver a produção dos vinhos que vão parar na garrafa.

Vinícola Pacina, em Castelnuovo Berardenga, Itália Imagem: Divulgação

"Lá fora, não é um problema, andamos ao ar livre e mantemos as distâncias. Mas na adega, se for um grupo grande, temos que dividir as pessoas e revezar-se, para evitar aglomerações. Mas nada muito complicado", explica Giovana Tiezzi, uma das proprietárias.

As degustações de vinho acontecem em áreas externas ou em um dossel de pedras toscano tradicional, onde ela garante que há muito ar circulando.

Barris da vinícola Pacina, em Castelnuovo Berardenga, Itália Imagem: Divulgação

"É como estar do lado de fora, mas com uma cobertura", explica. Giovana conta que lentamente mais e mais pessoas estão aparecendo para as visitas e provas.

Estamos todos começando a retomar um pouco da nossa vida cotidiana após meses de quarentena. A situação na Itália foi difícil, mas com cuidados e precauções, podemos continuar fazendo as coisas que adoramos, como provar vinhos", diz.

Para evitar contatos, algumas vinícolas estão adotando medidas ainda mais restritivas, como a obrigação de pagamento on-line antecipado das provas e a colocação de garrafas previamente abertas na frente de cada participante, para evitar que outras pessoas precisem tocá-las (o mesmo vale para as taças).

A Flowers Vineyard, em Sonoma, na Califórnia, diz que essas foram algumas das saídas encontradas para oferecer experiências de baixo contato mas que ainda seja significativas. "Poder se servir sozinho dá mais segurança ao cliente", disse a gerente geral Stephanie Peachey ao "The New York Times".

Na Serra Gaúcha, uma das principais regiões de vinho brasileiras, pela classificação do governo local, os hotéis e pousadas dentro das vinícolas podem funcionar somente com até metade da ocupação. Os grupos nas degustações e visitas também foram reduzidos, alguns drasticamente.

Bike tours, como o da Casa Perini, propõe conhecimento sobre vinhos em um ambiente protegido da covid Imagem: Reprodução/Instagram

Para diminuir o contato entre as pessoas, a Casa Pierini, em Farroupilha, intensificou passeios mais exclusivos, como o bike tour, que leva casais e grupos pequenos de bicicleta para conhecer o Vale Trentino e, ao final, provar alguns frios acompanhados de vinho — sempre respeitando as distâncias.

Estímulo ao setor

Vinícolas da Serra Gaúcha usam criatividade para voltar a atrair clientes Imagem: Reprodução/Instagram

Lançada no final de junho, a plataforma Wine Locals quer justamente ajudar a fomentar essas experiências de enoturismo até mesmo durante a pandemia.

"Antes mesmo disso tudo, a gente tinha resolvido investir nesse mercado, que está em crescendo e ainda é muito carente de conteúdo e serviços. Queremos ajudar as pessoas a encontrarem boas experiências ligadas ao vinho e as vinícolas a atraí-las", explica Diego Fabris, um dos fundadores.

A estratégia de lançamento em plena crise do coronavírus é justamente para ajudar na retomada do enoturismo. "Foi um setor muito afetado, já que as pessoas pararam de viajar. O objetivo é estimular o turismo local responsável, e as vinícolas e regiões de vinho são ótimas opções, porque são lugares abertos, sem aglomerações", diz.

Já há 20 vinícolas parceiras e mais de 50 experiências sendo comercializadas, além de conteúdos de mais de 200 estabelecimentos relacionados ao mundo do vinho na Serra Gaúcha, por onde a plataforma começou.

As próximas regiões são a Campanha Gaúcha, Santa Catarina, Sudeste e Nordeste. "Queremos englobar todas as regiões de produção do Brasil", acrescenta. "Aproveitamos que na Serra houve imposições mais leves dos serviços e já vendemos mais de 500 experiências, gerando mais de 50 mil reais", explica ele.

Fabris aposta que o turismo regional vai ser uma grande tendência por representar uma opção interessante de "escapada aos finais de semana".

Ter experiências mais personalizadas, estar em contato com o campo: tudo isso vai ganhar um novo sentido após a pandemia", ele diz.

E se tiver uma taça de um bom vinho nas mãos, ainda melhor.

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