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Conheça a bisavó autodidata que faz arte inspirada no folclore de Alagoas

Dona Vânia vestindo seu chapéu de Guerreiro, peça do folclore alagoano que pode pesar até 8 quilos - Ramatis Haywanon da Costa/Divulgação
Dona Vânia vestindo seu chapéu de Guerreiro, peça do folclore alagoano que pode pesar até 8 quilos
Imagem: Ramatis Haywanon da Costa/Divulgação

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

30/06/2020 04h00

Dona Vânia de Oliveira

Dona Vânia de Oliveira

QUEM É

Artista popular autodidata em Maceió, Alagoas. Produz chapéus de Guerreiro, bumba-meu-boi e itens da cultura popular alagoana

O dia de dona Vânia Oliveira, 63 anos, não deve ter as mesmas 24 horas que o de todos nós. Essa inquieta bisavó de três, avó de sete e mãe de quatro filhos em Maceió, Alagoas, faz render todos os minutos.

É uma lição de vida papear com ela. Sua arte tem cor, emoção, história e brilho próprios, que dão às tradições alagoanas a vibração merecida.

Tudo começou quando ela quis fazer a festa de aniversário de um ano da filha. "Casei com 17 anos para ficar mais independente. Antes, eu só queria saber de jogar basquete, na primeira seleção de Alagoas. Mas nesse dia, descobri que tinha habilidade para as artes. Comecei a fazer festas para ganhar dinheiro e trabalhei muito com isso. Foi uma vida corrida", conta.

Dona Vânia de Oliveira - feito a mao - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A cultura popular é a grande inspiração do trabalho de dona Vânia
Imagem: Arquivo pessoal
Certo dia, Vânia precisou se mudar e começou a trabalhar em uma escola, onde ensinava as professoras a fazer brinquedos com materiais reciclados. "Todas tinham nível superior, menos eu. Buscava mostrar que elas podiam ensinar usando o lúdico", conta.

O tempo passou e, num belo dia, sua irmã telefonou com uma surpresa: havia inscrito Vânia no vestibular para pedagogia. Depois de 35 anos sem estudar, imagine só? Ela passou! "Assim levei o artesanato para a sala de aula", diz ela. Agora ninguém segurava a mulher.

Sempre gostei de cultura popular. Quando tinha qualquer manifestação cultural, sempre estava lá. Isso despertou meu olhar para o artesanato"

Dona Vânia de Oliveira feito a mão - Reprodução/Agência Alagoas - Reprodução/Agência Alagoas
Cada peça que Vânia produz é original, nenhuma igual a outra: "Não gosto da mesmice"
Imagem: Reprodução/Agência Alagoas

Cultura popular

Inspirada nas danças folclóricas de seu estado, Vânia observava os mestres guerreiros fazerem as roupas. "Cada um deles tinha uma identidade própria. Logo, procurei materiais para fazer do meu jeito", conta.

A produção fez sucesso e vieram os incentivos das amigas. A artesã é tão cuidadosa que usa matéria-prima mais leve, a fim de que os clientes levem sua arte para fora do país. "Uso espuma ortopédica para fazer o boi e depois tecidos. Ninguém faz nada igual a ninguém. E eu repasso todo meu conhecimento para que as pessoas façam e ganhem dinheiro também."

Dona Vânia de Oliveira - feito a mão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Arte colorida e festiva é a marca-registrada da artesã
Imagem: Arquivo pessoal
Dona Vânia de Oliveira - feito a mão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O bumba-meu-boi inspira objetos de decoração e suvenires
Imagem: Arquivo pessoal

Patrimônio vivo de Alagoas

O chapéu de guerreiro mais difícil que saiu das mãos de dona Vânia tinha 90 centímetros de altura e levou mais de um mês para ser finalizado. "Geralmente, o de tamanho normal, que pesa de 8 a 10 quilos, sai em 8 dias. O meu fica mais leve, entre 3 a 5 quilos".

Dona Vânia de Oliveira - feito a mão - Itawi Albuquerque/Catálago do Artesanato Alagoano 2016 - Itawi Albuquerque/Catálago do Artesanato Alagoano 2016
No chapéu de guerreiro (aqui em formato de igreja), ela utiliza materiais mais leves para facilitar o uso
Imagem: Itawi Albuquerque/Catálago do Artesanato Alagoano 2016

Não é à toa que ela foi homenageada pelo estado como Mestra Patrimônio Vivo. "Amo ensinar as pessoas. Tenho uma paixão imensa pelo artesanato. Quando falo disso, sinto muito orgulho", diz ela, que é secretária da Confederação Nacional do Artesão (Conarp Brasil), vice-presidente da Federação Alagoana do Artesão e membro da IOV (Organização Internacional de Folclore e Arte Popular), além de artesã e professora no Centro de Belas Artes de Alagoas.

Estilo único

Mesmo ensinando sua arte e querendo multiplicá-la para as próximas gerações, dona Vânia jamais se repete — é isso que traz encantamento a quem a observa. "Não gosto da mesmice. Faço 50 chapéus de guerreiro, mas nenhum igual. Fiquei conhecida por eles."

Dona Vânia de Oliveira - feito a mão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Outro modelo dos chapéus de guerreiro, que renderam a fama à artesã
Imagem: Arquivo pessoal

Por mês, saem do ateliê incontáveis bumba-meu-boi, camisas de algodão, tiaras, broches, imãs de geladeira — sempre com tema da cultura popular. "Durmo pouco. Quando morrermos, aí sim poderemos dormir. Temos que aproveitar a vida acordados", ri a efusiva Vânia Oliveira. Uma lição de vida, não?

@ que me inspiram

@sil_capela

"Sil da Capela é uma mulher muito guerreira!"

@joaodasalagoas.capela.alagoas

"João das Alagoas faz seu repasse do mesmo jeito que faz suas peças: com simplicidade e amor pela arte."