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Buraco quente de picadinho é elo de tradição familiar e São João da Paraíba

O chef paraibano Carlos Ribeiro apresenta o buraco quente de picadinho, tradição da sua família - Keiny Andrade/UOL
O chef paraibano Carlos Ribeiro apresenta o buraco quente de picadinho, tradição da sua família
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Luciana Mastrorosa

Colaboração para Nossa

28/06/2020 04h00

Carlos Ribeiro é paraibano e lembra com muito carinho das diversas festas de São João que passou na infância e na adolescência.

Primeiro, em João Pessoa, quando sua mãe organizava os festejos para amigos e familiares. Depois, com o falecimento dela, as festas passaram a ser celebradas na pequena cidade de São Sebastião de Lagoa de Roça, para onde seu pai mudou-se.

Festeiro, ele adorava São João e fazia fogueiras imensas, comemorando a data desde a véspera, como ocorre no Natal. Até hoje, mesmo morando há anos na capital paulista, o chef se recorda da imensa afetividade presente nos festejos juninos de sua terra.

Buraco quente de picadinho - Keiny Andrade/UOL - Keiny Andrade/UOL
Buraco quente de picadinho
Imagem: Keiny Andrade/UOL

Das memórias de infância, Carlos, que comandou durante anos o restaurante Na Cozinha, em São Paulo, guarda o preparo do saboroso picadinho que sua mãe fazia, usado para rechear pão fresco, servido na festa. E dos doces momentos vividos em família, com muita música, dança e animação.

"São João era um evento para nós. A gente tinha roupa nova para usar, não era essa roupa de 'matuto', não, era roupa de festa. As comidas eram preparadas com muita antecedência.

Tinha aquela mesa bonita, a canjica bem dura, de cortar, pastel com carne e açúcar, e esse sanduíche recheado com o picadinho que minha mãe fazia na ponta da faca", conta o chef.

De tão empolgado com a quadrilha e a música, ele lembra que só parava para saborear as comidas no dia seguinte, quando se consumia o que tinha sobrado da festa.

Lanchinho virou prato de resistência

Carlos explica que, por lá, o lanche não tinha o nome de "buraco quente", como é conhecido em outros locais, como São Paulo. Mas já fazia um sucesso danado nos festejos, e era comida que rendia muito, dava para servir bastante gente.

Inclusive, esse picadinho acabou tornando-se, anos depois, o prato de resistência do Na Cozinha. Até hoje, mesmo com o restaurante fechado e em plena quarentena, o chef prepara a receita para vender por delivery. E, neste período junino, a sugestão é justamente comprar um pão francês bem fresco e recheá-lo com a carne preparada num molho suculento.

"Esse pão com picadinho, além de ter na festa junina, era comida de todos os aniversários, tipo a carne louca de São Paulo. Mamãe fazia com contra-filé ou coxão mole"

"Eu prefiro o coxão mole, porque tem menos gordura, e ajusto adicionando manteiga e azeite", ensina ele.

Na época, montava-se uma mesa farta e a mãe encomendava pães de tamanho pequeno, que eles chamavam de "pão de Santo Antonio".

"Eu adorava ir para essas festas, a gente enfeitava o jardim da casa, mesmo com a rua calçada, davámos um jeito de fazer a fogueira de São João. Uma vez, meu pai fez uma festa tão grande que acabou chamando a atenção da polícia", conta, rindo.

Para trazer um pouco desse gosto especial para a sua festa junina, o chef divide com Nossa sua receita de picadinho. "Dá para congelar, o sabor não perde em nada, pelo contrário. Fica ainda melhor", garante ele.