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Mais perto da natureza: 10 passarinhos para observar sem sair de casa

O bico de lacre é originário do sul da África e foi introduzido no país por dom Pedro 1º - Luiz Novaes/UOL
O bico de lacre é originário do sul da África e foi introduzido no país por dom Pedro 1º
Imagem: Luiz Novaes/UOL

Tereza Novaes

Colaboração para Nossa

24/05/2020 04h00

Em tempos de quarentena, não dá para reunir amigos e parentes em casa, mas uma visita ainda é permitida: a dos passarinhos. E você nem precisar se esforçar para ter a companhia deles na sua janela, varanda ou quintal.

Mesmo dentro de uma metrópole é possível observar aves — só em São Paulo, há 372 espécies catalogadas pela prefeitura. Além disso, estamos no outono, época propícia para atraí-las, já que a oferta de alimento e água diminuem na cidade.

Pequenos pedaços de frutas, sementes e água fresca bastam. "No meu caso funciona muito bem, para aves onívoras [que têm dieta variada] e frugívoras [que comem apenas frutas], colocar uma banana descascada pela metade ou um pedaço de mamão. Na minha sacada, que fica no oitavo andar, aparecem regularmente sanhaços, bem-te-vis, sabiás e periquitos", lista o professor José Carlos Motta-Junior, do Laboratório de Ecologia de Aves da USP.

Periquito rico - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Grupo de periquitos-ricos: muito "bate-papo" até durante as refeições
Imagem: Luiz Novaes/UOL
Quirera (milho moído), alpiste e sementes são algumas das opções oferecidas aos pássaros pela bióloga Karlla Barbosa, da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil, a Save. Os dois especialistas recomendam não oferecer nada industrializado.

Karlla lembra ainda que observar pássaros é uma atividade relaxante, que nos ajuda a reconectar com a natureza, e que o momento é propício para escutá-los melhor. "Há menos ruído, dá ouvir melhor as aves. O canto é a interação. Para conquistar a fêmea ou defender o território, eles dependem do canto. Todos os pássaros, até o beija-flor, fazem seu barulhinho particular."

Organizamos um pequeno guia das espécies mais comuns na capital paulista, com curiosidades e a melhor forma de vê-las bem de perto.

Periquito-rico

Periquito-rico - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
Formam grupos barulhentos e é justamente o canto que organiza o bando -- eles conversam muito inclusive durante as refeições. Endêmicos da Mata Atlântica, fazem parte da família dos Psittacidae. É a mesma dos papagaios, que inclui ainda o periquito-rei e o periquitão-maracanã, igualmente verdes e popularmente chamados de maritacas, também frequentadores dos céus da capital. Eles adoram frutas e não fazem cerimônia quando um banquete é servido.

Bem-te-vi

bem-te-vi - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
O canto facilmente reconhecível é característica marcante dessa espécie. A onomatopéia de três sílabas, que tornou o nome popular, pode ainda variar e ser bi ou monossilábica. Costuma voar só, mas pode se reunir em pequenos grupos. É muito fácil vê-los na cidade, na fiação elétrica ou em antenas, mas também no campo e perto do mar. Alimenta-se de insetos, frutas e gosta de água. Uma tigela pode ser uma boa forma de atraí-los.

Sabiá-laranjeira

sabiá laranjeira - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL

Considerada a ave símbolo de São Paulo (e para alguns do Brasil), a espécie é particularmente comum na capital e adaptou-se bem à vida urbana. "A 100 km da Grande SP, o sabiá mais comum não é o laranjeira, e sim o branco. Não sabemos muito bem a razão", conta a bióloga Karlla Barbosa. Assim como o bem-te-vi, gosta de um bom banho. É onívoro e come pequenos insetos e frutas, como banana e mamão.

Cambacica

cambacica - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
Mais solitária, ela se junta a outras de sua espécie quando há oferta de alimento, preferencialmente insetos e néctar. Na natureza, as cambacicas fazem um furinho na base da flor para sorvê-lo. Assim como os beija-flores, elas adoram a garrafinha de água com açúcar que, segundo os especialistas ouvidos pelo Nossa, está liberada. O único cuidado é lembrar de trocar o conteúdo com frequência para evitar proliferação de bactérias.

Beija-flor-tesoura

beija-flor tesoura - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
É o menor, o mais leve (pesa entre 6 e 11 gramas) e o mais briguento desta turma. Fica de olho no bebedouro e não deixa que outros pássaros, em especial a cambacica, e insetos, como a vespa, venham bebericar no que é seu.

De sua família, o beija-flor-tesoura foi o que melhor se adaptou à vida na cidade grande e praticamente reina soberano em São Paulo.

Rolinha

rolinha - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
Faz parte da família das columbiformes, a mesma das pombas domésticas, aquelas cinzas consideradas uma praga nas cidades. Na capital paulista, a rolinha mais comum é a roxa e, no interior do estado, a avoante. Os machos têm a cabeça um pouco mais clara --é a única espécie desta lista com alguma diferenciação física de gênero. Sementes são o prato favorito delas. Importante notar que esses alimentos e também as frutas não costumam ser atrativos para as pombas domésticas.

Sanhaço-cinzento

sanhaço - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL

Apesar de sua cor preponderante ser cinza, tem lindas penas azul turquesa nas asas. Em geral, vivem em casais ou grupos pequenos. A habilidade para fazer acrobacias aéreas lhe renderam a alcunha de dançarino, em tupi, que originou o nome científico, Tangara sayaca. Para tê-los por perto, basta deixar um pedacinho de fruta na janela. Com hábitos parecidos, o sanhaço-do-coqueiro também pode aparecer em SP, e se diferencia pela cor amarela das penas.

Gavião carijó

Gavião carijó - iStockphoto - iStockphoto
Imagem: iStockphoto
É o tipo mais comum nas cidades, vivem em casais e fazem ninhos em topos de prédios. Bastante oportunista, ele caça outras aves, roedores e insetos e pode passar dias no mesmo poleiro atrás de presas. Por sua natureza predadora, não vai a comedouros, mas pode ser visto voando em movimentos circulares ou sobre muros, árvores, fios e postes de iluminação. O falcão de coleira e o carcará são outras duas aves de rapina facilmente avistadas em São Paulo.

Bico de lacre

bico de lacre - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL
Único estrangeiro desta lista, ele é originário do sul da África e foi introduzido no país por dom Pedro 1º. O bico de lacre veio em companhia do capim gordura, usado para pastagem. Assim como pardal, ele se adaptou bem ao Brasil e vive muito bem por aqui. Prefere estar em grupo, onde tem mato, capim ou copa de árvore, e não costuma pousar em em comedouros, preferindo copas de árvores e terrenos baldios.

Corruíra

corruíra - Luiz Novaes/UOL - Luiz Novaes/UOL
Imagem: Luiz Novaes/UOL

Tem um canto muito melódico e é conhecido entre os biólogos como ratinho de asas, porque está sempre se escondendo em buraquinhos, correndo de um lado para o outro. São solitárias e só se unem em época de reprodução, quando constroem o ninho em buracos nas paredes. É também a principal inquilina de ninhos artificiais disponibilizados pelo homem. A corruíra não costuma frequentar comedouros, mas visita quintais.

Para saber mais

A prefeitura de São Paulo compilou em um guia, disponível em PDF, com as 97 espécies mais fáceis de serem avistadas. O professor José Carlos Motta-Junior recomenda ainda o livro "Aves da Grande São Paulo - Guia de Campo - 2ª Edição".