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Delivery, degustações e aulas online garantem happy hour da quarentena

Happy Hour agora tem telinha do smartphone como aliada na quarentena - Unsplash
Happy Hour agora tem telinha do smartphone como aliada na quarentena
Imagem: Unsplash

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa

05/04/2020 04h00

Com restaurantes e bares fechados ao redor do mundo todo e as pessoas em quarentena dentro de casa na tentativa de conter a disseminação do coronavírus, os brindes — e as razões para brindar — pareciam ameaçados.

Mas muitas lojas e distribuidoras de bebidas têm reportado um aumento das vendas durante esses dias de isolamento. Principalmente aquelas que possuem serviços de entregas em casa de garrafas de vinhos, cervejas e destilados.

É o caso da Ethylica, recém-lançada no mercado, que faz curadoria e distribuição essencialmente de bebidas brasileiras. A plataforma tinha como objetivo vender cachaças, licores e até rum nacionais para bares e restaurantes na primeira fase.

Alguns dos produtos do e-commerce Ethylica   - Divulgação - Divulgação
Alguns dos produtos do e-commerce Ethylica
Imagem: Divulgação

Com a crise da covid-19, os sócios tiveram que antecipar o e-commerce de vendas para clientes finais. E deu certo. "Estamos no ar há menos de duas semanas e embora não tenhamos histórico de vendas, ficamos impressionados com o interesse dos clientes", afirma Felipe Januzzi, um dos fundadores.

Ele diz que já sentia uma tendência de migração dos consumidores do bar para fazer coquetel em casa, algo que foi impulsionado pela necessidade do confinamento. "É um ótimo momento para gente vender, por exemplo, uma cachaça para fazer um coquetel como o rabo de galo. O repertório das pessoas, em geral, é limitado, o que faz a curiosidade ser muito grande", ele diz.

Por isso, Januzzi conta, os clientes pedem indicações, vídeos, receitas. "Podemos ter um tipo de interação que geralmente elas não têm em um bar, já que a internet possibilita essa troca maior".

Quem sabe faz... na live

Em busca dessa troca, a jornalista e bartender Néli Pereira passou a matar a saudade dos clientes que frequentam seu bar, o encantador Espaço Zebra, em São Paulo, através de transmissões que faz diariamente no seu perfil do Instagram.

Além de ensinar coquetéis, ela fala de suas pesquisas sobre infusões com raízes e ervas brasileiras, além de abordar assuntos mais mundanos como aproveitamento de ingredientes, consumo responsável, valorização dos produtos locais, sempre com a presença de convidados.

"Eu já vinha fazendo conteúdos digitais e lives, mas agora tenho mais tempo e conteúdo para informar, e as pessoas estão querendo essa conexão mais do que nunca", ela acredita.

As segundas, Néli fala sobre coquetéis não alcoólicos e sobre a importância da "temperança", palavra que indica moderação no consumo de bebidas, e às sextas, por exemplo, mostra como fazer coquetéis com poucos ingredientes. Todo domingo tem o 'Domingão do Balcão", como ela apelidou. "É um vídeo gravado, sobre um assunto surpresa, que vai de chorinho. É o único chorinho que eu dou", brinca.

O mais importante, segundo ela, é interagir com as pessoas, falar sobre tudo e sobre o mundo, enquanto as pessoas bebem. "A coquetelaria, e as receitas, são um pretexto para falar sobre tudo, como no balcão do bar".

Do balcão para casa

Drinque do Astor chega em casa com delivery - Divulgação - Divulgação
Drinque do Astor chega em casa com delivery
Imagem: Divulgação
Para não deixarem seus clientes longe de seus "balcões", muitos bares passaram também a fazer entrega de coquetéis prontos por delivery. O Astor incluiu cinco dos drinques clássicos que vende nas suas unidades em São Paulo e no Rio de Janeiro em uma carta especial para quem quer beber em casa.

Entre Old Fashioned, Negroni e Dry Martini, os coquetéis chegam engarrafados (e com o devido garnish, os elementos de decoração, a vácuo) em doses individuais, como são originalmente servidos, ou triplas, para serem divididas como em uma boa mesa de bar.

Juntos, mas separados

Na falta de companhia para compartilhar taças e copos, aliás, a internet também pode ser uma boa ferramenta de interação para esses tempos de distanciamento social. No Japão, criaram até uma nova expressão para designar o ato de se reunir com amigos para um tipo de happy hour virtual: On-nomi significa, literalmente, "beber online".

Utilizando plataformas de videoconferência, como FaceTime, Zoom ou o Houseparty, que virou febre no mundo todo, os japoneses entram cada um com sua bebida preferida para passar a noite conversando e se divertindo, sem riscos de infecção.

Em Portugal, a iniciativa Wine Hour at Home reúne enólogos e consagrados produtores de vinho de diferentes partes do mundo (da França à Espanha) duas vezes por semana para tomar vinho e, de quebra, compartilhar ideias e experiências sobre os rótulos e regiões.

Os seguidores podem comprar as garrafas com antecedência através de lojas online para prová-las em tempo real, como se estivessem na mesma mesa. É uma oportunidade de participar de degustações com os próprios produtores, que dificilmente seriam tão acessíveis de outra forma — ou em outros tempos.

#Quarantini

Desde que a quarentena foi estabelecida em diferentes partes do mundo, aliás, muitas pessoas começaram a compartilhar seus momentos solitários de apreciação etílica nas redes sociais, quebrando o estigma negativo que beber sozinho costuma ter (depressão, dor de cotovelo, forma de alcoolismo).

Beber e fica em casa é possível graças à tecnologia - Unsplash - Unsplash
Beber e fica em casa é possível graças à tecnologia
Imagem: Unsplash
A hashtag #quarantini foi criada para reunir os bebedores solos como um emblema unificador para beber na frente do computador, assistindo Netflix ou o que quer que seja. Em alusão à ideia de se poder tomar um Martini (ou qualquer outro coquetel ou bebida) em períodos de confinamento sem qualquer tipo de constrangimento, a hashtag já tem mais de 27 mil publicações só no Instagram.

É uma forma de mostrar que, mesmo confinados sem o fator de compartilhamento social que sempre esteve atrelado ao ato de se reunir para beber, não é preciso se sentir mal por abrir uma garrafa de vinho ou preparar um coquetel para si mesmo.

O controverso tema, aliás, foi parar até na coluna do crítico de vinhos do "The New York Times", Eric Asimov, para quem esses prazeres não devam ser perdidos durante os difíceis tempos de reclusão. Até pelo contrário. "Vamos aproveitar e brindar, mesmo de longe, o dia em que todos possamos nos reunir novamente", ele diz. Saúde!