Topo

Home office derruba consumo de café no mundo inteiro

Trabalhador seleciona café após colheita em Alfenas (MG) - Paulo Whitaker
Trabalhador seleciona café após colheita em Alfenas (MG) Imagem: Paulo Whitaker

Marvin G. Perez, Manisha Jha e Fabiana Batista

Da Bloomberg

13/07/2020 14h05

Com tanta gente em home office, o ritual diário de passar em algum lugar para tomar um cafezinho ficou no passado. A quantidade de café preparada em casa não compensa esse tombo na demanda.

O consumo global de café deve sofrer a primeira queda anual desde 2011, segundo a previsão do Departamento de Agricultura dos EUA. Isso apesar do grande aumento na compra do produto nos supermercados para estocar a despensa. O fechamento de restaurantes e cafeterias — que normalmente representam cerca de 25% da demanda — foi devastador e pode demorar até haver uma normalização.

A cultura do café está desaparecendo em todas as principais regiões do planeta. A firma de pesquisas Marex Spectron estima que, globalmente, mais de 95% do mercado de café para consumo fora do domicílio foi fechado em algum momento durante a pandemia. É mais um aspecto cruel do coronavírus, que já tirou tanto das pessoas que não sobrou nem o simples prazer de tomar a bebida tranquilamente numa cafeteria.

Em Londres, as restrições estão sendo flexibilizadas, mas a maioria das 10 lojas da rede de cafés Notes, preferida por profissionais de escritórios, permanece fechada.

"Será um retorno lento e atribulado para nós porque muitos dos escritórios em Londres não voltarão a funcionar até depois do verão e alguns podem reabrir apenas no ano que vem", disse o cofundador Robert Robinson.

As economias estão reabrindo, mas os consumidores mostram receio de voltar a frequentar restaurantes e cafeterias. Estabelecimentos que dependem de clientes que passam no local de manhã ou fazem uma pausa durante a tarde foram especialmente atingidos. Durante a pandemia, a Dunkin' Brands Group perdeu boa parte da clientela que compra o desjejum em suas lojas, enquanto a Starbucks está reformulando seu modelo, lançando um formato de entrega, sem as mesas e cadeiras que tornavam suas lojas um ponto de encontro.

"Se você quiser tomar um cappuccino, fazer o pedido online não satisfaz, pois o café tem tudo a ver com o aspecto social", acrescentou Robinson.

Uma recuperação atribulada da demanda pode atingir duramente as 125 milhões de pessoas que dependem da cafeicultura para sobreviver no mundo todo. Os produtores já estavam lutando durante a crise financeira, depois que anos de colheitas abundantes desencadearam um longo período de desvalorização nesse mercado. O Citigroup prevê queda de aproximadamente 10% para os contratos futuros de café arábica no segundo semestre para 90 centavos de dólar por libra-peso, valor próximo ao custo do produto.

Enquanto isso, a Organização Internacional do Café alertou sobre os perigos do trabalho infantil nas regiões produtoras à medida que a pobreza aumenta entre a população rural.

No Brasil, a rede Suplicy Cafés Especiais, uma das maiores do país, foi forçada a adiar pagamentos por lotes que já haviam sido entregues pelos agricultores. Novas encomendas estão sendo feitas na medida da demanda, disse o CEO Felipe Braga em entrevista por telefone.

A rede Suplicy opera 25 lojas e a grande maioria está fechada desde meados de março por causa da covid-19. Algumas reabriram com a flexibilização do distanciamento social, mas foram fechadas novamente por falta de clientes.

"Alguns de nossos parceiros de franquia já nos avisaram que vão fechar permanentemente", disse Braga.