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Cem patrimônios ucranianos foram danificados pela guerra, alerta Unesco

Um soldado russo sobe escadas no teatro de drama de Mariupol em 12 de abril. O local foi atingido em 16 de março por um ataque aéreo - Alexander Nemenov/AFP
Um soldado russo sobe escadas no teatro de drama de Mariupol em 12 de abril. O local foi atingido em 16 de março por um ataque aéreo Imagem: Alexander Nemenov/AFP

da AFP, em Paris

14/04/2022 13h30

A marca simbólica de 100 patrimônios ucranianos danificados ou totalmente destruídos pela ofensiva militar russa está prestes a ser superada, alertou nesta quarta-feira (13) o diretor do Centro do Patrimônio Mundial da Unesco em entrevista à AFP.

Como signatários da Convenção de Haia de 1954, Ucrânia e Rússia têm a obrigação de proteger o patrimônio cultural em caso de conflito armado, destaca o camaronês Lazare Eloundou Assomo, lembrando que a "destruição deliberada de locais marcados com o emblema azul" da convenção pode ser considerada um crime de guerra.

P: Qual balanço pode ser feito em 13 de abril?

R: "A barreira simbólica de 100 patrimônios danificados ou totalmente destruídos será superada na quinta ou sexta-feira. Hoje de manhã estávamos com 98 lugares ou monumentos registrados em oito regiões do país.

Entre esses lugares há monumentos históricos, alguns que datam do século 11, 12 e outros da arquitetura da época soviética do início do século 20.

Há também igrejas, catedrais — com objetos litúrgicos únicos —, teatros — como o de Mariupol —, bibliotecas e prédios de arquivo. São todos monumentos construídos para a glória da história da Ucrânia.

O balanço poderia aumentar ainda mais, já que há cidades que começam a se tornar acessíveis e onde os danos se mostram muito mais graves do que se acreditava. Há outros lugares onde os combates estão se intensificando ou se intensificarão nos próximos dias. Estamos muito preocupados. É dramático, é toda uma história, toda uma identidade, que é afetada por essas destruições.

Alguns desses lugares e monumentos levarão tempo para serem reconstruídos e outros provavelmente nunca serão."

Imagem de satélite mostra o Teatro de Drama Mariupol antes do bombardeio, com a palavra "crianças" em russo escrita em grandes letras brancas na calçada, na frente e atrás do prédio, em Mariupol, Ucrânia, 14 de março de 2022 - Maxar Technologies/via Reuters - Maxar Technologies/via Reuters
Imagem de satélite mostra o Teatro de Drama Mariupol antes do bombardeio, com a palavra "crianças" em russo escrita em grandes letras brancas na calçada, na frente e atrás do prédio, em Mariupol, Ucrânia, 14 de março de 2022
Imagem: Maxar Technologies/via Reuters

P: A guerra continua e algumas áreas permanecem inacessíveis. Como é feito o censo dos lugares?

R: "Recebemos notícias das autoridades ucranianas, cruzamos com informações que recebemos de profissionais do patrimônio e com a imprensa local.

Também estamos associados ao Unitar Unosat, o Centro de Satélites das Nações Unidas, que nos permite obter fotografias.

Com a transposição de toda esta informação, confirmamos o estado de degradação dos locais em questão. No entanto, a melhor verificação de danos é, sem dúvida, no terreno.

Quanto aos sete Patrimônios da Humanidade da Unesco, eles não foram danificados até agora, de acordo com as informações que temos."

O Teatro de Drama de Mariupol antes dos bombardeiros, visto em foto de 2021 - Oleksandr Malyon/Creative Commons - Oleksandr Malyon/Creative Commons
O Teatro de Drama de Mariupol antes dos bombardeiros, visto em foto de 2021
Imagem: Oleksandr Malyon/Creative Commons

P: Quais medidas foram adotadas para prevenir a destruição e os bombardeios?

R: "Estamos em contato próximo com profissionais ucranianos que se arriscam todos os dias para proteger sua história e patrimônio. Fornecemos assessoria técnica e equipamentos adequados para prevenir incêndios e evitar bombardeios.

Em uma situação de guerra, pode surgir o tráfico de obras de arte, razão pela qual a Unesco pediu aos países, especialmente os fronteiriços, que estejam muito atentos à possível presença de objetos culturais que possam vir da Ucrânia.

Estamos trabalhando com a Interpol e nossos parceiros para evitar isso.

Por outro lado, tanto Ucrânia como Rússia assinaram a Convenção de Haia de 1954 e têm a obrigação de proteger o patrimônio cultural em caso de conflito armado.

Esta convenção prevê que, em caso de hostilidades, os edifícios marcados com o emblema da convenção de 1954 — um escudo azul — não podem ser alvo intencional ou vítimas colaterais de combate ou bombardeios.

É uma violação do direito internacional e pode ser considerado um crime de guerra. É por isso que encorajamos e estamos ajudando as autoridades ucranianas a colocar essa marca. Na verdade, já começamos a fazê-lo em Kiev."